Correio da Cidadania

“As peças escolhidas para o governo de Bolsonaro são simples acessórios da radicalização do neoliberalismo”

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O governo Bolsonaro não começou, mas suas nomeações já convivem com as diversas artilharias inimigas, algumas das quais reforçadas pelo próprio passado de seus membros. De franco atirador de redes sociais à vidraça, seria uma síntese simplória. Pra debater os primeiros rumos sugeridos por sua equipe de transição, entrevistamos o jornalista e ex-deputado federal Milton Temer.

Sobre o fim do Ministério do Trabalho, diz que “faz todo sentido, diante das declarações servis de Jair Bolsonaro quanto à vitimização dos patrões, cumplicidade com o latifúndio na ofensa aos territórios indígenas demarcados e leniência em relação ao trabalho escravo”.

Outro importante aspecto deixado pelas eleições, o esvaziamento do chamado centro, também é compreendido como um processo natural pelo ex-petista e atual dirigente do PSOL carioca.
 
“(O centro) não pode prometer segurança contra o ‘bandido’ que quer morto, pois esses ‘bandidos’ só ampliaram seus efetivos na medida em que se agrava a desigualdade social, o desemprego e a consequente perda de perspectiva de vida dentro da normalidade para boa parte da juventude pobre”, explicou.

A entrevista completa com Milton Temer pode ser lida a seguir.

Correio da Cidadania: Que apreciação se pode fazer dos nomes até aqui escolhidos por Jair Bolsonaro para fazer parte de sua equipe de governo?

Milton Temer: Os nomes correspondem ao que se esperava dos anúncios de campanha. São três eixos: militares, para simbolizar caráter hierárquico da tropa; jurídico, a fim de se utilizar do aspecto performático de Moro para a chamada pequena política que dá manchete através das prisões televisadas; e, a essencial, a área macroeconômica, à qual as outras duas se submetem, na subordinação aos verdadeiros patrões da operação, os maganos do grande capital.

Correio da Cidadania: Como recebe a notícia da extinção do Ministério do Trabalho, a ser diluído em três outras pastas? E o que pensa das remodelações de outras pastas que não constituem os interesses do mercado?

Milton Temer: Faz todo sentido, diante das declarações servis de Jair Bolsonaro quanto à vitimização dos patrões, cumplicidade com o latifúndio na ofensa aos territórios indígenas demarcados e leniência em relação ao trabalho escravo.
 
Correio da Cidadania: Com a decisão anunciada por Onyx Lorenzoni dialoga com a pasta da economia e as formulações de Paulo Guedes?

Milton Temer: Onyx não dialoga, se defende de acusações que, na medida em que vêm surgindo, o tornam mais problema do que solução para a articulação política, a despeito de toda a intimidade que tem com o sempre disponível baixo clero.
 
Correio da Cidadania: O que esperar de uma figura como Lorenzoni na chefia da casa civil?

Milton Temer: Lorenzoni sonha em ter a importância da marca de chuveiro com que o confundem. Não merece atenção da oposição, que tem de se concentrar nos passos de Paulo Guedes e suas operações interligadas com os interesses da grande banca privada. O resto é o resto. Simples acessórios da operação central de radicalização do neoliberalismo já bastante avançado em nosso país.
 
Correio da Cidadania: Como você compreende a perda de espaço de partidos da direita tradicional para versões extremadas deste espectro? O que será do PSDB?

Milton Temer: Considero que houve apenas uma explicitação concentradora, em torno das palavras-de-ordem da campanha Bolsonaro, daquilo que considero o senso comum imbecilizado. Ou seja, aquela parte expressiva da baixa classe média desinformada, cheia de preconceitos e desprezo contra os de baixo, por quem se sente ameaçada. E que se choca com o caráter libertário das pautas identitárias que, se trazem conquistas, mesmo sem abalar a estrutura do sistema que gera as sequelas denunciadas, também trazem um choque cultural contra o espírito conservador predominante.

O chamado “centro”, que de centro tem muito pouco, por ser na verdade uma direita conservadora dissimulada, neoliberal, privatista e sem projeto nacional, mesmo dentro dos limites dos interesses burgueses, ficou sem discurso. Não pode prometer segurança contra o “bandido” que quer morto, pois esses “bandidos” só ampliaram seus efetivos na medida em que se agrava a desigualdade social, o desemprego e a consequente perda de perspectiva de vida dentro da normalidade para boa parte da juventude pobre.
 
Correio da Cidadania: Como analisa a volta do PT, que no final das contas mantém uma grande bancada, à oposição?

Milton Temer: Analisar esse neoPT é difícil até para os que ainda se mantêm organicamente a ele ligados, pelo que tomei conhecimento do que foi a última reunião de seu Diretório Nacional. Garantiu-se eleitoralmente em áreas de influência do lulismo, e foi quase exterminado em áreas urbanas.

No Rio, foi praticamente dizimado. Elegeu apenas um federal contra 4 do PSOL. Na Alerj, elegeu 3, conta 5 do PSOL. Entre os quais o atual presidente da Casa, cujo codinome diz tudo o que ele pode representar como representante de um partido, outrora classista e antipatrão: Ancré Ciciliano, o Dedé do Ouro.

Correio da Cidadania: O que pensa das declarações da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a deixar claro que não haverá a propalada autocrítica, uma vez que o partido não deve tal tipo de satisfação à mídia liberal e à direita?

Milton Temer: Não levo a sério as declarações dessa senhora cuja expressão interna que ainda tem se deve ao fato de ser transmissora do que lhe é determinado pela verdadeira liderança do partido, Luiz Inácio Lula da Silva. E acho melhor considerá-la por esse lado, pois a considerar suas entrevistas e afirmações públicas, há menos razão ainda para a esquerda levá-la a sério, tal a arrogância com que se expressa sobre o vazio.
 
Correio da Cidadania: Dessa forma, enxerga espaço para a eclosão de lutas populares contra este governo e suas medidas?

Milton Temer: A ver. Assim espero. Mas isso vai depender muito de como e quando a esquerda combativa se organiza na sua pluralidade em torno de palavras de ordem unitárias, contra o avanço do neoliberalismo e da desconstrução dos direitos sociais conquistados depois de muitas lutas.

Para mim, o eixo unitário orgânico é o combate ao projeto macroeconômico. Sem arrefecer, mas sem cair na armadilha das questões identitárias enquanto mantidas exclusivamente em seus nichos, ou nas performances do anunciado Ministro da Justiça.


Gabriel Brito é jornalista e editor do Correio da Cidadania.

Comentários   

0 #1 Vai arrebentarHildermes José Medei 11-12-2018 18:12
Pelo que se vê, dito por seu líder, o PSOL vai arrebentar com 4 deputados federais e 5 deputados na ALERJ. No Rio de Janeiro, o PT nunca foi lá grandes coisas. Agora deputados federais o PT tem a maior bancada (56 deputados), foi o partido que fez mais governadores. Soa sem sentido, ou seria desconhecimento do que seja área urbana?, já que, no Nordeste onde o PT teve o melhor desempenho, há pelo menos três grandes metrópoles (Salvador, Fortaleza e Recife). Não fosse Boulos, forte aliado do PT nas eleições, a essas alturas o PSOL estaria forçado a se coligar. Precisa-se de oposição à Bolsonaro, batendo no PT? Bolsonaro agradece e golpe de 2016 agradecem;
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