Correio da Cidadania

Masterclass de fim do mundo (3): Sobrevivendo no purgatório

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Foto: Neblina.xyz.

Caía um forte temporal em Macapá no dia 3 de novembro de 2020 quando, entre um trovão e outro, as luzes se apagaram e os celulares ficaram sem serviço. A subestação que transmite energia ao Amapá inteiro, que já operava há um ano com parte das estruturas danificadas, tinha colapsado. Era o início do mais longo apagão da história do país, que se estenderia por três semanas. A falta de eletricidade interrompeu o fornecimento de água em boa parte da cidade, levando muitos a lavarem a louça e a roupa nos rios; a instabilidade nas redes de telecomunicação deixou moradores incomunicáveis; nos bancos, era impossível sacar dinheiro; filas se formaram nos postos de gasolina; e as prateleiras logo se esvaziaram nos mercados. Enquanto isso, as mortes por covid cresciam exponencialmente. Após quatro dias no escuro, a conexão foi restabelecida com um sistema de racionamento absolutamente irregular e desigual entre os condomínios de elite e as periferias. A oscilação provocou sobrecargas: eletrodomésticos pifaram, postes de rua explodiram e casas pegaram fogo.

Conforme a crise se prolongava e o desespero se generalizava, surgiam “barricadas, manifestações por toda cidade, muitas ruas com pneus queimados” (*73). Além de atenuar a penumbra da noite, sair para a avenida e acender uma fogueira com entulho tornou-se o último recurso das multidões para pressionar as autoridades enquanto esperavam a normalização do fornecimento de energia ou o reparo de um transformador danificado.

A Polícia Militar, que acompanhou o movimento de perto, reprimindo e perseguindo moradores, contabilizava mais de 120 protestos em todo o Amapá quando, repentinamente, a pandemia voltou a ser objeto de preocupação. “Com a finalidade de reduzir os riscos de transmissão do novo Coronavírus”, o governo estadual decretou toque de recolher durante a noite e veto a “qualquer espécie de atividade política de pessoas em ruas, praças, (...) mesmo que ao ar livre, (...) como reuniões, caminhadas, carreatas, comícios, bandeiradas, etc. (*74)” A sobreposição amapaense de colapsos completa a distopia brasileira, em que o Estado a um só tempo sabota medidas de isolamento social em nome da disciplina do trabalho, mas aciona um lockdown para conter a revolta popular.

“O que foi feito no Amapá, a questão da energia elétrica, não tem nada a ver com o governo federal”, afirmaria o presidente nos dias seguintes. Que o governo se isentaria de qualquer responsabilidade pelo apagão – negligência, afinal, de uma concessionária privada – estava claro desde o início: com o anúncio de que eventuais danos a bens pessoais não seriam indenizados, a própria população passou a organizar vaquinhas para ajudar na reconstrução das casas de quem perdeu tudo. Ao redor da hashtag #SOSAmapá, iniciativas de doação de mantimentos aos bairros mais pobres se propagaram durante o desabastecimento (*75).

A auto-organização para sobreviver no inferno transitava, assim, numa zona ambígua entre a solidariedade e a transferência dos prejuízos do desastre para a população. Poucos meses depois, quando o sistema de saúde colapsou no Amazonas, a comoção na internet arrecadou doações em todo país. Tentando driblar a superlotação e a falta de insumos nas UTIs, famílias improvisaram leitos de tratamento em casa para cuidar dos parentes doentes. Redes de amigos e voluntários se mobilizaram para obter cilindros de oxigênio diretamente das indústrias na Zona Franca de Manaus, redistribuídos para os pacientes domiciliares por toda a cidade. Se a contagem diária de mortos da pandemia nos telejornais escancara a descartabilidade à qual está condenada grande parte da população, esse mesmo pesadelo mostra-se produtivo à medida em que conforma os vivos a um regime de disponibilidade total a qualquer trabalho: “estamos nos tornando médicos. É o que nos cabe”, relatou a um jornal uma jovem que acabara de aprender a administrar oxigênio em casa para familiares sem vagas nos hospitais (*76). Choque após choque, a catástrofe permanente em que nos vemos suspensos há dois anos potencializa e normaliza os velhos expedientes – informais, improvisados, inseguros, ilegais – de sobrevivência na guerra cotidiana. Mas esse sobretrabalho disforme, outrora descoberto por sociólogos brasileiros como motor oculto de nossa modernização capitalista, há muito não anima qualquer esperança desenvolvimentista: em meio ao colapso, apenas repõe constantemente o horizonte negativo de confinamento a uma espera desesperada, extenuante e sem fim.

Ao mesmo tempo em que radicaliza o “modo de vida periférico do salve-se quem puder” (*77), a “desconstrução” como forma de governo (*78) prepara o terreno para os movimentos do capital que vêm adensando as malhas de controle e conferindo “escala a essa zona nebulosa” (*79) da informalidade. Desse ponto de vista, o auxílio emergencial passa longe da proposta de uma “renda sem contrapartida”, tão celebrada por analistas econômicos (*80). O experimento de transferência de dinheiro viabilizado ao longo de 2020 está intimamente ligado a outra transferência: a de custos e riscos do Estado e das empresas para uma população devidamente cadastrada e remunerada em doses limitadas (*81). Quando a atuação das autoridades na pandemia se resume a “uma maior ou menor leniência ou reforço (pequeno) a uma quarentena organizada por conta própria pelos trabalhadores” (*82) é porque a própria gestão da emergência sanitária foi terceirizada para a multidão. Aquele “autogerenciamento subordinado” (*83) característico do trabalho por aplicativos se mostra, aqui, uma tendência para a sobrevivência em geral na catástrofe.

Das máscaras de pano feitas em casa e vendidas na rua – fonte de renda para quem sempre inventa um jeito de se virar – às barreiras sanitárias nas quais se revezavam moradores voluntários nas entradas de pequenos municípios e zonas turísticas (*84), a quarentena só pôde existir na base da gambiarra (*85), numa somatória de esforços descoordenados (e, não raro, conflitantes entre si) que resultou, no fim das contas, num gigantesco trabalho sujo (*86). Enquanto se enterravam os mortos, todos colaboramos – em isolamento ou na correria – para manter a máquina urbana em funcionamento (*87).

Nos últimos meses de 2020 o auxílio emergencial foi gradualmente interrompido – com a exclusão progressiva de milhões de beneficiários e a redução do valor das últimas parcelas –, até que expirasse, em dezembro, a vigência do estado de calamidade pública e, com ele, do “orçamento de guerra” que viabilizou o maior ensaio de transferência direta de renda já realizado no Brasil (*88). Com o avanço da segunda onda de contaminação, a partir da virada do ano, estados e municípios voltariam a recorrer a medidas de restrição dos comércios e serviços para conter o vírus – e os trabalhadores informais, agora sem o mesmo amparo econômico, seriam empurrados a uma condição limite. A situação se fez ainda mais alarmante nas regiões turísticas, onde o verão é a chance de constituir uma poupança para o resto do ano (*89).

As numerosas manifestações anti-lockdown que ocorreram a partir de dezembro de 2020 tinham uma composição social diferente das carreatas bolsonaristas do começo da pandemia. Diante da determinação judicial que fechou praias, restringiu o comércio e baniu turistas a poucos dias do réveillon, a cidade de Búzios foi tomada por protestos: centenas de pessoas cercaram o fórum até a medida cair. Em Angra dos Reis, trabalhadores bloquearam a Rodovia Rio-Santos e lojistas ocuparam o prédio da prefeitura contra endurecimento das restrições (*90). Ao redor do país, pequenos patrões se misturaram nas ruas com seus funcionários, mas também com camelôs, artistas, feirantes, mototaxistas, músicos, motoristas de aplicativo etc. Esse movimento não deixava de exprimir uma reação ao fim do auxílio emergencial, revertida, entretanto, para a órbita do bolsonarismo, ao mirar as medidas sanitárias dos governos locais. No Amazonas, onde 52% da força de trabalho é informal, o decreto de lockdown de 23 de dezembro vetava expressamente a “venda de produtos por ambulantes” e “feiras e exposições de artesanato” (*91). Ele seria revogado três dias depois, após uma manifestação escapar do controle de seus organizadores e desencadear uma noite de barricadas em Manaus (*92).

E foi justamente nas semanas seguintes que o mundo inteiro assistiu aflito às notícias de mortes por falta de oxigênio nos hospitais amazonenses, assolados por uma variante nova e mais contagiosa do vírus. Como sustentar uma reivindicação cuja consequência evidente é a morte de mais gente? Nas palavras de um motorista de aplicativo que organizava os protestos, o movimento “não é dirigido por negacionistas, todos sabem que a doença existe e infelizmente muitas pessoas morreram”, mas “precisamos conviver e desenvolver meios ou estratégias que possam garantir a continuidade de todas as atividades econômicas” (*93). Em busca de uma “estabilidade entre economia e saúde”, as manifestações convocadas para o auge da catástrofe hospitalar passaram a reivindicar também a distribuição de “kit covid grátis”. Em uma nova volta à direita no parafuso, a luta contra o lockdown engatava na defesa do chamado “tratamento precoce”, referência genérica à prescrição de medicamentos sem eficácia comprovada contra o novo coronavírus (e com eventuais efeitos colaterais nocivos à saúde), mas largamente adotados durante a pandemia no país.

