Correio da Cidadania

Onde estava a esquerda em Bagé e Passo Fundo?

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Onde estavam o PCB, PSTU, PSOL e demais movimentos que se reclamam da esquerda classista ou socialista quando um punhado de ruralistas, bolsonarianos e direitistas variados mobilizaram-se fisicamente contra a “Caravana Lula pelo Brasil”, em Bagé, RS, na segunda-feira, 19 de março de 2018, e impediram que Lula da Silva se apresentasse em Passo Fundo, na sexta-feira, 23? A mobilização direitista contra o direito de manifestação, sobretudo em Passo Fundo, era de conhecimento universal. Impunha-se a mobilização maciça da militância de esquerda, de sindicalistas, de estudantes e de trabalhadores para barrar a pretensão da escória fascista de impor a lei do silêncio à esquerda e aos trabalhadores.

A ofensiva direitista contra o direito de expressão golpeou Lula da Silva, tido pela população do país como o principal líder da esquerda brasileira. Hoje é contra o PT, amanhã, contra qualquer expressão pública progressista. Nesse contexto, pouco importa que a “Caravana Lula pelo Brasil” faça parte também da campanha eleitoral petista e não apenas da mobilização contra a condenação e prisão do ex-presidente. Ex-presidente e partido indiscutivelmente com enorme carga de responsabilidade pelo descalabro atual político e social do país. A luta é em defesa do direito de manifestação do mundo do trabalho e da sociedade em geral.

Com o impeachement de 2016, visava-se essencialmente golpear os direitos sociais, sindicais e políticos dos trabalhadores e da população brasileira. A deposição de Dilma Rousseff, enredada em sua administração social-liberal, era apenas momento necessário de estratégia golpista de longo fôlego. Em Bagé e Passo Fundo, procurou-se impor a lei do silêncio à esquerda e ao mundo do trabalho com a mobilização nas ruas de tropas minguadas de direitistas. Também ali, o senhor Lula da Silva serviu apenas como instrumento de movimento que vai se estender através do país.

A esquerda que se reivindica classista ou socialista não pode enredar-se no sectarismo e no eleitoralismo. Não pode deixar de enfrentar as mobilizações direitistas nas ruas e estradas, sob a escusa de não querer lançar água ao moinho do lulopetismo. Petismo e PT justamente acusados por manterem a tradicional trajetória colaboracionista e liquidacionista. Orientação que não podem corrigir, pois ela já faz parte de suas naturezas sociais e políticas profundas. E é precisamente por isso que a resposta antifascista jamais será organizada pelo petismo. No máximo, pedirá a proteção da polícia e da Justiça.

Os exemplos históricos do sectarismo são demasiadamente dolorosos para serem esquecidos. Em inícios dos anos 1920, sob a direção esquerdista de Amadeo Bordiga, o Partido Comunista Italiano proibiu os militantes de marcharem com os socialistas e anarquistas nas batalhas de rua e participarem das barricadas antifascistas. Porém, eles foram vitoriosos quando desobedeceram à direção e juntaram-se à frente antifascista, como sugerido pela Internacional Comunista.

Na Emilia Romana, socialistas e anarquistas formaram as “Tropas de assalto do povo” e derrotaram o ataque fascista à gloriosa cidade de  Parma. Os comunistas que participaram em grande número do combate antifascista foram punidos pela direção bordiguista. As tropas fascistas seguiram queimando as sedes sindicais e partidárias dos socialistas, comunistas, anarquistas, que teimaram em não unir forças. Vitoriosa, a bandeira negra reinou sobre a Itália por duas décadas!

Em 1928, a direção da Internacional Comunista, sob a hegemonia de Stálin, decretou a política do “Terceiro Período”. Ela propunha que, com a crise geral do capitalismo, abria-se período mundial de assalto ao poder. A nova política de “Classe contra Classe” definiu como inimigo a ser abatido a socialdemocracia (“social-fascismo”) que impediria a conquista do movimento operário pelo comunismo.  Dividido, os trabalhadores foram abatidos facilmente pelo nazi-fascismo que liquidou fisicamente milhares de comunistas e socialdemocratas e abriu as portas para a hecatombe da II Guerra Mundial.

As eleições de 2018 são diversas das que se sucederam desde 1985. O confronto eleitoral de outubro próximo se dá no bojo da ofensiva do grande capital monopólico, sob a hegemonia do imperialismo, que busca institucionalizar ordem capitalista-despótica no país. As ilusões de avançar eleitoralmente sobre as cinzas do PT, conquistando um punhado a mais de parlamentares, desarmam a militância, os trabalhadores e a população nas duras lutas que temos que livrar agora e que se acirrarão no pós-outubro de 2018.


Mário Maestri é historiador.
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