Brasil - O complô civil-militar contra o MST
- Detalhes
- Altamiro Borges
- 25/06/2008
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), reconhecido mundialmente por sua heróica e combativa luta pela reforma agrária no Brasil, está sendo alvo de uma conspiração das forças conservadoras do Rio Grande do Sul que visa explicitamente a sua "dissolução". O complô reacionário congrega o agronegócio local, a governadora Yeda Crusius (metida num mar de lama de corrupção), a truculenta Brigada Militar, a mídia venal e agentes do Poder Judiciário com mentalidade escancaradamente fascistóide. O cerco ao MST se fecha celeremente e exige resposta contundente de todas as forças democráticas e populares da sociedade brasileira.
Em dezembro passado, onze procuradores da Justiça do Rio Grande do Sul participaram de uma sessão que decidiu, em caráter confidencial, "designar uma equipe de Promotores da Justiça para promover ação civil pública com vistas à dissolução do MST e à declaração da sua ilegalidade; suspensão das marchas, colunas e outros deslocamentos em massa dos sem-terra; investigar os integrantes de acampamentos e da direção do MST pela prática de crime organizado; investigar o uso de verbas públicas e de subvenções oficiais; desativação dos acampamentos que estejam sendo utilizados como ‘base de operação’ para invasão de propriedades; examinar a existência de condutas tendentes ao desequilíbrio da situação eleitoral local", entre outras aberrações fascistas.
Uma excrescência jurídica
Foi com base nesta excrescência jurídica, que a Brigada Militar do Rio Grande do Sul despejou, na semana passada, centenas de famílias de dois acampamentos no município de Coqueiros do Sul. Barracos, plantações, criações de animais e até o posto de saúde e a escola montada pelos sem-terra foram destruídos. As famílias foram jogadas à beira da estrada em Sarandi, expostas ao frio e sem qualquer estrutura. Um dos promotores, Luis Felipe Tesheiner, presente na tal sessão secreta, justificou a desocupação afirmando que "não se trata de remover acampamentos, e sim de desmontar as bases que o MST usa para cometer reiterados atos criminosos".
A sentença do despejo relembra a besta nazi-fascista. Cita o uso na escola do MST de livros de Paulo Freire, Florestan Fernandes e do pedagogo soviético Anton Makarenko. Chega a defender que os jovens sejam proibidos de participar de cursos. Propõe explicitamente adotar os mesmos instrumentos da ditadura militar para colocar na ilegalidade as Ligas Camponesas. Trata o MST como uma "quadrilha criminosa", "uma ameaça à segurança nacional". Indignado, o procurador aposentado Jacques Távora considerou a sentença um atentado à prática do Ministério Público.
"MP vestiu a camisa dos latifundiários"
"Estamos diante de uma violação flagrante dos direitos humanos, de uma infidelidade manifesta do MP às suas finalidades. Quem lê a petição vê que o MP vestiu a camisa dos latifundiários... Na petição, os promotores se baseiam no fato de que o MST é um movimento anticapitalista e esquerdista... Voltamos à época da ditadura para se sustentar esse ataque". Jacques Távora não tem dúvidas de que se trata de uma ação orquestrada. "Está em curso no estado um abuso de poder e de autoridade. O relatório secreto do MP estava preparando essas ações desde dezembro de 2007. No relatório a expressão é a dissolução do MST. Uma reação popular organizada não é tolerada".
Diante desta escalada fascista, os movimentos sociais e as forças de esquerda estão chamados a se manifestar com urgência e contundência. O MST já divulgou um manifesto de repúdio e pede a adesão de todos os democratas. "Vimos a vossa presença para lhes pedir solidariedade. Nosso movimento está sofrendo uma verdadeira ofensiva das forças conservadoras do Rio Grande do Sul, que não só não querem ver a terra dividida, como manda a Constituição, mas querem criminalizar os que lutam pela reforma agrária e impedir a continuidade do MST... Estas forças estão representadas hoje no governo da Sra. Yeda Crusius, na Brigada Militar, no Judiciário e no poder do monopólio da mídia". Não há tempo a perder diante desta onda fascista!
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PC do B e autor do livro recém-lançado "Sindicalismo, resistência e alternativas" (Editora Anita Garibaldi).
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Comentários
Todo o apoio à luta pela Terra. Embora eu ache totalmente improdutivo esta história de enviar telegramas para quem não os lê, e está se lixando para a opinião do extrato consciente da sociedade. Mas, mesmo assim irei enviar minha solidariedade à Base Aguerrida do MST.
