O apagão de José Serra e da mídia
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- Altamiro Borges
- 14/03/2008
No início deste ano, a mídia venal fez o maior terrorismo sobre o risco de um apagão energético no país. O alvo era o presidente Lula. Na seqüência choveu, como é de costume nesta estação, os reservatórios voltaram ao normal, a imprensa mudou de assunto sem fazer qualquer autocrítica e passou a tratar de outro "risco iminente" – a febre amarela, que também era falso. Agora, porém, a capital do estado mais rico do Brasil fica sem luz por várias horas e a mesma mídia, sempre tão vigilante, não faz seu costumeiro escarcéu, confirmando que o governador Serra é seu protegido.
Na semana passada, uma explosão na subestação Bandeirante da Companhia Transmissora de Energia Elétrica Paulista (CTEEP) deixou quase 3 milhões de famílias sem luz. O incidente paralisou as estações do Metrô, desligou os semáforos da capital dos 6 milhões de automóveis e atingiu até o gerador do Hospital das Clínicas, o maior da América Latina. José Serra quase não foi incomodado pela mídia hegemônica, que também preferiu nada falar sobre os efeitos nefastos da criminosa privatização da energia, promovida pelos 13 anos de reinado tucano em São Paulo.
Demissões e falta de investimentos
A CTEEP foi leiloada no ano passado, sendo adquirida a preço de banana pelo grupo colombiano ISA, um dos maiores do setor na América Latina. Segundo Antonio Carlos dos Reis, o Salim, presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, a privatização foi desastrosa e explica o apagão energético na capital. "A empresa privatizada reduziu o número de funcionários de cerca de 3.200 para 1.200. Nas subestações não há quase ninguém trabalhando. Com o crescimento do PIB, a demanda de energia aumenta, mas não há investimentos em infra-estrutura para suportar".
Salim avalia que devem ocorrer novos apagões, causando transtornos à população. Ele denuncia que a multinacional não faz a manutenção preventiva dos equipamentos visando reduzir custos. Diante destes graves fatos, critica o processo em curso de privatização da Companhia de Energia de São Paulo (CESP), a nova obsessão do governador José Serra. Para ele, é falso o discurso dos neoliberais sobre a maior eficiência do setor privado. "Quando a Eletropaulo era estatal, ganhava prêmios de empresa com melhor serviço. Hoje, privatizada, fica em décimo lugar no ranking".
Leilão da Cesp e silêncio midiático
Apesar destes dados irretocáveis, os tucanos continuam com a sua sanha privatista. Está marcado para 26 de março o leilão da Companhia Energética de São Paulo (CESP). Apenas cinco empresas – quatro delas multinacionais – participarão da negociata. Outras oito que manifestaram interesse na geradora, inclusive outras estatais, desistiram do leilão com críticas à falta de transparência no processo. Já é tido como certo que a privatização causará demissões em massa, aumento da tarifa de energia e piora na qualidade do serviço. Diante deste risco, o Comitê Contra a Privatização da CESP, que reúne várias entidades, está convocando protestos e entrará com liminares na justiça.
A mídia venal, que fez tanto alarde contra o hipotético apagão energético do governo Lula, nada fala sobre os efeitos nefastos da criminosa privatização tucana nem das manifestações contrárias da sociedade. De forma descarada, continua blindando o governador José Serra, pavimentando o caminho para a campanha presidencial do "vampiro". O apagão energético da capital paulista e o suspeito leilão da CESP, porém, servem para desmascarar os neoliberais e a sua mídia. É preciso muito "apagão mental" para confiar nesta gente.
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).
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