Correio da Cidadania

A "confissão" de Battisti não convence os perspicazes

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Recebi muitas cobranças de um posicionamento sobre a "confissão" de Cesare Battisti. Assim, vou dar uma primeira visão do assunto, incompleta, pois por enquanto só conhecemos o que a parte mais poderosa afirma.

Faço questão de colocar "confissão" entre aspas porque há, evidentemente, algo de errado com ela: só convém aos ultradireitistas italianos e brasileiros, além de incluir trechos extremamente constrangedores, como o de que ele teria mentido aos esquerdistas daqui para que o apoiassem.

Leva todo jeito de ser uma forma de os inquisidores italianos retaliarem os que denunciamos a atuação deles como extremamente autoritária e arbitrária. Por que um prisioneiro beijaria as mãos dos que lhe moveram uma perseguição tão rancorosa e obsessiva, ao mesmo tempo agredindo aqueles a quem deveria ser grato? Não faz o menor sentido.

Percebe-se claramente que, haja ele falado isso num depoimento ou até manuscrito num papel, teve algum motivo que desconhecemos o impelindo, talvez aquele que o Tarso Genro aventou (e foi a primeira coisa que me passou pela cabeça, tão logo tomei conhecimento da notícia da Agência Ansa): a possibilidade de ser uma farsa à qual ele teria se prestado em troca de algum favor dos que o mantêm prisioneiro em função de uma sentença que já estaria prescrita em países menos draconianos e de crimes políticos que deveriam ter sido objeto de anistia há décadas.

Não irei mais longe antes de saber algo além da versão oficial, sempre inconfiável em se tratando das autoridades que temos na sociedade em que hoje vivemos.

Mas não hesito em desde já afirmar que, parafraseando uma canção seminal de Neil Young, "há mais no quadro/ do que os olhos estão vendo".

Celso Lungaretti é jornalista e ex-preso político.

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