Incentivada pelo presidente em suas lives, ministrada em hospitais públicos e indicada por planos de saúde e médicos particulares, a “profilaxia” com remédios para malária, piolho e vermes disponíveis nas prateleiras das farmácias ainda era, em meados de 2021, reconhecida por quase metade dos médicos brasileiros como útil no combate ao coronavírus (*94). A espantosa capilaridade dessa cura milagrosa, vendida por oportunistas de todo tipo, mais de um ano depois do início da pandemia, era sinal de que seu apelo encontrava eco na linha de frente dos hospitais. Ora, se os “métodos alternativos” nunca foram eficientes para a recuperação dos enfermos, certamente o eram para fornecer algum alento a pacientes desesperados e aliviar a impotência dos próprios trabalhadores da saúde, à beira do burnout diante daquela doença desconhecida e mortal. De alternativas improvisadas na crise, tais procedimentos se popularizaram precisamente como um “Protocolo de Colapso” – título de uma das lives em que médicos paraenses compartilharam sua experiência dramática durante o primeiro semestre de 2020. Quando “as redes hospitalares de Belém colapsaram e as farmácias ficaram sem estoque de remédios”, os médicos tiveram que improvisar para salvar a vida dos pacientes. Abundam nas lives relatos de casos, experiências dos planos de saúde e das clínicas públicas, que confirmariam que o tratamento precoce salva vidas, e que sugerem que quem não teve acesso ao tratamento levou a pior. (...) Ao mesmo tempo, os casos que acabam vindo a óbito são encarados como naturais: afinal, “nenhum tratamento é infalível” (*95).

Em fóruns fechados no Facebook e no Telegram, médicos compartilhavam resultados de terapias experimentais e caseiras, como a nebulização de comprimidos de hidroxicloroquina em parentes doentes; discutiam como se blindar juridicamente ao realizar esse tipo de procedimento clandestino; organizavam campanhas pelo reconhecimento de seus métodos; e, mais importante, formavam uma imensa rede de profissionais e pacientes. Mais do que uma simples receita – e uma caixinha de graça, para fidelizar –, a prescrição de ivermectina com frequência era acompanhada por um convite para um grupo de WhatsApp (*96).

E num país em que a automedicação é prática generalizada (*97), não espanta que boa parte da população não tenha hesitado em adicionar mais uma cartela à caixinha de remédios. Também para os demais trabalhadores atormentados todos os dias pelo medo do contágio – rodeados pela morte de conhecidos, amigos e familiares e forçados a assumir o risco cotidianamente em ônibus lotados (*98), escritórios e refeitórios fechados – o movimento do “tratamento precoce” constituiu uma “comunidade” de cuidado e segurança, uma macabra rede de apoio mútuo, que lhes oferecia algum suporte para manter a sanidade em meio ao caos. Assim como para os profissionais da saúde, a crença no “kit covid” funciona como mecanismo de defesa subjetivo para “tolerar o intolerável”: o sofrimento do trabalho no novo normal (*99). O dispositivo ajudou a aplacar o desespero e a suportar o medo num contexto de aprofundamento dramático da experiência negativa do trabalho, do qual não era possível desertar. Nesse sentido, o recurso generalizado aos medicamentos sem eficácia comprovada parece ter tido menos a ver com uma recusa ideológica às conhecidas medidas de combate à pandemia do que com o sofrimento gerado por sua inviabilidade. O engajamento dos próprios pacientes – de fato ou em potencial – na causa dos “remédios que salvam vidas” não apenas se somou às estratégias de defesa psíquica de milhares de pessoas obrigadas a desrespeitar os mais básicos protocolos sanitários para sobreviver, mas conformou um sentido político para a indiferença a que a necessidade as compelia (*100).

Enquanto muitos médicos aderiam voluntariamente à causa do “tratamento precoce”, outros eram coagidos a receitá-lo e tomar parte nesse tenebroso “campo de experimentação e difusão da crueldade social” (*101). Submeter pacientes a pesquisas experimentais sem seu consentimento, receitar o “kit covid” para adiar internações ou adiantar a liberação de leitos prescrevendo “altas celestiais” (isto é, o desligamento dos equipamentos e a administração de um “tratamento paliativo”; *102) era um trabalho sujo necessário para fechar as contas de um punhado de operadoras de saúde, numa sombria demonstração de como a perversidade pode se converter em sistema de gestão (*103).

Logo se vê que a calamidade verde-amarela servia, em múltiplas frentes, como laboratório avançado de gestão do colapso. Para aquela que poderia ser, segundo o general Edson Pujol, a missão mais importante de sua geração, o Exército Brasileiro ampliou em cem vezes a produção de cloroquina nas suas instalações, depois de efetuar uma imensa compra de insumos (*104). Na batalha contra o vírus, os mecanismos de defesa subjetiva representavam armas de defesa nacional numa operação que as Forças Armadas admitiram ser essencialmente psicológica: mais do que uma cura para a doença, diz um ofício do Exército, tratava-se de “produzir esperança a milhões de corações aflitos com o avanço e os impactos da doença no Brasil e no mundo” (*105).

