A candidatura do Lula
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- Elaine Tavares
- 22/08/2018
Militantes petistas acompanharam a inscrição de Lula em ato na capital
Milhares de pessoas estiveram na quarta, 15, em Brasília para mais um ato de protesto contra o judiciário brasileiro que mantém o ex-presidente Lula preso, mesmo que ainda não tenha sido julgado. Os dirigentes do PT formalizaram a inscrição de Lula como candidato à presidência, não reconhecendo sua prisão como justa visto que, conforme alegam, está embasada apenas em convicções, sem provas contundentes. Logo, se não é justa, não pode ser barreira para sua participação no pleito de outubro.
Mas, na verdade, o ato de inscrever Lula é só mais um protesto dentro da ordem, seguindo a estratégia do partido, que é a de tentar todos os caminhos legais possíveis, mesmo que, contraditoriamente, diga que o judiciário está sendo político e não está levando em conta a lei. A tática petista é a maneira meio torta de dizer ao país que a prisão é ilegal, uma vez que outros políticos, pegos com provas evidentes, como é o caso do Geddel, da mala, ou os que foram igualmente delatados pelas mesmas pessoas que delataram Lula, seguem livres, leves e soltos. Apenas Lula está encarcerado.
É um jogo complicado porque pode não ser entendido pela maioria da população. Se o judiciário não é confiável, por que então insistir em apelar a ele? Enfim... É a tática petista.
É claro que essa batalha jurídica acaba servindo para mobilizar a militância que se move na esperança de, com a força da luta, libertar Lula. Isso é bem difícil de acontecer, pois se na porrada pouco acontece, que dirá na paz. De qualquer forma Lula ainda consegue movimentar muita gente, vide o ato em Brasília que levou milhares às ruas, acompanhando a inscrição do ex-presidente.
Agora, um dia depois da inscrição, já chovem pedidos de impugnação da candidatura e ninguém em sã consciência pode acreditar que ela seja homologada. Não será. Até a procuradora-geral da república já contestou. E aí sobram holofotes também para os peixinhos pequenos como o MBL e celebridades do golpe que buscam um lugarzinho na “grande novela”.
A série jurídica seguirá com episódios recheados de dramas possivelmente até o final do mês, ou mais tardar início de setembro, quando se encerra o prazo para o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) julgar os pedidos.
Assim, entre uma ação e outra o PT segue na mídia e, de certa forma, fazendo sua campanha gratuitamente pelos jornais e redes de TV. E, mesmo que Lula não seja o candidato, o furdunço judiciário servirá para manter a denúncia da ilegalidade e da injustiça. Isso é bom para o PT, que segue amealhando apoios em todo o mundo.
Há quem diga que mesmo sendo impugnada no TSE, a candidatura pode recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal), onde naturalmente será derrotada, ainda que o tema siga sendo notícia de jornal nacional e internacional. É a estratégia petista.
As lideranças acreditam que bater na injustiça cometida contra Lula, de forma ordeira e “democrática”, pode ajudar o candidato oficial, que será Haddad, tendo como parceira Manuela D’Ávila do PCdoB.
Pode dar certo, ou não. Agora é esperar para ver.
De qualquer forma teremos a polaridade petucana nessa eleição, embora como apregoa o professor Nildo Ouriques, possa ser o princípio do fim.
Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC.