Correio da Cidadania

Eles autorizam

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“Deus perdoe os torturadores”, “Nosso Brasil pertence ao senhor Jesus” e “Direita com Bolsonaro”, essas frases estavam em cartazes empunhados por dois indivíduos com vestes semelhantes às da Ku Klux Klan, num ato – abominável – ocorrido em Goiás, em 1º de maio.

Tem gente dessa mesma linha política que se disse injustiçado, tendo seu direito de ir e vir – em plena pandemia – cerceado por decretos locais, que sempre visaram à preservação do coletivo, da vida do povo. Para suas autodefesas costumam citar o famoso artigo 5º da Constituição de 1988 (faz bem aqui um parêntese para citar um trecho do discurso de promulgação da carta magna: Traidor da Constituição é traidor da pátria. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações, disse Ulysses Guimarães), que em seu inciso III prevê: “ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”.

Como podem pedir perdão aos que praticaram horrendo ato em suas inúmeras possibilidades? Ainda mais quando esse adjetivo logo remonta a um período trágico e sombrio da nossa história, como pode alguém ousar mesmo hipoteticamente em falar de perdão para essa gente?

No mesmo 1º de maio, muitos saíram às ruas, e o nosso verde-amarelo vestiu
essa multidão insana e inconsequente, grandes aglomerações quando deveria haver o óbvio nesse momento, ou seja, o isolamento, o distanciamento social.

O mesmo verde-amarelo da bandeira estampada no cartaz com as frases acima citadas.

Se o Brasil pertence a Jesus, a Alá, a Buda ou a qualquer outro expoente divino, isso deve ser de âmbito da fé privada de cada um. Se na experiência pessoal de fé, há a crença nisso, então que assim seja. Problema é querer impor isso como uma regra geral. Afinal, a laicidade do Estado segue em vigor.

Embora seja mais fácil imaginar a imagem como uma charge, uma tira ou algo do tipo – o Brasil segue brilhantemente superando a ficção – fica a dúvida, a cruel dúvida: esse infeliz ato foi feito simplesmente para chamar atenção ou endossar tal ideologia, ou, de fato, os protagonistas da imagem que rodou o mundo realmente militam em tal causa?

A KKK (os trajes são alusivos) comporta, nos States, coisas abomináveis como a supremacia branca e o antissemitismo, e tem a fama de aterrorizar a vida dos quais eles se opõem. Vão intensificar também a importação disso?

Enquanto uma multidão foi para a rua clamando os absurdos que aparentemente aos nossos ouvidos têm se naturalizado, outra multidão (mais de 430 mil) morreu em decorrência do coronavírus. E enorme é o número de infectados, de doentes agonizantes, de sequelados e de subnotificados.

O que a turba de seguidores e defensores dizia que autorizava, mesmo? A CPI está aí.

Felipe Feijão é graduado em filosofia e escritor.

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