Que o esforço de guerra exigido pela pandemia escaparia aos padrões de um combate convencional, sempre foi evidente para a cadeia de comando global do enfrentamento ao novo vírus: “mais do que uma guerra, trata-se de uma guerrilha”, anunciou uma diretora da Organização Mundial de Saúde ainda em março de 2020. A declaração ecoa o paradigma de conflito irregular que há muito norteia os manuais militares, atentos à multiplicação de disputas assimétricas e fragmentadas, nas quais não é possível distinguir claramente as forças em confronto como no modelo clássico de “dois exércitos nacionais, um contra o outro”. E a perda de forma da guerra contemporânea – que assume cada vez mais um “caráter informal, dinâmico, flexível”, como explica um coronel brasileiro (*106) – talvez não seja estranha à perda de forma do trabalho, mas um indício de que a própria fronteira entre guerra e trabalho se esfumaçou…

Nova moda nas academias militares ao redor do mundo, o jargão da “guerra híbrida” descreve o embaralhamento entre operações de combate militar – abertas ou dissimuladas, conduzidas por forças terceirizadas – e engajamento de multidões civis nas redes sociais e nas ruas, a exemplo do que ocorreu ao longo da última década na Síria ou na Ucrânia (*107). Não deixa de ser curioso que uma outra combinação entre a gestão algorítmica de multidões e a coerção direta exercida por operadores subcontratados descreva o regime de trabalho de parte dos entregadores de aplicativos. Entre softwares e feitores, descobrimos uma gestão “híbrida” do trabalho?

Não são menos “híbridos” os contornos que a administração de territórios e populações cada vez mais ingovernáveis vem assumindo por aqui: é difícil distinguir os insurgentes das forças da ordem, e governar se confunde com demolir. Em sua bem sucedida operação de garantia da lei e da ordem num país em colapso, o governo federal contou com uma imensa rede de difusão do “tratamento precoce”, com movimentos sociais pela reabertura do comércio, das igrejas e das escolas, e com doações comunitárias e empresariais para os mais vulneráveis, sem jamais dispensar, contudo, o poder de fogo dos esquadrões oficiais e extraoficiais: as polícias brasileiras estabeleceram um novo recorde de letalidade no primeiro ano da pandemia (*108).

No fim das contas, o temor que levara o Congresso a defender um auxílio emergencial mais alto e mais amplo do que qualquer outro programa do tipo no país já não se justificava: a capacidade da população “de se virar em situações de crise” (*109) transformou o cenário devastado em “novo normal”, mesmo com a renda do trabalho em queda livre, a inflação nas alturas e o aumento vertiginoso da fome (*110). Diante disso, o pagamento do auxílio seria retomado depois de meses de indefinição, em patamares mais “realistas” – com alcance reduzido e valores inferiores –, e finalmente substituído por uma repaginação do Bolsa Família e linhas de crédito especial (*111). Recalibrada, a política de transferência de renda segue funcionando como “capital de giro” da viração (ali onde é por definição impossível separar o que é dinheiro “de caixa e o que é de casa”; *112) no arsenal dessa mobilização total para o trabalho.

Mesmo apartada dos riscos do front, a experiência do confinamento em casa – em regime de teletrabalho, assistindo a aulas remotas, sem emprego ou até monetizando seu desempenho em games – não escapou do esforço de guerra.

Por um lado, o isolamento social aprofundou a cisão histórica entre os contingentes qualificados e os demais trabalhadores, já que a segurança do home office não era uma opção para mais de 80% da população ocupada (*113). Por outro, a improvisação do escritório ou da sala de aula dentro de casa, arcando com custos que outrora caberiam aos empregadores, indica que características da informalidade têm atravessado todos os estratos da força de trabalho. De resistências silenciosas ao regime de vigilância e sobrecarga do ensino remoto (*114) até inusitadas greves de streamers (*115), as tensões desse teletrabalho disforme entre quatro paredes também produziram conflitos ao longo da pandemia. Diluída a fronteira entre os espaços de trabalho e descanso, a vida em quarentena é pressionada por uma cobrança incessante para se manter produtivo – entre cursos online para melhorar o currículo e exercícios físicos para manter a forma – “em uma mistura de ritmo de matadouro com lives sobre os desafios da paternidade e ensinamentos sobre ‘como viver sozinho e permanecer feliz’” (*116).

Nas ruas ou em casa, quem atravessa a vida como uma guerra, “trabalhando no compasso da morte” – sucumbindo um pouco a cada dia – já está meio morto. E “não há como fazer lockdown de mortos-vivos: eles atravessam barreiras, não se importam em morrer novamente” (*117). Mas o apocalipse zumbi, na cosmologia hollywoodiana, é também a imagem da insurreição (*118).


