Assassinos da vida e da memória
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- Gizele Martins, Ponte
- 13/05/2022
Foto: Caveirão sendo usado para derrubar memorial da Chacina do Jacarezinho. Reprodução.
Na tarde do dia 11 de maio de 2022, policiais da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) derrubaram o memorial construído há menos de uma semana no Jacarezinho, favela localizada na zona norte do Rio de Janeiro, em homenagem às vítimas da Chacina do Jacarezinho. O monumento foi erguido uma semana antes, no ato de um ano da chacina. Uma ação feita pelas mãos dos familiares que há um ano perderam seus filhos e parentes numa das maiores chacinas ocorridas na história da cidade.
Derrubar um memorial que dava nome e sobrenome às vítimas daquele massacre é extremamente violento. Os nomes e sobrenomes de cada um foram arrancados por policiais mostrando mais uma vez suas práticas racistas e de ódio ao povo que habita o território favelado. Após a retirada dos nomes, eles amarraram a parte de concreto com uma corda e o restante do memorial foi derrubado por um caveirão (carro blindado da polícia). Ou seja, os mesmos que matam a vida negra e favelada, querem matar e apagar também a memória.
Diante desse desrespeito e violento fato militarizado, perguntamos quem pode dar nomes às ruas e placas tendo suas memórias louvadas, homenageados, expostas e ter bustos erguidos espalhados pela cidade? Quem dita nossas histórias, memórias, narrativas de vida ou mesmo de morte? As vítimas fatais da chacina do Jacarezinho foram violadas e marginalizadas duas vezes numa tentativa de apagamento de seus nomes e sobrenomes. O próprio memorial que foi derrubado, dizia: “Nenhuma morte pode ser esquecida e que nenhuma chacina pode ser normalizada”.
Não, por acaso, a luta por memória, justiça, verdade e reparação é contínua. Ela não começou hoje em nosso país. Nossas histórias, por exemplo, não estão e nunca estiveram nos livros didáticos, não estão e nunca estiveram nas telenovelas e telejornais sem qualquer tipo de estereótipo. Por isso, lutamos hoje e sempre pela vida e pela memória, para que um dia tenhamos as ruas com nomes não de generais, mas de povo que foi e ainda é vítimas do Estado assassino, das polícias e destes generais ainda homenageados nesta dita democracia. Já passou da hora da história e da memória desse país mudar. Nós existimos e nossas memórias não serão apagadas, jamais!
O artigo foi publicado originalmente na Ponte em 12 de maio de 2022.
Gizele Martins é jornalista e comunicadora comunitária da Maré, integrante dos movimentos de favelas e autora do livro “Militarização e Censura”, além de doutoranda na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ECO/UFRJ).
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Comentários
São cada vez mais frequentes os casos de ações policiais truculentas, abusivas e por vezes ilegítimas e criminosas que vemos publicados nos jornais - sobretudo no Rio de Janeiro – como foi a genocida operação no Jacarezinho que deixou 28 mortos e a ação do BOPE nesta terça (24) na Vila Cruzeiro que resultou na morte de 25 pessas.
Duas chacinas causadas pela polícia, um verdadeiro massacre e nada tem sido feito pelo governo do Estado para conter a atuação arbitrária das forças policiais e pôr fim a essa verdadeira barbárie.
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