Correio da Cidadania

Uma alternativa para 2022 e para o futuro

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Foto: Arquivos Ecossocialismo - PSOL

Há muitos motivos para não querer que Bolsonaro se reeleja. Democratas, se preocupam com a democracia. Financistas, com o teto de gastos. Trabalhadores, com a inflação e o desemprego. Uns, lamentam Marielle e Moise. Outros, só querem vacina e bom senso.

A volta de Lula tem se mostrado como a alternativa mais competitiva. Mas quem não suporta o PT, sonha com uma terceira via. Alguém confiável para os negócios, mas discreto para a política. Para este papel, não faltam candidatos. Faltam votos.

Acreditamos que é preciso uma quarta via. Porque estas candidaturas podem derrotar Bolsonaro, mas não o bolsonarismo. Afinal, o bolsonarismo não é a causa de nossos problemas: ele é uma de suas expressões.

As causas têm a ver com a forma da reprodução social no mundo atual. Em uma palavra, com o neoliberalismo. Mais do que uma agenda econômica, o neoliberalismo é um modo de vida, marcado por dinâmicas de seleção e exclusão. É o mundo do empreendedor de si, que precisa superar a si e aos concorrentes todos os dias. Um mundo mimetizado no Big Brother: sem paredão, não há show.

O outro lado do empreendedorismo é o desamparo. Assim como o outro lado da pressão para performar, é a depressão. Desta engrenagem social que destila medo, ódio e indiferença, ninguém está a salvo.

O bolsonarismo alimenta e acelera esta dinâmica social: se a vida é uma luta, o melhor é se armar.

O lulismo pretende conter esta dinâmica, mas não a modifica. Pode incluir mais pessoas via consumo. Mas como esta espécie de “neoliberalismo inclusivo” é uma impossibilidade lógica (pois o neoliberalismo continua produzindo exclusão), a frustração é inevitável. Enquanto isso, outras Belo Montes virão.

É preciso outra candidatura, porque o mundo precisa de outra via.

Alterar os termos do debate público é urgente, qualificar o diálogo político é uma necessidade. Espremido entre bolsonarismo, lulismo e terceira via, o mercado eleitoral tende a invisibilizar alternativas societárias diversas das já experimentadas. Candidaturas à esquerda, apontam para essas alternativas.

É certo que não superaremos o bolsonarismo apenas com eleições, assim como não evitaremos pandemias futuras somente com ciência. O mundo precisa de outras formas de vida. É necessária uma política que diga isso.

O ecossocialismo é uma destas políticas. Ainda que um mundo ecológico e socialista não esteja ao alcance das mãos, diversas medidas estão: a supressão da miséria por meio da tributação progressiva dos mais ricos (agronegócio, bancos, empreiteiras), uma auditoria das dívidas, o estímulo à economia popular e ao consumo sustentável, a reversão dos desmatamentos, a desprivatização do Estado em favor das urgências sociais dos mais pobres.

Sabemos que essas e outras medidas não seriam sustentadas por um governo meramente gerencial ou apaziguador de conflitos. A reoxigenação da participação política, a radicalização democrática, o protagonismo dos trabalhadores e dos movimentos populares, bem como a renovação crítica que as universidades começam a trilhar, são pré-requisitos culturais para uma transformação social de porte em nosso país.

Daí a importância das difíceis lutas e realizações da oposição de esquerda ao lulismo, antes, e ao bolsonarismo agora. Esquerda socialista representada por partidos (PSOL, PCB, PSTU, UP), pela frente política Povo na Rua e pela central sindical CSP-Conlutas. Que reconhece ser necessário aprofundar o diálogo com todos que vivem do trabalho.

O papel da esquerda é alimentar a transformação. Talvez o ecossocialismo não dê votos agora. Mas dará a todos, um futuro.

Porque se esta dinâmica social não for modificada, outros Bolsonaros surgirão. Mas se este planeta não for cuidado, outros planetas não surgirão.

Precisamos de um mundo onde as pessoas caibam. E precisamos da natureza, para que haja mundo.   
 
É preciso ir além dos sintomas. Ir além de Lula, para desarmar Bolsonaros. Propor alternativas a este modo de vida, não é certeza de que sairemos dessa. Mas se não o fizermos, é certeza de que não sairemos.


O artigo foi publicado originalmente na Folha de São Paulo e tem a autorização dos seus autores para a publicação no Correio da Cidadania.

Assinam o artigo:

Fabio Luis Barbosa dos Santos (Professor de História e Relações Internacionais - UNIFESP)
Isabel Loureiro (Professora aposentada de Filosofia - UNESP)
José dos Santos Souza (Professor de Economia Política da Educação - UFRRJ)
José Paulo Guedes Pinto (Professor de Economia - UFABC)
Leandro Machado (Professor de Sociologia da Educação - UFRRJ)
Luciano Coutinho (Professor de Biblioteconomia - UFRJ)
Marco Antonio Perruso (Professor de Sociologia - UFRRJ)
Marcos de Oliveira Soares (Professor de Geografia - UFSCAR)
Marinalva Silva Oliveira (Professora da Faculdade de Educação - UFRJ)
Plínio de Arruda Sampaio Jr. (Professor aposentado de Economia - UNICAMP)
Ruy Braga (Professor titular de Sociologia - USP)
Viviane Becker Narvaes (Professora de Artes Cênicas - UNIRIO)

 

 

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