Esta é a terceira parte, de cinco, deste artigo anônimo e coletivo sobre as mudanças no mundo do trabalho e conflitos entre capital e trabalho no Brasil em pandemia. Leia as outras partes.

Masterclass de fim de Mundo (1): Conflitos sociais no Brasil em pandemia

Masterclass de fim do Mundo (2): Assalto à nuvem


Assina o artigo “um grupo de militantes na neblina”.
Fonte: Neblina.xyz

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Notas:

1-39: Masterclass de fim de Mundo (1): Conflitos sociais no Brasil em pandemia.

40-72: Masterclass de fim do mundo (2): Assalto à nuvem

73. Amazônia Real, “População de Macapá se revolta com apagão”, YouTube, 8 nov. 2020. Para um registro das mobilizações durante o blecaute, ver Transe, “SOS Amapá - O apagão e as lutas”, YouTube, 19 nov. 2020.

74. “Decreto Nº 3915 de 17/11/2020”, Diário Oficial do Estado do Amapá, 17 nov. 2020.

75. A catástrofe que se abateu sobre o Amapá pode antecipar, em menor escala, o cenário de colapsos energéticos por vir – vide o alarme falso para novos apagões em cinco estados brasileiros no segundo semestre de 2021, em decorrência da seca (Alexa Salomão, “Governo emite alerta de emergência hídrica em 5 estados e vai criar comitê para acompanhar setor elétrico”, Folha de S. Paulo, 27 mai. 2021). Num quadro de emergência climática, do qual a crise hídrica é só um dos componentes, não surpreende que os custos e riscos fiquem por conta da população – para isso convergem tanto a enfermidade ambiental quanto os remédios prescritos por governos e organismos internacionais, como a “taxação de carbono: um imposto adicional específico para produtos (...) poluentes, (...) altamente regressivo” (Antonio Celso, “Dirigindo pelo retrovisor”, Passa Palavra, 15 ago. 2021). Vale lembrar que a criação de um encargo nesses moldes foi o estopim do movimento dos “coletes amarelos” na França em 2019.

76. Agência France Press, “A busca desesperada por oxigênio em Manaus para salvar pacientes em casa”, Estado de Minas, 18 jan 2021.

77. Ludmila C. Abílio, “Breque no despotismo algorítmico: uberização, trabalho sob demanda e insubordinação”, Blog da Boitempo, 30 jul. 2020.

78. Sobre a força política do não governo como modo de governar, espécie de “governo da suspensão” inaugurado por Bolsonaro em sua “empreitada revolucionária”, ver Miguel Lago, “‘Batalhadores do Brasil…’”, Piauí, mai. 2021.

79. Tom Slee, Uberização: a nova onda do trabalho precarizado, São Paulo, Elefante, 2017.

80. Raquel Azevedo, “Qual a origem de uma renda sem contrapartida?”, Passa Palavra, 14 set. 2020 e Nelson Barbosa, “Renda básica universal”, Folha de S. Paulo, 27 ago, 2022.

81. Faz sentido que, durante o apagão no Amapá em novembro, o pagamento do auxílio – reduzido naquele momento a 300 reais – tenha sido extraordinariamente mantido em 600 reais por decisão do STF. Ver José Antonio Abrahão Castillero, “Amapá: protestos garantem auxílio emergencial de 600 reais”, A Comuna, 15 nov. 2020.

82. Organizados em “redes de vizinhos em prédios, movimentos de favelas, redes de solidariedade entre ocupações urbanas” etc. (Victor Hugo Viegas Silva, “Quem fez e faz a quarentena no Brasil? Os trabalhadores!”, Crônicas do Titanic, 21 ago. 2020).

83. O termo é, mais uma vez, de Ludmila Abílio (“Uberização: Do empreendedorismo para o autogerenciamento subordinado”, Psicoperspectivas, v. 18, n. 3, nov. 2019).

84. Ver Alfredo Lima, “Barreira sanitária é vida, flexibilização é morte!”, Passa Palavra, 21 jun. 2020 e Renato Santana e Tiago Miotto, “Povos indígenas reforçam barreiras sanitárias e cobram poder público enquanto covid-19 avança para aldeias”, Conselho Missionário Indigenista, 29 mai. 2020. Para uma entrevista com moradores que participaram de um desses bloqueios na região de Trindade, ver Invisíveis, “Paraty: barreira sanitária e retomada territorial”, Passa Palavra, 27 set. 2020.

