Correio da Cidadania

A falência do reformismo passadista

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A contundente vitória de Boris Johnson nas eleições parlamentares do Reino Unido frustrou as ilusões dos que imaginavam que seria possível vencer o vendaval reacionário nas urnas sem grandes mobilizações populares, no terreno minado da disputa da opinião pública monopolizada pela grande mídia e sem questionar as estruturas da União Europeia e da globalização dos negócios.

A vitória do Partido Conservador — a maior desde 1987 — é tanto mais significativa quando se considera que, sob governos “Tories”, o Reino Unido amarga uma década de estagnação salarial, crescente concentração de renda, degradação das políticas públicas e escalada da pobreza — precisamente os problemas que o Partido Trabalhista prometia combater.

Foram votos de eleitores tradicionalmente trabalhistas que deram a vitória aos conservadores. A ambiguidade de Jeremy Corbyn em relação ao Brexit — a questão central da política britânica — e seu convencionalismo político, perfeitamente enquadrado no ritual do cretinismo parlamentar, cobraram seu preço. Não bastou acenar com um deslocamento político à esquerda da ordem para se reconectar com os trabalhadores empobrecidos pelo flagelo da globalização. O mapa da votação mostra que nada menos que 24 distritos eleitorais da chamada “muralha vermelha”, regiões operárias e mineiras do centro-norte da Inglaterra, há quase um século sob controle trabalhista, deslocaram-se para o Partido Conservador.

Entre a promessa impossível de um Estado de bem-estar no interior dos parâmetros neoliberais da União Europeia — o projeto reformista de Corbyn — e a aventura de voo solo xenófobo nas águas turbulentas da globalização — o projeto ultraliberal de Johnson -, o eleitorado escolheu o salto no escuro. A ausência de uma política consistente e radical para responder aos reclamos de sua base social, castigada por um longo processo de desindustrialização que liquidou sua base real de sobrevivência econômica, levou os trabalhistas a perder 59 cadeiras, o que os reduziu a menos de um terço do Parlamento — o pior resultado desde 1935. A derrota agrava a crise de identidade do Partido Trabalhista como expressão política das classes subalternas.

A obtenção de 365 das 650 cadeiras de Westminster deu a Boris Johnson uma folgada maioria para compor seu ministério e liderar a saída do Reino Unido da União Europeia, mas está longe de resolver as profundas contradições que polarizam a vida política dos britânicos. Ao acentuar a heterogeneidade regional, o Brexit recrudesce o nacionalismo escocês, irlandês e galês, colocando em questão a própria sobrevivência do Reino Unido.

O descompasso entre as expectativas da base de trabalhadores penalizados pela devastação neoliberal e a política de radicalização da mercantilização da vida propugnada pelo neoliberalismo selvagem exacerba a heterogeneidade social.

A surpreendente ascensão de Jeremy Corbyn para a liderança do Partido Trabalhista em 2015, com um programa socialdemocrata relativamente radical para os dias que correm, expressa o desejo de expressivos segmentos da população, sobretudo da juventude que protagonizou uma verdadeira rebelião das bases, de encontrar um meio de livrar-se do neoliberalismo. Sua expressiva votação entre os eleitores de 18 e 34 anos de idade, o segmento mais penalizado pelo regime de austeridade fiscal, é um inequívoco sintoma de que a crise política britânica está longe de ter sido resolvida. Nessa faixa etária, os trabalhistas tiveram quase três vezes mais votos dos que os conservadores (56% contra 21%).

Se a meteórica passagem de Corbyn pelas altas esferas da política britânica servir de lição sobre a impotência do reformismo como antídoto do neoliberalismo selvagem, terá cumprido um importante papel na busca desesperada dos trabalhadores de um caminho para a superação da barbárie. Na ausência de um projeto de futuro que coloque em questão o império do capital e aponte para um novo modo de produzir e viver, a defesa de um suposto capitalismo domesticado, no qual ninguém acredita, deixa a via livre para uma reorganização ainda mais regressiva e autoritária da ordem capitalista.

É urgente superar a linha de menor resistência. O antídoto contra o avanço da xenofobia nacionalista, fomentada pela burguesia, é a luta internacional dos trabalhadores contra os exploradores. Sem instrumentos políticos à altura dos desafios de uma revolução social, os trabalhadores encontram-se desarmados para enfrentar a contrarrevolução burguesa. Ter ousadia, criatividade e coragem para disputar o “novo” é o grande dilema da esquerda socialista em todos os cantos do mundo.

Contrapoder.

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