Correio da Cidadania

Viramos capitalistas?

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A economia brasileira está crescendo, mostram os indicadores econômicos. O candidato republicano nos EUA, Jonh McCain, e o presidente francês Sarkozy estão propondo que o Brasil faça parte do G-8. Parece que, finalmente, sob o governo de um ex-operário socialista, estamos virando uma potência capitalista. Mas será que assim viveremos melhor? Acredito que não, pois o capitalismo é um sistema que carrega "em si" a destruição e a submissão à reprodução da mercadoria.

 

O que precisamos, com urgência, é mudarmos os nossos referenciais de vida em sociedade, pois, sob o capitalismo, somos apenas um apêndice do mercado de consumo. Vivemos para consumir não interessa o quê e, desta maneira, girarmos a roda do capital. E, dizem, que o capital girando cria emprego, riqueza, PIBs, impostos etc. Assim teríamos de nos submeter à lógica do consumo individual, do capital e da mercadoria para que possamos sobreviver.

 

Mas será que esta ordem é tão inevitável? Será que não conseguimos, coletivamente, discutir projetos sociais, prioridades, sermos mais simples, decidirmos o que produzir, como produzir e priorizarmos o produzir para todos? Não podemos nos submeter à lógica do capital cegamente, pois a sociedade da mercadoria, tão bem vista pelos defensores do capitalismo incrustados em toda parte, mas principalmente no G-8, está entrando em contradições insolúveis. Pois esta sociedade só sobrevive à custa do consumismo, mas o consumo desenfreado está levando à lógica destrutiva, à lógica da impossibilidade do viver humano.

 

O chamado desenvolvimento sustentável não pode existir dentro da lógica destrutiva do capital porque o sistema necessita, constantemente, para a sua reprodução, que a natureza seja dizimada, pois sabemos que a matéria prima advém da natureza. Assim, o capital, para a sua reprodução, necessita explorar o ser humano e a natureza. Mas será que aceitaremos viver para satisfazer as necessidades criadas por um mercado anárquico e destruidor de vidas e consciências, como é o mercado capitalista, que nos submete e nos torna seu dependente? Neste sistema, podemos ser, quando muito, um consumidor ciente de nossos direitos. Assim, criam-se órgãos de defesa do consumidor. Nada contra, mas quero alertar que esta é, quase sempre, uma atividade individual, um direito individual do consumidor. E a hora é de priorizarmos a organização social, a luta pelo direito ao consumo coletivo, sob controle social, necessário e que conviva com a natureza. Hoje, ainda continuamos tendo referência no status que a mercadoria, seja ela roupa, carro, casa e tantas outras nos trazem. Desejamos ter mais do que outro, acumular bens e capital, fazer investimentos. Tudo individualmente.

 

Alternativamente, poderíamos conviver com a natureza, satisfazendo as nossas necessidades básicas e, indo além, debatendo as novas necessidades que constantemente criamos e recriamos. Deveríamos priorizar as discussões e a produção coletiva, mesmo considerando as diferenças individuais. Deveríamos colocar o desenvolvimento tecnológico e científico submetido aos interesses coletivos e não aos interesses das grandes empresas. Poderíamos priorizar a educação e a saúde, a cultura e o lazer, as habitações simples, mas que sejam para todos, o saneamento, a natureza, a vida simples e digna.

 

Mas, para isto, necessitamos conter a engrenagem do capital. Precisamos parar a roda viva do capitalismo com sua lógica no dinheiro, no individualismo, no mercado, nas diferenças sociais. E temos de ter a lógica do social e da igualdade. Com outros referenciais de PIB, consumo e desenvolvimento. Precisamos dizer que não queremos o crescimento capitalista, o G-8 ou o aumento desenfreado do consumo, mas sim um desenvolvimento social que ultrapasse a sociedade do capital.

 

Antonio Julio de Menezes Neto, doutor em Educação, é professor da UFMG. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Comentários   

0 #5 Viramos CapitalistasAntonio Julio Menezes 08-04-2008 15:08
Prezado Antonio Julio
Felizmente varios leitores sairam em defesa do seu excelente artigo. Subscrevo-o inteiramente. Creio mesmo, Antonio Julio, que devemos alimentar o debate sobre o tema do seu artigo porque este é o cerne da tragédia nacional.
Gostaria muito de tê-lo mais presente em nossas páginas.
Um abraço, Plinio
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0 #4 miopia!!!!!!!alberes 02-04-2008 06:59
Caro Josimar, vc cometeu um grande equivoco no seu comentario, digo mais vc se fez de uma miopia sociologica imensa,o homem é um ser cultural, portanto, mutável deus não faze não fez ninguem pronto, o homem se organizava a partir de suas experiencias e visão de mundo, fazer paralelos entre um pessoa aqui e outra ali não é o melhor caminho.
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0 #3 A UTOPIAJosimar 31-03-2008 13:50
Uma pergunta. Esse texto foi escrito no século XIX ou XXI? Parece o próprio Marx escrevendo, de forma totalmente anacrônica e reacionária!
O socialismo já feneceu. Em 1989 a pá de cal foi derramada quando da queda do Muro de Berlim. Digamos que de todos os sistemas econômicos existentes, o capitalismo é o menos pior.
Deus criou os homens desiguais, fabricando Caim e Abel, Einstein e Al Capone, pois são todos filhos do criador. Em outras palavras, Deus não foi suficientemente socialista para dar igualdade a todos. O socialismo só funciona entre as formigas e as abelhas.
Somos 6 bilhões de habitantes na Terra e não existem 2 pessoas iguais.
Antônio, por favor, venha para o mundo real. A Utopia só existe no livro de Tomas More.
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0 #2 Incon InformáticaCLOVIS AMORIM 31-03-2008 13:50
HÁ MUITO TEMPO ATRÁS DIZIA-SE "O QUE É BOM PARA OS EEUU É O BRASIL", HOJE SENTIMOS QUE O BRASIL É BOM NÃO SÓ PARA OS EEUU COMO PARA A EUROPA, AO MENOS PARA A FRANÇA "A economia brasileira está crescendo, mostram os indicadores econômicos" MAS OS PESSIMISTAS NÃO VÊM NADA.
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0 #1 Carolina de Mendonça 31-03-2008 09:34
Belo texto Camarada Antonio

Vamos discutir que crescimento queremos para o Brasil! Lendo seu texto, que saudades de Cuba, é uma pena, q nem todos conseguem compreender coisas tãos simples: priorizar o ser humano ao invés do lucro.

Forte abraço, Carol ( XV Brigada de Solidariedade a Cuba)
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