Correio da Cidadania

Os liberais e a mídia brasileira são hipócritas. Lula tem razão

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Presidente Lula em discurso na Etiópia, na abertura da 37º Cúpula da União Africana

“Quem vai devolver a vida de crianças que morreram sem saber porque estavam morrendo?”, presidente Lula

Se você ler esse texto, já deve ter em mente do que ele trata. Falamos aqui sobre o fato do fim de semana: a declaração do presidente Lula sobre o genocídio cometido pelo Estado Terrorista de Israel contra o povo palestino.

Nas palavras da grande mídia brasileira, do governo de “Israel” e dos nossos liberais, a fala de Lula representa o ato de “cruzar a linha vermelha”. A declaração teria sido a gota d’água. Antes disso, a linha da desumanidade não havia sido ultrapassada. A destruição da cidade de Gaza, bombardeio de hospitais e escolas palestinas, o dilaceramento de 10 mil pessoas, uma geração inteira de órfãos, a morte de 30 mil civis palestinos, sendo 13 mil crianças, era um “efeito colateral da guerra”, parte do direito Divino de “Israel” se defender dos terroristas do Hamas.

Os liberais brasileiros, que se intitulam os grandes defensores da liberdade e da vida, esbravejam e esperneiam diante da fala de presidente Lula, e buscam criar um fato político com isso. Atacam o presidente e o acusam de chocar o mundo, diminuir o tamanho do Brasil, desonrar a memória dos judeus mortos. Me parece que caso Lula falasse que a terra gira em torno do Sol, esses liberais iniciariam uma nova inquisição.

O interessante no discurso dos autoproclamados defensores da liberdade, é que tratam das mortes das mulheres e crianças palestinas como algo natural. É uma “tragédia”. Um “desastre humanitário o que acontece em Gaza”. É algo “triste”. Como se fosse fruto de um fenômeno exterior a ação humana e omitem a nomeação do que acontece como mortes e assassinato em massa, e retiram o nome do responsável por esse massacre.

O deputado Kim Kataguiri, do MBL, anunciou que vai pedir o impeachment de Lula, por conta de sua declaração. Esse mesmo deputado em um programa de internet chegou a dizer que era errado criminalizar o nazismo já que todos merecem liberdade de expressão. Já Eduardo Bolsonaro, que foi para as redes sociais esbravejar e dizer que o holocausto não deve ser banalizado, foi o mesmo que meses atrás comparou a obrigatoriedades da vacina do covid com práticas nazistas, e afirmou que os presos na tentativa de Golpe de Estado no 8 de janeiro estavam em campos de concentração semelhantes aos do holocausto. Bia Kicis, a deputada federal mais votada do Distrito Federal, também anunciou que irá propor o Impeachment de Lula. A mesma Bia, divulga constantemente vídeos de partidos de extrema direita e fascistas europeus, tendo viajado para a Europa e se reunido com políticos que abertamente admiram o fascismo e o nazismo.

O Brasil criado pela classe dominante é um país de hipócritas, cínicos e canalhas da pior espécie.

A nossa grande imprensa comete tudo menos jornalismo quando o assunto é geopolítica. Os telejornais são verdadeiras propagandas de guerra. Notícias que parecem terem sido redigidas direto do salão oval da Casa Branca.

No sábado, o tema era o fato de criticar o presidente Lula por ele, veja bem, não fazer uma declaração de luto pela morte de um político de oposição ao governo russo numa prisão russa. Uma morte onde não se foi dada às causas, de um político que era defensor do extermínio de muçulmanos, contrário à imigração e que caminhava ao lado de bandeiras com suásticas. É esse tipo de gente que foi comparado pela nossa mídia a Nelson Mandela.

No domingo, a fala de Lula se tornou um debate de termos em que os “especialistas” ouvidos, que por coincidência todos eram defensores do sionismo e de “Israel”, contavam como era errado comparar algo ao holocausto, debatiam se o termo genocídio é sociologicamente aplicado etc. Isso tudo para evitar a discussão de fundo: os trinta mil palestinos mortos, a destruição de suas cidades, o roubo de terras e a política colonial do Estado sionista desde sua fundação.

