Correio da Cidadania

Incompetência? Não, impotência

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Acampamento bolsonarista-golpista no QG do Exército em Brasília dobrou de  tamanho em um mês | Revista Fórum
Essa tentativa de golpe não foi barrada por resistência interna. Ela foi barrada por uma composição de interesses globais.

Por que Biden e líderes da União Europeia (UE) manifestaram tão rápida e conjuntamente apoio a Lula, quando o quadro ainda era indefinido em Brasília no último domingo? Por que, no Brasil, a GloboNews foi tão incisiva na condenação dos atos, quando a CNN inicialmente apenas noticiava e a Jovem Pan manifestava apoio, contando que haveria apoio militar aos golpistas?

Reflexões sobre isso não devem ser escanteadas, para que não haja super ou subestimações dos potenciais perigos ainda existentes.

Arrisco afirmar que decidiu-se no Brasil uma batalha de perspectiva global entre os governos ditos social-liberais, ou conservadores não autoritários, contra extremas-direitas em ascensão em todos os continentes.

Biden e Macron, para além do alemão Scholz enfrentam, em seus países, tensões semelhantes às que o governo Lula no Brasil. Trump, nos EUA; Le Pen, na França; neonazistas, na Alemanha, são todos emuladores dos segmentos mais reacionários, xenófobos e autoritários em suas sociedades.

A vitória de um golpe de força no Brasil – fato admissível se recuperamos documentos oficiais e declarações de altos comandos inteiramente tomados pela doutrinação anticomunista e negacionista, via antipetismo, dos últimos quatro anos – não seria um raio em céu azul. Com muito menos apoio social do que a atual, e sem ter diante de si uma sociedade progressista sustentando o governo legal, os golpistas não tiveram problema em estabelecer ditaduras em todo o continente, no cenário da Guerra Fria.

Por que não resultou? Já está comprovado que não foi por eficácia da resposta efetiva do governo Lula. Pelo contrário. Evidentemente porque, no cenário atual, a sinalização internacional foi contraria à de 64. Os governos que decidem a política global estão, todos eles, empenhado na garantia de hegemonia sem problemas de uma centro-direita mercadistas, privatista, com concessões assistenciais internas.

Apoiam a guerra contra a Rússia, via o paspalho ucraniano Zelenski, mas não por campanha anticomunista, e sim por disputa de espaços de influência geopolítica. E o correspondente tabajara de Trump, Le Pen, Orban e companhia não poderia prevalecer no seu intento contestatório do resultado das eleições que levou a Frente Amplíssima de Lula ao Planalto.

Isso quer dizer que a derrota atual, bastante significativa, da direita toscofascista, representada conjunturalmente pelo bolsonarismo, esteja neutralizada? Nem pensar. E a não ser que os segmentos progressistas da sociedade decidam se acomodar diante da possibilidade da “pacificação” que resulte em retomada agravada da antiga “conciliação”, e o restabelecimento do “PTucanismo” macroeconômico, objetivo traduzido pelo bizarro apoio escancarado da Globo ao governo Lula, medidas concretas devem ser exigidas.

É necessário que se reforme o alto comando militar na direção de romper com a tradição de que hierarquia e disciplina militares, transferidos para a vida civil, e sua subalternidade a uma ordem que considera quebra de disciplina não respeitar o comando de classes dominantes, classificadas como “promotoras de emprego” e não como exploradoras de força de trabalho. Nem considere subversivas as propostas de reformas estruturais voltadas a quebrar os privilégios do grande capital.

A luta de classes não cessa, como afirma Warren Buffet, magnata da especulação financeira mundial. Não se encerra com a derrota conjuntural das ameaças autoritárias. Ela apenas muda de forma. E cabe à esquerda consciente tensionar para que o governo não caia na arapuca regressiva que lhe está armada internamente, e se afirme como popular e democrático, implementando as reformas estruturais inadiáveis.

Luta que segue!

Milton Temer é jornalista e ex-deputado federal pelo PT. Foi expulso do Exército em 1964, após o golpe militar.

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