Mas, algumas análises devem ser feitas, para que não pareça que essas coisas acontecem por brotação espontânea, principalmente na Política.
Vejo que agora, todos compugidamente correm a escrever telegramas de apoio ao MST. Mas, nada aconteceu de repente.
As forças da Direita apenas ocupam o espaço vazio deixado por um (des)governo, o do Lulla que paralisou a Reforma Agrária, permitiu, apoiou e legalizou não só os Transgênicos, mas também o plantio de eucaliptos, a construção de megas hidrelétricas, o agronegócio da soja e quetais, vangloriando- se dos "ótimos" resultados econômicos obtidos por esta verdadeira vassalagem ao Poder Econômico Mundial.
E, a direção do MST foi nesta onda de composição com o (des)governo Lulla. Não foram poucos os artigos e manifestações que viemos fazendo, há anos, alertando que a composição com esta joça de (des)governo, nada mais traria do que o enfraquecimento do MST e de qualquer movimento social.
Como é de praxe, nesta esquerda maniqueísta que domina o país, fomos chamados de "direitista" e outras pechas, justamente por quem hoje se alia ao PSDB, DEM, PP, PPS, PMDB em vários Estados, inclusive o RS, como faz o PT, seus militantes e o seu (des)governo Federal. A virtual candidata do Lulla à presidência, estava ontem a participar de ato religioso com o Padre Marcelo. Lulla foi quem autorizou o exército no Morro da Providência, segundo o próprio Vice Zé de Alencar, em entrevista.
O MST, com sua prática interna endógena, onde só os iniciados podem dar pitacos, excluiu muita gente boa do Movimento. E não só bons em termos políticos. Gente que trazia bons e descentralizados projetos para a organização, pela base da produção agrícola e agroindústrias familiares.
Foram nas águas dos organismos federais MDA, CONAHB e outros, além de terem sucumbido às idéias de gente que têm muito mais interesses em manter suas ONGS atravessadoras de dinheiro público, do que dar projetos realmente libertadores d@s agricultor@s familiares.
Optaram pelo OFICIALISMO, em vez da INDEPENDÊNCIA. Permitiram que a base do movimento fosse seqüestrada politicamente por um Partido, o PT, que nada trouxe de bom para a Luta pela Terra. E, taí o resultado.
O MST hoje está vulnerável, encurralado, com metade da aceitação popular que tinha quando Lulla foi eleito pela primeira vez. E sem ganho algum em sua luta. E dependente do Bolsa Esmola.
É neste vazio deixado pela irresponsabilidade de alguns, adesimo de outros e traição política do PT, que hoje estão nesta situação de isolamento.
O PSDB e as forças reacionárias do país, apenas ocupam este espaço vazio, enviando seus cães para reprimir a base aguerrida do Movimento.
Mais do que 1000 telegramas, seria a corajosa de personalidades como Emir Sader, Frei Beto, L. Boff e todos os notáveis de sua área de influência, se dirigissem para o Cenário de Guerra (massacre de inocentes) e colocassem o próprio peito na frente das borrachadas. Ao menos a repercussão mundial seria instantânea.
Todos sabem da triste piada sobre os judeus que nada fizeram ao ver nascer o nazismo e suas perseguições aos ciganos, homossexuais e comunistas. Nada fizeram (com as raras e honrosas excessões), e quando precisaram de solidariedade, todos estavam mortos ou exilados.
Mas, sob uma perspectiva muito diferente desses que apóiam este (des)governo e o defendem, seja qual for a perversidade implantada, minha solidariedade à base do MST e demais movimentos, onde tenho muitos amigos, se dá integralmente.
E sem pensar nas próximas eleições, para fazer fachada de esquerda a (des)governos institucionalistas e vendidos ao Capital.
Minha solidariedade se dá também na insistência de estarmos a contribuir com projetos que libertem realmente a Base do Movimento deste Oficialismo Idiota que as lideranças lhes meteram goela abaixo.
Mário Teixeira
Membro da Executiva Nacional da CTB(Central do Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil);
Diretor de Relações Internacionais da CONTTMAF;
Presidente da Fenccovib(Federaçao Nacional de Portuários.
Ele está esquecendo do verbo aprender.
Aprender a respeitar os movimentos sociais e as suas reinvidicações.
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