A mídia ficou mais escandalizada com as duras palavras de Lula do que a morte de milhares de crianças inocentes. Novamente: são todos cínicos, canalhas, hipócritas. A mídia ficou mais escandalizada com as duras palavras de Lula do com que a morte de milhares de crianças inocentes. Cínicos, canalhas, hipócritas.

A nossa burguesia, em seu desejo de fazer parte de um mundo Ocidental que nos expulsa e explora, tenta fazer, através de sua imprensa, com que enxerguemos o mundo com olhos ocidentais. Desse modo, essa própria burguesia nos cega. Os olhos brancos do Ocidente não trarão a verdade para um país de maioria negra. O peso da ideologia é forte demais. A morte de um neonazista na prisão choca para eles mais que a morte de 30 mil civis inocentes.

A burguesia parece querer nos levar ao abismo. Enquanto não chegam os segundos finais da breve história humana na Terra, eles se esforçam para acabar com aquilo que resta de nossa humanidade. O mundo tem pressa de chegar ao fim.

Um homem rompe o silêncio e diz ao mundo que estão matando mulheres e crianças de forma indiscriminada. Que exércitos estão agindo contra as leis internacionais, cometendo crimes de guerra e uma política de genocídio diante de nossos olhos. E esse homem é apedrejado.

Enquanto isso um criminoso de guerra, um nazista que participou do holocausto, recebeu aplausos do parlamento canadense. E um outro nazista é homenageado por liberais após sua morte.

Não se trata de banalizar o holocausto. Porém é importante fazer apontamentos sobre quem tem direito a “dor” e também sobre a “memória”. A escravização de africanos no Brasil, a dizimação de povos originários e qualquer massacre de povos não brancos ao redor do mundo é ignorada e relativizada pelos mesmos defensores da honra do povo judeu.

Imaginem se uma estátua de Hitler estivesse de pé na Alemanha ainda hoje. É algo difícil de conseguir raciocinar, pois é inimaginável. Porém, na Bélgica é comum ter estátuas de Leopoldo II. Rei belga que transformou grande parte do Congo e de seus moradores em sua propriedade particular, assassinando mais de quinze milhões de africanos, naquilo que foi o maior genocídio do século 20. Apesar de seus crimes, seu rosto não é conhecido e seu nome não é a imagem e semelhança da maldade.

O nazifascismo buscou fazer no continente Europeu aquilo que a Europa fez no resto do mundo. Campos de concentração, trabalho forçado, genocídio... Hitler foi a Europa se olhando no espelho. Justamente por isso sua atitude é imperdoável. “Como ele pode ter feito isso com a gente?”, fala o Ocidente, enquanto segue apoiando e gerando golpes de Estado no sul global, explorando e roubando recursos da África, invadindo o Oriente Médio...

Por fim, é importante dizer que o presidente Lula teve coragem. É papel da esquerda brasileira, suas figuras públicas, defenderem de forma aberta a afirmação de Lula e o povo palestino, além de denunciar o genocídio cometido pelo Estado Sionista.

A luta contra o genocídio palestino e o sionismo é uma luta de nossa geração e deve ser permanente. A luta contra o genocídio palestino e o sionismo é uma luta de nossa geração e deve ser permanente.

Enquanto a denúncia de Lula foi criticada por Luciano Huck, João Amoedo e Vera Magalhães, foi aplaudida de pé por mais de 50 chefes de Estado de toda a África. Esse é o fato político em questão. Lula foi uma voz do Sul Global contra o Ocidente, sua fome de guerra e sangue humano. E parece que alguns ainda não aceitam essa forma de observar as coisas.

Gabriel Santos é estudante da UFRGS e membro do PSOL.
Artigo retirado de Esquerda Online.

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