Correio da Cidadania

2019, o ano da tragédia anunciada

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Terminamos 2019 com a confirmação dos dados de uma tragédia anunciada: a concentração de renda no Brasil é a segunda maior do mundo, diz a ONU. Este é o pano de fundo da crise econômica, política e civilizatória do país. Isso, por si só, bastaria para explicar a brusca mudança de orientação política do capital e seus agentes. Essa mudança se deu quando abandonaram o governo e o partido (PT) que garantiam seus lucros através de um sistema de conciliação de classes e patrocinaram um golpe cujo resultado foi a implantação do governo neofascista que trabalha obstinadamente para aniquilar as limitadíssimas liberdades democráticas previstas na Constituição de 1988.

Ricardo Antunes, sociólogo, professor da Unicamp e reconhecido estudioso do mundo do trabalho, numa entrevista publicada no início de 2018 no site Correio da Cidadania, adiantou em sua análise: “Caminhamos celeremente para uma ‘indianização’ do país. Vamos nos tornar um país com a miséria do tamanho da Índia, que é brutal e combina um sistema perverso de castas e classes, exploração, superexploração, espoliação, naturalizando a miséria de centenas de milhões de pessoas, tratadas de forma inferior”. Vemos coisas assim e o que dizem as classes médias conservadoras? “Tirem os pobres do meu portão”.

O que mais surpreende é que também um setor considerável da classe trabalhadora, ao não ver saída, passa a enxergar e até mesmo tratar os mais precarizados e mais pobres com certo desprezo.

Para sustentar sua política tóxica e covarde de devastação de direitos, o governo Bolsonaro inflama sua base social (que não é pequena) contra toda e qualquer forma de liberdade de expressão política, religiosa, cultural, educacional e comportamental. O êxito é inegável. Nada é mais simbólico que os números da DataFolha que apontam a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) com 43% de ótimo/bom.

Não creio que seja vantajoso para o conjunto dos trabalhadores mitigarmos o perigo. Ao que tudo indica, Bolsonaro tem uma estratégia muito clara e está avançando no sentido de mudar o regime político no país, para impor um “estado de exceção permanente”, com o fim das liberdades democráticas, dos direitos sociais, trabalhistas, previdenciários e destruição do meio ambiente.

Porém, mesmo com esse estado de coisas, parece que um setor das forças de esquerda ainda aposta suas fichas na possibilidade da divisão do “andar de cima”, da “casa grande”, do sistema político e jurídico tradicionais e que, ao se dividir, se oporão verdadeiramente às iniciativas totalitárias do Bolsonaro.

Talvez não estejam suficientemente atentos para perceber que o capital e todos seus agentes políticos e midiáticos comemoram cada reforma ultraliberal do governo com muita festa. A poderosa Confederação Nacional da Indústria (CNI) homenageou Bolsonaro.

Os banqueiros, grandes empresários, o agronegócio sabem que a política econômica atual aumenta ainda mais a gigantesca desigualdade social e cria o clima propício a explosões populares. Por isso defendem também o aumento e o fortalecimento do aparato repressivo do Estado.

Ingenuidade nossa se encaramos os pontuais litígios do governo com setores da mídia como expressão de um conflito irreconciliável entre setores do capital. Em última instância, o que fala mais alto é o projeto econômico.

A manchete da Folha de São Paulo, vinculando a percepção de “recuperação” econômica com a redução do ritmo de queda de popularidade do Bolsonaro é a expressão jornalística desta unidade de todos da “casa grande” em torno ao programa econômico de Paulo Guedes.
Lamentavelmente, PT, PCdoB e PSB implantam medidas semelhantes nos estados que governam.

A luta contra a extrema-direita não pode ser banalizada. Tampouco essa batalha urgente e imprescindível pode ser reduzida ou canalizada para ser solucionada via processo eleitoral de 2020 e 2022.

Parte da esquerda faz um paralelo temerário com a derrota eleitoral do neoliberalismo na Argentina. A diferença é que lá ocorreram várias greves gerais, grandes manifestações das mulheres e do povo em defesa das liberdades democráticas. Sem luta de classes, feminista, popular, democrática e de massas, Macri seria reeleito.

O capital e seus agentes chamam as oposições, inclusive a esquerda revolucionária e libertária, a lutarem no campo onde domina, ou seja, das eleições controladas e manipuladas.

Por conveniência eleitoral, muitas vezes transformam “derrotas” em “vitórias”. Em consequência dessa transformação, setores de esquerda terminaram apoiando a entrega da base de Alcântara, as Parcerias Público-Privadas, a reforma da previdência nos Estados, o projeto anticrime idealizado por Sérgio Moro, que contribui para mais repressão contra o povo. O uso de medidas punitivistas como cabo eleitoral é a máxima expressão do “senso comum” manipulado pelos agentes de comunicação do capital, a mídia.

Se a oposição for ambígua, Bolsonaro vai continuar nadando de braçada. Está evidente a necessidade de construção de uma Ampla Frente Única em torno de uma pauta clara de enfrentamento a TODOS os ataques deste governo de milicianos. Somente essa medida, verdadeira empreitada, será capaz de evitar que caminhemos como cordeiros levados ao matadouro.

Paulo Pasin é metroviário aposentado e ex-presidente da Federação Nacional dos Metroviários.

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