Correio da Cidadania

É de Roraima a primeira mulher indígena no Congresso Nacional

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Até 7 de outubro de 2018, o lendário Mário Juruna, nascido na aldeia Xavante Namakura, no estado do Mato Grosso, constava como o primeiro e único indígena brasileiro a ter um mandato federal.

Ele foi eleito em 1982, pelo PDT, partido que tinha como principal liderança Leonel Brizola. Juruna ficou famoso nos anos 70 quando percorria os gabinetes da Fundação Nacional do Índio, em Brasília, lutando pela demarcação de terra para seus parentes. Ele andava sempre com um gravador pendurado, porque necessitava gravar tudo que “os brancos” diziam, porque, como afirmava, era muito comum não cumprirem a palavra. Sua figura ganhou força nacional e em 1982 saiu candidato pelo estado do Rio de Janeiro, conquistando 31 mil votos.

É dele o projeto que criou a Comissão Permanente do Índio no Congresso Nacional, fato que acabou levando as questões indígenas a terem um reconhecimento formal.

Mas, desde ontem outro nome indígena figurará nos registros do Congresso Nacional. Desta vez, uma mulher, da etnia Wapichana: a advogada Joênia Wapichana, eleita pelo estado de Roraima como deputada federal, na sigla REDE. Ela recebeu perto de nove mil votos. Joênia tem 43 anos e também foi a primeira indígena do Brasil a exercer a profissão de advogada. Formou-se em Direito na Universidade Federal de Roraima, em 1997, e na University of Arizona, nos Estados Unidos.

Joênia saiu de sua aldeia quando tinha oito anos, indo viver com a mãe em Boa Vista. Lá fez o ensino médio e trabalhou num escritório de contabilidade enquanto cursava a faculdade de Direito. Teve participação ativa na demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e na defesa dos direitos indígenas da região norte do país. Sua ação lhe rendeu prêmios e condecorações.

Agora, na Câmara Federal, enfrentando uma das formações mais conservadoras e reacionárias dos últimos tempos, terá uma tarefa gigantesca: ser a representante de mais de um milhão de pessoas, de variadas etnias, que conformam os povos originários do Brasil.

A luta dos povos indígenas no Brasil tem sofrido fortes revezes com a violência estrutural sendo cada dia mais reforçada, além da tentativa de se reverterem demarcações já realizadas e impedir novas demarcações.

As bancadas da bala e do boi têm sido poderosas no lobby contra os indígenas e insistem em trazer para dentro do Congresso a decisão sobre o tema. Joênia terá sob seus ombros a tarefa de, institucionalmente, comandar a luta contra o retrocesso no que diz respeito às questões indígenas. Enfrentará não apenas a força do latifúndio, mas também a voracidade do capital, ainda mais fortalecido pela constituição de uma maioria significativa no Congresso Nacional.  

Elaine Tavares é jornalista e colaboradora do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC.

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