Correio da Cidadania

Um segundo turno entre dois bolsonaristas em São Paulo seria um desastre

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Reprodução/Band

Após sofrer ataques de todo tipo, pelas redes sociais da indústria de fakenews bolsonarista, da mídia hegemônica Faria Limer, da máquina do governo do Estado e da prefeitura e muito “fogo amigo” de setores da esquerda – certos amigos dispensam-nos de ter inimigos – Boulos continua liderando a disputa eleitoral. Uma proeza numa conjuntura de grande ofensiva da extrema-direita no mundo todo. Quem não observa esta avalanche fascista mundial na elaboração de sua política é “negacionista”, vive num universo paralelo, num mundo de formulas pré-fabricadas.

Na disputa eleitoral contra as duas faces do fascismo na maior cidade da América Latina “se sentam na margem do rio e pronunciam conferências moralizantes ante a torrente da luta de classes, não querem nadar para evitar que molhem os seus princípios”. Para se eximir das suas responsabilidades, adotam o discurso de que o processo eleitoral não é uma expressão, mesmo que distorcida, da luta de classes. Desconsiderando que o fascismo no mundo todo está utilizando justamente os processos eleitorais para chegar ao poder.

Nesta época de fragmentação e dispersão encontramos em vários países grupos e indivíduos que adotam o programa marxista, mas abdicam da analise marxista e leninista:

“O marxismo descobriu as leis que governam a sociedade capitalista e elaborou um programa científico baseado nas mesmas. É uma conquista colossal! No entanto, não basta elaborar um programa correto. É necessário que a classe trabalhadora aceite-o. Porém o sectário, por sua própria natureza, se detêm, uma vez cumprida a metade desta tarefa. Em lugar de participar ativamente na verdadeira luta das massas operárias, apresenta abstrações propagandísticas arrancadas de um programa marxista”. Trotsky, 1935 (Sectarismo, Centrismo e a IV Internacional)

Nos países semicoloniais, onde as tarefas anti-imperialista não foram realizadas e o enfrentamento ao fascismo é mais complexo, certa “intelectualidade de esquerda” e pequenas organizações, imaginam que basta introduzir palavras de ordem e os métodos mais “radicais” para colocar a classe em movimento. Acreditam que assim vamos superar o reformismo. Reformismo que tem enorme responsabilidade no crescimento da extrema-direita porque, de uma maneira geral, frustra as expectativas da população.

“Os erros da direção da Internacional Comunista e, por isso mesmo, do Partido comunista alemão pertencem, para retomar a terminologia bem conhecida de Lenin, à ”serie de asneiras ultraesquerdistas”. Mesmo as pessoas inteligentes podem cometer asneiras, sobretudo na sua juventude. Mas, como já aconselhava Heine, não se pode abusar. Quando as asneiras políticas dum certo tipo são cometidas sistematicamente, durante um longo período, além disso sobre questões muito importantes, elas deixam de ser simples asneiras e se tornam uma orientação. De que orientação se trata? A que necessidades históricas ela responde? Quais são as suas raízes sociais? Trotsky, 1931. (Revolução Alemã e a Burocracia Estalinista. Problemas Vitais do Proletariado Alemão)

Faltando menos de um mês para as eleições municipais em SP, que impacta todo o país, gostaríamos de dialogar com todas e todos que lutam contra o bolsonarismo. Boulos tem todas as condições de vencer. Mas sua presença no segundo turno não está garantida. Uma “orientação” errada, adotada num período de fascismo crescente, é catastrófica.

É um equívoco desperdiçar votos “nesta altura do campeonato”. Seria um desastre dois bolsonaristas no segundo turno. Por isso, é necessário o engajamento de todo mundo na campanha.


Paulo Pasin é metroviário aposentado do Metrô de São Paulo (SP) e ex-presidente da Fenametro (Federação Nacional dos Metroviários).

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