85. Antes mesmo do coronavírus aterrissar no Brasil, a imagem de uma “quarentena gambiarra” (“bricolage quarantine”) já era usada para analisar como as “más conexões entre todos os níveis do governo” resultaram em esforços conflitantes para lidar com o surto inicial do vírus na China, da “repressão dos médicos ‘denunciantes’ por autoridades locais” a medidas sanitárias aplicadas de modo aparentemente aleatório por cada localidade, fora do controle do poder central. (Chuang, “Contágio Social”, Centro de Estudos Victor Meyer (CVM), 17 mar. 2020). A falta de confiança de “que o Estado teria capacidade de efetivamente conter o vírus” resultou em uma “mobilização massiva em resposta à pandemia, com grupos de voluntários provendo todo tipo de serviços, tanto para conter o contágio quanto para ajudar as pessoas a sobreviver”, além de bloqueios feitos por moradores na entrada de vilas no interior do continente (ver a entrevista com Chuang por Aminda Smith e Fabio Lanza, “The State of the Plague”, Brooklyn Rail, set. 2021).

86. Ver Paulo Arantes, “Sale boulot”, em O novo tempo do mundo, cit. Dentro dos contornos mal definidos da “zona cinzenta” do gerenciamento privado do sofrimento, está também o infectologista que ratifica – a serviço da “consultoria” firmada em contratos vultosos com este ou aquele renomado hospital – a cínica “picaretagem” de colégios particulares que, mesmo no auge da pandemia, “deram um jeito” de abarrotar de alunos suas salas mal ventiladas; está o professor, resignado ao retorno presencial e forçado a fazer vista grossa à inevitável quebra dos protocolos sanitários entre os alunos para assim garantir, precariamente, o seguimento das aulas; está o motorista autônomo de van escolar que, sem crianças para levar e sem dinheiro, encontrou uma fonte de renda temporária no transporte de defuntos em meio à alta de óbitos na capital paulista. Isso para ficar só em alguns exemplos escolares. (Ver Roberto Acê Machado, “Esse ano não tem bandeirinha”, Le Monde Diplomatique Brasil, 10 fev. 2021; Aline Mazzo, “Vans escolares vão transportar mortos por Covid até cemitérios de SP”, Folha de S. Paulo, 29 mar. 2021 e, ainda, Carolina Catini, “O brutalismo vai à escola”, Blog da Boitempo, 13 set. 2020).

87. O papel da viração na reprodução desse colapso sem fim é evidente para o presidente de um instituto de pesquisas, estudioso da chamada “nova classe média brasileira”, segundo o qual, “a favela que impediu o Brasil de quebrar na pandemia. ‘A pessoa que recolhe lixo, a auxiliar de enfermagem, o cobrador e o motorista do ônibus são moradores de favela. As classes A e B só conseguiram entrar em quarentena porque os moradores de favela continuam trabalhando’” (Henrique Santiago, “Favela S/A”, UOL, 13 dez. 2020).

88. Victor Hugo Viegas Silva, “O Auxílio Emergencial não acabou em janeiro. Foi acabando aos poucos - e sem chance de defesa”, Crônicas do Titanic, 28 jan. 2021.

89. Para uma observação sobre o papel de novas tecnologias, do Airbnb ao internet banking, na viração praieira durante esse “período de ultravalorização temporária dos terrenos”, ver Três trabalhadores de férias, “Uma tarde na praia”, Passa Palavra, 28 jan. 2019.

90. Victor Hugo Viegas Silva,, “A revolta de Búzios contra o lockdown e a conexão evangélica x #AglomeraBrasil (2)”, Crônicas do Titanic, 4 jan. 2021.

91. “Decreto N.°43.234, de 23 de dezembro de 2020”, Diário Oficial do Estado do Amazonas, 23 dez. 2020.

92. Victor Hugo Viegas Silva, “A revolta popular de Manaus e os dilemas do lockdown (3)”, Crônicas do Titanic, 6 jan. 2021.

93. Serafim Oliveira, “Movimento Todos pelo Amazonas e a Covid-19 - O risco da suspensão das atividades causar perdas econômicas e a ascensão dos movimentos populares”, O Conservador, 4 jan. 2021.

94. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Médicos, 34,7% dos médicos ainda acreditavam em alguma eficácia da cloroquina em junho de 2021, e 41,4% confiavam na utilização de ivermectina para o tratamento ou a prevenção da covid-19. (Paula Felix, “Pesquisa diz que 1/3 dos médicos ainda acredita na cloroquina, comprovadamente ineficaz contra covid”, O Estado de S. Paulo, 2 fev. 2021).

95. Victor Hugo Viegas Silva, “‘A culpa não é nossa’ e ‘precisamos fazer alguma coisa agora’: Entre a luta do lockdown e o tratamento precoce há um fio tênue”, Crônicas do Titanic, 12 abr. 2021.

96. Victor Silva, “O que dizem no WhatsApp médicos a favor da cloroquina”, Folha de S. Paulo, 19 jun. 2021.

97. “Automedicação é um hábito comum a 77% dos brasileiros”, G1, 13 mai. 2019.

