Por que ninguém denuncia que Bolsonaro só chegou ao poder por meio de fraude eleitoral?
- Detalhes
- Paulo Cannabrava Filho
- 01/06/2019
Não entendo porque fazem essa onda em torno de suposta interferência da Rússia, de difícil comprovação, na eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e sequer mencionam a participação da Cambridge Analytica, que manejou milhões de dólares (abuso do poder econômico) e manipulou os eleitores pelas redes sociais e outras mídias eletrônicas com inteligência artificial.
Antes mesmo de a técnica ser aplicada aqui, aconteceu com o Brexit — saída do Reino Unido da União Europeia. O jornal The Guardian denunciou com provas a manipulação do plebiscito para obter a aprovação à saída da Inglaterra da União Europeia pela empresa. Foi um ensaio para o que fariam em seguida nos Estados Unidos a fim de eleger Trump. Enquanto isso, britânicos discutem fazer outro plebiscito, quando bastaria anular o primeiro por fraude.
A mesma coisa aconteceu no Brasil e ninguém está dando bola pra fraude eleitoral de outubro de 2018. Demonstramos, com fatos, que a eleição foi uma farsa. Há também o abuso do poder econômico, o que torna a votação factível de ser anulada, mas ninguém quer mexer com isso, nem aqui, nem lá. Por que será?
Claro que não interessa mexer com isso. Se não, como é que poderão dizer que estamos numa democracia? Sendo a dos EUA “a maior do mundo”? Como poderão eleger o sucessor utilizando as mesmas técnicas se comprovarem a fraude?
Senado Federal
Eu disse uma vez a um velho amigo petista de carteirinha: “vocês nunca deveriam ter aceitado o resultado dessa eleição, porque sob todos os pontos de vista, ela é passível de anulação. Tinham que mobilizar a sociedade, sensibilizá-la com as provas da fraude. Ficaram na defensiva e, ainda estão na defensiva. Gritar Lula livre! só vai estender o tempo dele na cadeia. Lula só será solto com outro governo no poder”.
Há que ser um governo legitimado pelo voto porque os militares agora vieram para ficar 40 anos no poder. A primeira ditadura, de 1937 a 1945 durou oito anos; a segunda, de 1964 a 1987, 23 anos. Em nenhuma das anteriores havia tantos militares em cargos de governo, por isso mereceu dos historiadores a qualificação de ditadura civil-militar.
Diálogos do Sul mostrou em sucessivas matérias que os militares não escondiam que estavam a caminho de tomar o poder, não através de golpe mas por eleições. E, de fato, montaram uma operação de inteligência para capturar o poder, contaram com a ajuda técnica da Cambridge Analytica e dinheiro a fundo perdido de um grupo de empresários sem amor à pátria.
Temos um governo de ocupação com mais de 100 militares nas mais diversas funções, claro, as mais estratégicas. É, “mas são retirados... militar de pijama não oferece perigo, o perigo está nos oficiais que têm comando de tropa, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul”, alertaram.
Quem escreveu isso esqueceu de um detalhe. A operação de inteligência foi arquitetada pelo alto comando das Forças Armadas, todos na ativa. Inclusive o que eles chamavam de plano de governo foi feito por oficiais na ativa. Aqueles que na reserva participaram do planejamento, como o general Mourão, que está de vice-presidente, não escondem o alto grau de ressentimento. Ódio ao imponderável.
Os oficiais da reserva foram usados para falar o que os da ativa não podiam falar. Coronel retirado esbravejando contra tudo e todos, ameaçando abertamente que se Lula fosse eleito, haveria golpe. No momento decisivo, quem freou o Supremo foi nada menos que o então comandante do Exército, o general Villas Boas, hoje retirado às ordens de um capitão no Planalto.
Só esse fato já bastaria para condenar esse governo num tribunal internacional. Por que ninguém denunciou? Todo mundo assistindo, passivamente, como se fosse um filme na televisão!
Paulo Canabrava Filho é editor de Diálogos do Sul.