Correio da Cidadania

A Petrobras e os generais

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Os nove generais do atual governo continuam silenciosos e omissos

O vice-presidente da República, general da reserva Mourão, em recente entrevista, analisou o nacionalismo que reside nas Forças Armadas, indicando um movimento ideológico pendular, ora no sentido liberal-conservador, ora no rumo da afirmação, como nação que pretende romper as correntes da servil dependência.

Citou como exemplo, para uma das direções do movimento pendular, o presidente Castelo Branco que acolheu na primeira hora, em seu governo, como representantes máximos do segmento liberal, na nossa sociedade, os senhores Roberto Campos e Octávio Bulhões, que elaboraram o plano econômico – PAEG – que escancarava as nossas portas ao domínio das multinacionais.

Contrariamente, cita o vice-presidente, o presidente Geisel, imprimiu uma direção oposta à economia e principalmente à política externa, lançando o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento, e retornando o país às origens nacionalistas.

A proximidade e influência política de Roberto Campos junto ao presidente Castelo Branco está fartamente descrita em seu narcísico livro de memórias – A Lanterna na Popa - onde sobressai sua insana luta para desmoralizar a Petrobras e obter do presidente uma decisão para encerrar suas atividades sob alegação de que ele “via na Petrobras, infiltrada por radicais de esquerda, uma constante ameaça de perversão do nacionalismo” (pag.808, segundo volume) e que “os ministros militares apoiavam a Petrobras preocupando-se apenas com a “descomunização” e “higienização” da empresa onde eram abundantes as evidências de corrupção administrativa (pag.808, segundo volume).

Afirmava ainda junto aos demais ministros que “não foi fácil, aliás, induzir a Petrobras a absorver o choque de reconhecimento da sua incapacidade para resolver o problema petrolífero”.

E completava sua pregação antinacional relembrando: “como dizia o professor Eugênio Gudin...” a Petrobras era grande apenas acima do solo” (pag. 960, segundo volume).

O clima político nos idos de 1964, repousando em duas palavras sínteses a serem combatidas pelo novo regime, subversão e corrupção, pretendia atingir em cheio a Petrobras e o que levou o presidente Castelo Branco a convocar seu íntimo e fiel companheiro de escola militar, o marechal Adhemar de Queiroz, com a “missão de fechar em definitivo a Petrobras”. Esta foi a ordem dada pelo presidente.

A primeira providência do marechal Adhemar de Queiroz foi a de requisitar os processos conduzidos pela CGI (Comissão Geral de Investigação) e após analisar seus conteúdos expedir uma circular para toda a empresa e órgãos de segurança já existentes: “a partir desta data todas as acusações de subversão e corrupção de empregados deverão ser acompanhadas de provas...”

Foi o suficiente para que as delações caluniosas e as perseguições políticas internas desaparecessem.

O segundo gesto patriótico do marechal Adhemar de Queiroz foi o de retornar, após três meses de convivência diária na Petrobras, ao presidente Castelo Branco e dizer-lhe que a Petrobras “reunia um corpo técnico de abnegados brasileiros em defesa de nossos recursos estratégicos e que a empresa deveria ser prestigiada e atendida em seu planejamento”.

E assim foi feito, em pleno governo liberal, com a presença do senhor Roberto Campos.

Os empregados e as várias direções da empresa, em distintas épocas, homenagearam o marechal Adhemar de Queiroz consagrando o seu nome ao edifício sede da empresa, no Rio de Janeiro, como símbolo de dignidade e de verdadeiro patriota.

Penso que o general Mourão, atual vice-presidente do Brasil, desconhece esse fato histórico de seus colegas militares liberais ao se referir ao movimento pendular dos generais nacionalistas e eles que, mesmo a despeito de sua visão particular da sociedade, agiram com lucidez em defesa da Petrobras e não se deixaram envolver pela bem articulada trama dos traidores da pátria.

O prestigiado engenheiro e escritor, Paulo Metri, em 19/02/2019, publicou um artigo no Correio da Cidadania intitulado “Militares Brasileiros”, resgatando, em sua seleção, dez oficiais generais, dois brigadeiros e um almirante de esquadra que em comum, ao longo do tempo, ”carregavam o sentimento de brasilidade”. Instrumentalizaram, através da revista “A Defesa Nacional”, criada por eles, o valor e o sentido de Pátria a várias gerações de oficiais das forças armadas.

O petróleo e a Petrobras já se destacavam, em seus depoimentos, como elementos constitutivos de nossa autonomia econômica.

“Petróleo é poder político... que se confunde com a soberania nacional”.

“É um crime de lesa-pátria entregarmos aos trustes estrangeiros a exploração e o aproveitamento da riqueza petrolífera do Brasil”.

“É nossa missão de soldado defender nossa independência econômica”.

Esses são alguns exemplos da visão geopolítica que lastreava o agir dos oficiais superiores das forças armadas, “verdadeiros heróis nacionais”, pois da ação deles surgiram a Petrobras, o ITA, a Embraer, o IME, a Embrapa, o enriquecimento do urânio e também a luta pela legalidade e pela democracia.

Compõem o atual governo nove generais, profundos conhecedores da nossa História, silenciosos e omissos, em relação à vergonhosa e humilhante condição que um cidadão travestido de ministro – Paulo Guedes -, em enérgico inglês, solicita que os estrangeiros venham arrematar os bens públicos postos à venda. “Vamos vender tudo”. Foi ovacionado.

Mas esse cidadão, de pobre biografia no meio acadêmico, tem um rico prontuário no Ministério Público e na Polícia Federal, conforme artigo do respeitado professor José Carlos de Assis de 27/04/2019, publicado no site 247.

Ao lado dessa figura desponta uma outra do mesmo do mesmo time: o atual presidente da Petrobras: o senhor Castello Branco, que em 15/03/2019 declarou ao jornal “O Estado de S. Paulo” que a venda da Petrobras “foi sempre meu sonho”. Numa sociedade que exigisse responsabilidade às bravatas oferecidas, aos gestos histriônicos, esse cidadão não poderia subir um degrau de acesso à sede da empresa que dirá sentar-se na cadeira de presidente para trair a história da empresa.

Lamentavelmente, os nove generais do atual governo continuam silenciosos e omissos. Talvez venhamos assistir de novo a bravura dos tenentes, que em 1922 e 1930, pegaram em armas para defender a democracia e criar um Brasil mais justo socialmente, menos servil aos interesses estrangeiros e elaborar o projeto de nação.

Sylvio Massa de Campos é Economista aposentado da Petrobras, ex-superintendente de Distribuição e ex-diretor da BR Distribuidora.
Retirado do Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC.

 

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