98. Na pandemia, os ônibus são, mais do que nunca, veículos da morte: em São Paulo, quem morre mais é “quem saiu para trabalhar e realizou percursos longos de transporte coletivo” como mostram Raquel Rolnik e outros, “Circulação para trabalho explica concentração de casos de Covid-19”, LabCidade, 30 jun. 2020.

99. Ver Christophe Dejours, A banalização da injustiça social, São Paulo, FGV, 2000.

100. O discurso tachado de “negacionista” e suas panaceias estão em sintonia com um mundo em que a “desigualdade torna a quarentena um luxo insustentável para os mais pobres”, como observou Rodrigo Nunes. “Se em outros tempos o sacrifício era apresentado como uma maneira de melhorar de vida, ele agora é um fim em si mesmo. (…) há um sentido em que é possível afirmar que as fantasias da extrema direita oferecem, ainda que de forma irracional, uma resposta razoável à insanidade que estamos atualmente construindo. Reduzir o poder que essas fantasias têm de falar às pessoas a mero efeito das fake news é uma tentativa de negar esse fato fundamental.” (“O presente de uma ilusão: estamos em negação sobre o negacionismo?”, Piauí, mar. 2021).

101. Paulo Arantes, “Sale boulot”, cit., p. 109. No segundo semestre de 2021, trabalhadores da Prevent Senior vieram a público denunciar uma série de práticas irregulares que eram forçados a adotar no tratamento de pacientes com covid-19. A empresa ocupa um nicho de mercado formado pelos idosos que não podem arcar com os valores exorbitantes dos planos de saúde para a faixa etária, mas reservam como podem seus recursos para garantir assistência médica privada. Com tarifas reduzidas e um público-alvo que demanda serviços hospitalares com maior frequência, a companhia sempre recorreu a “jeitinhos” capazes de evitar ou adiar procedimentos dispendiosos para manter a lucratividade. Durante a pandemia, que se abateu mais fortemente sobre os mais velhos, essas práticas ganhariam contornos ainda mais macabros. Outras operadoras, como a HapVida e algumas unidades da UniMed, também foram denunciadas. Além das reportagens da época, ver o podcast “Prevent Senior não deveria ter sido aberta, diz especialista”, com entrevista de Ligia Bahia por Maurício Meireles e Magê Flores, Café da manhã, Folha de São Paulo, 11 out. 2021.

102. Arthur Rodrigues, “Direção da Prevent cobrava 'altas celestiais' para liberar leitos a pacientes VIP, diz advogada em CPI”, Folha de S. Paulo, 21 out. 2021.

103. “O ‘mal’ se representaria hoje como um sistema de gestão, como um princípio organizacional: das empresas, dos governos, de todas as instituições e atividades, em suma, que, organizadas segundo esse mesmo princípio, foram se convertendo em centros difusores de uma nova violência e incubadoras de seus agentes, os ditos colaboradores do nosso tempo.” (Paulo Arantes, “Sale Boulot”, cit. p. 102).

104. Exército Brasileiro, “Mensagem do Comandante do Exército - COVID-19”, YouTube, 24 mar. 2020.

105. Lisandra Paraguassu, “Em ofício, Exército defendeu sobrepreço de 167% em insumos da cloroquina por necessidade de ‘produzir esperança’”, Reuters, 22 dez. 2020.

106. Alessandro Visacro, Guerra Irregular, São Paulo, Contexto, 2009. Com a experiência em campo no Haiti e nas favelas brasileiras, o oficial atualizou sua reflexão em A guerra na Era da Informação, São Paulo, Contexto, 2019.

107. Antes de ganhar novamente as manchetes com a escalada do conflito na Ucrânia, a expressão “guerra híbrida” se difundiu em meio à onda de protestos nos países árabes, a partir de 2011, e passou a ser amplamente utilizada por governantes e analistas para reduzir as convulsões sociais cada vez mais frequentes ao redor do planeta a obscuros complôs geopolíticos (ver Jonas Medeiros, “‘Guerras Híbridas’, um panfleto pró-Putin e demofóbico”, Passa Palavra, 28 jan. 2020). Se o discurso sobre uma “guerra híbrida” conduzida por agências do imperialismo yankee tem amparado a fantasia oficial da esquerda sobre o processo político brasileiro pós-2013, o antropólogo Piero Leirner observou como a mesma noção corre com sinal invertido no interior das Forças Armadas – preocupadas com um suposto projeto oculto de hegemonia cultural conduzido pela esquerda “gramscista” desde a década de 1980 no país. O pesquisador sustenta que nos últimos anos o próprio Exército Brasileiro passou a se orientar pelos princípios do conflito híbrido para dirigir uma campanha doméstica, na qual a eleição de 2018 representaria um episódio chave (O Brasil no espectro de uma guerra híbrida, São Paulo, Alameda, 2019).

