Alô, presidente, dá pra gente bater uma bolinha aí?
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- Ricardo Mezavila
- 04/06/2021
Alejandro Dominguez, presidente da Conmebol; Jair Bolsonaro; Rogério Caboclo, presidente da CBF, denunciado
por assédio a funcionária na tarde desta sexta, 4.
A Copa América é o principal torneio de futebol masculino entre seleções da América do Sul. Este ano estava prevista para ser realizada conjuntamente entre Colômbia e Argentina. Primeiro, os fortes protestos populares contra a agenda neoliberal de Ivan Duque fizeram o país cafeteiro retirar sua hospedagem do torneio. Depois, o governo argentino, cujo país ficara responsável único pela organização, acertadamente recusou sediar o evento, por conta da covid-19.
Assim, os cartolas da CONMEBOL devem ter pensado: ‘Vamos levar a Copa América para o Brasil, lá tem um presidente negacionista que é amigo do vírus’.
A CONMEBOL entrou em contato com a CBF – Confederação Brasileira de Futebol, que nos últimos seis anos é representada nas ruas por neofascistas vestidos com a camiseta da seleção.
Os dirigentes da CBF acolheram o pedido da CONMEBOL e enviaram ofício à presidência da República, que prontamente autorizou a realização do torneio.
Tamanha agilidade e competência não se viram quando, em 2020, a Pfizer enviou vários ofícios oferecendo vacinas, tendo sido ignorados pelo governo brasileiro.
Qual o parâmetro de prioridade entre um evento esportivo e a vacinação em massa para o governo?
Bolsonaro, populista e oportunista, que está derretendo diante da opinião pública, não vai perder a chance, caída em seu colo, de dar o pontapé inicial da “Cova América”, que também pode servir para desviar a atenção da CPI e o foco de sua trágica gestão.
A competição terá transmissão do SBT, canal de televisão aliado do presidente, receptor de cotas publicitárias do Estado brasileiro acima de seu valor de mercado e cujo dono tem um genro em cargo no governo.
Bolsonaro é um político que flerta com o fascismo, é autoritário e machista, nutre desprezo pelos povos indígenas, negros, nordestinos e homossexuais. Faz a pior gestão de um chefe de Estado da história do Brasil, tendo negado setenta milhões de doses de vacinas para os brasileiros, patrocina aglomerações através de mobilizações e eventos inúteis pelo país.
Com apenas doze dias de preparação para o início da competição, mas tendo sediado grandes eventos esportivos nos últimos anos, estádios e hotéis não são problemas para o Brasil.
Contudo, com o avanço do coronavírus em todas as regiões, é temerária a presença das delegações nas cidades, a circulação dos atletas pelas ruas, o contato com funcionários dos hotéis, estádios e comércio.
Que doravante não surjam no Brasil as variantes chilenas, equatorianas, paraguaias, peruanas etc. do vírus. Assim como a variante brasileira não circule pelos países que estão vindo participar do torneio.
Ricardo Mezavila é cientista político.