Pandemia: o Brazil acima de todos
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- Sergio Domingues
- 11/05/2020
“O Brazil tá matando o Brasil”, dizia o verso de Aldir Blanc, escrito em 1978.
Como um preso vai ficar a dois metros de distância do outro em uma cela onde não há espaço nem para deitar e dormir? Como os presos vão se higienizar se há um racionamento de água constante em muitas unidades? Como eles vão ter imunidade, se a comida que recebem é azeda?
Estas palavras são de Petra Silvia Pfaller, coordenadora nacional da Pastoral Carcerária.
...três quartos da população têm acesso a só metade dos leitos de UTI no Brasil. A outra metade está reservada ao quarto da população que tem planos de saúde.
O trecho acima faz parte de matéria da BBC Brasil, de 23/04/2020.
Em recente reportagem da Folha, ficamos sabendo que cerca de R$ 15 bilhões que as empresas privadas de saúde são obrigadas a manter em caixa foram flexibilizados pela agência reguladora do setor. Com isso, elas poderiam permitir que clientes inadimplentes pudessem continuar sendo atendidos por mais algum tempo. Mas os administradores dos planos não pretendem fazer isso. Um deles disse que esses recursos “aliviam o caixa” em apenas 15 dias.
O recente lockdown declarado em Belém do Pará deixa de fora as trabalhadoras domésticas, consideradas como prestadoras de serviços essenciais.
“Pico de Covid-19 nas classes altas já passou; o desafio é que o Brasil tem muita favela”, diz o presidente da XP, uma assessoria de investimentos financeiros.
Estes são só alguns exemplos a demonstrar que hoje, como quarenta anos atrás, o Brazil continua matando o Brasil. Agora, com a ajuda de uma pandemia.
Sergio Domingues é servidor público federal.
Blog: Pílulas Diárias, onde o artigo foi publicado originalmente.