108. As polícias brasileiras assassinaram 6.416 pessoas em 2020. Dentre as vítimas, 78,9% eram negros. O ano de 2021 começou com a segunda maior chacina da história do Rio de Janeiro, levada a cabo pela polícia civil na favela do Jacarezinho. Ver Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 15º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2021.

109. Como aquele mesmo presidente de um instituto de pesquisas descreve o “ímpeto empreendedor” da favela (Henrique Santiago, “Favela S/A”, cit.).

110. Leonardo Vieceli, “Pandemia empurra 4,3 milhões para renda muito baixa nas metrópoles brasileiras”, Folha de S. Paulo, 6 jul. 2021.

111. Wellton Máximo, “Beneficiários do Auxílio Brasil terão acesso a crédito especial”, Agência Brasil EBC, 12 ago. 2021.

112. “Não adianta dizer para o favelado separar o que é [dinheiro] de caixa e o que é de casa. Se for juntar dinheiro para empreender, não vai juntar nunca”, explica Celso Athayde, CEO da Favela Holding (Henrique Santiago, “Favela S/A”, cit.).

113. Entre maio e novembro de 2020, a média de pessoas trabalhando de forma remota ou afastadas devido ao distanciamento social correspondeu a 17,6% da população ocupada no Brasil (cerca de 14,5 milhões de pessoas). Os trabalhadores que puderam exercer suas atividades laborais à distância “foram majoritariamente compostos por pessoas com escolaridade de nível superior completo. Com menor intensidade, mas ainda responsável pela maioria das pessoas em home office, tem-se o gênero feminino, a cor/raça branca, a faixa etária de 30 a 39 anos e o vínculo empregatício com o setor privado”. Também “observa-se, tanto para o setor privado quanto para o público, uma forte participação dos profissionais de ensino” (Geraldo Sandoval Goés e outros, “Trabalho remoto no Brasil em 2020 sob a pandemia do Covid-19: quem, quantos e onde estão?”, Carta de Conjuntura, n. 52, IPEA, 2021).

114. A implementação emergencial do ensino remoto esbarrou em sérios obstáculos materiais e sociais, como a falta de estrutura e equipamentos nas casas dos alunos (“Ensino remoto na pandemia: os alunos ainda sem internet ou celular após um ano de aulas à distância”, BBC Brasil, 3 mai. 2020). Ao mesmo tempo, acelerou um processo de reestruturação do trabalho docente que já estava em curso, acirrando tensões, como registram os depoimentos de professores das redes privada e pública reunidos pelo boletim A Voz Rouca durante os primeiros meses da pandemia (“Diários de Quarentena”, Passa Palavra, 25 mai. 2020 e Professores Autoconvocados, “Pequeno manual de resistência no EaD”, Passa Palavra, 28 abr. 2020, sobre a reestruturação produtiva na educação básica e no ensino superior ver, por exemplo, Carolina Catini, “O trabalho de educar numa sociedade sem futuro”, Blog da Boitempo, 6 jun. 2020). Do outro lado da chamada de vídeo, os estudantes que conseguiam se conectar também testavam sua margem de ação num ambiente transformado, criando “novas formas de sabotagem escolar no EAD” (para uma compilação de algumas dessas táticas por “uns mal educados”, ver o Boletim do GMARX-USP, n. 22, 14 mai. 2020). Foi também por meio de ferramentas online que professores das redes públicas organizaram greves, já em 2021, para boicotar o retorno presencial às salas de aula antes da vacinação. Durante a segunda onda, carreatas de docentes grevistas e protestos de motoboys chegaram a se juntar em São Paulo – apesar do abismo de realidades e de linguagem, faixas de ambos os lados convergiam na reivindicação da vacina (João de Mari, “Professores e entregadores de app se unem em greve contra retorno presencial e pedem vacina contra a Covid”, Yahoo! Notícias, 16 abr. 2021).

115. Em agosto de 2021, streamers e viewers da plataforma Twitch, adquirida em 2014 pela Amazon e amplamente utilizada para a transmissão ao vivo de partidas e campeonatos de games, se uniram para um dia de “apagão” do serviço, contra a redução de 66% no valor das subs (isto é, do pagamento) dos canais brasileiros. Como nos movimentos de entregadores de app, as reivindicações desses produtores de conteúdo uberizados fugiam à gramática trabalhista de esquerda, criticando os projetos de regulamentação e a carga de impostos (ver Alexandre Orrico e Victor Silva, “Por dentro da greve de streamers da Twitch no Brasil”, Núcleo, 23 ago. 2021).

116. Vladmir Safatle, “Não falar”, El País, 10 ago. 2020.

117. Isadora Guerreiro, “Lockdown: o problema e o falso problema”, Passa Palavra, 15 mar. 2021.

118. Comitê Invisível, Aos nossos amigos: crise e insurreição, São Paulo, N-1, 2016.

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