Sinal de alerta nas contas externas
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- Altamiro Borges
- 01/08/2008
Principal responsável pela péssima notícia, o Banco Central anunciou nesta semana que as contas externas do Brasil tiveram um déficit de US$ 17,402 bilhões no primeiro semestre do ano, o pior desempenho já registrado no período. O resultado negativo se refere às transações correntes, que incluem todas as negociações de bens e serviços com outros países. A acelerada deterioração das contas externas decorreu, principalmente, da remessa de lucros e dividendos ao exterior, o que evidencia o aumento da vulnerabilidade do país e o risco de novas freadas na economia nacional.
Sugando as nossas riquezas, as multinacionais enviaram às suas matrizes US$ 18,99 bilhões em lucros, um crescimento de 94% em relação ao mesmo período do ano passado. Montadoras de veículos e bancos responderam por quase 52% do total das remessas. Até os economistas mais ortodoxos, adoradores do deus-mercado, ficaram surpresos com a velocidade do crescimento do déficit. Afinal, no primeiro semestre de 2007, o saldo das contas externas foi positivo em US$ 2,4 bilhões. Num curto espaço de tempo, o festejado superávit derreteu. Para piorar ainda mais este quadro, todos os indicadores apontam que esta sangria vai crescer nos próximos meses.
Multinacionais sangram o país
Segundo pesquisa de Valdo Albuquerque, do jornal Hora do Povo, a ausência de controle sobre a remessa de lucros das multinacionais tem penalizado duramente o país, sendo o principal fator de aumento do déficit. Nos últimos cinco anos, em pleno governo Lula, os dólares enviados ao exterior quintuplicaram: US$ 5,7 bilhões em 2003; US$ 7,3 bilhões em 2004; US$ 12,7 bilhões em 2005; US$ 16,4 bilhões em 2006; US$ 22,4 bilhões em 2007. "Agora, em apenas seis meses, as remessas de lucro se aproximam do que foi enviado durante todo o ano passado. O BC estima, conservadoramente como sempre, que até o final do ano elas atinjam US$ 29 bilhões".
Enquanto as remessas de lucros quintuplicaram, os badalados investimentos estrangeiros diretos (IED) – via privatização das estatais, desnacionalização das empresas nacionais e instalação das multinacionais – apenas triplicaram e estão se retraindo no último período. Em 2003, entraram US$ 10,1 bilhões; no ano passado, foram US$ 34,6 bilhões. "Somente para frisar: enquanto as remessas de lucro quintuplicaram, as entradas de investimento direito estrangeiro foram apenas pouco mais do que o triplo", aponta o atento jornalista. Para ele, isto somente comprova que está em curso uma criminosa sangria das riquezas nacionais e do esforço produtivo dos trabalhadores.
"Nunca houve nação alguma do mundo em que o desenvolvimento nacional se fizesse com base no capital estrangeiro. Ele pode dar alguma contribuição, desde que esteja submetido a limites que, inclusive, disciplinem a remessa de lucros ao exterior, ou seja, desde que esteja legalmente subordinado ao interesse nacional do desenvolvimento. No entanto, jamais ele pode ser a base desse desenvolvimento. Até porque, se fosse a base da economia, acabaria fazendo as leis, dominando o parlamento e o governo – para não falar da mídia – em interesse próprio, que não é o de desenvolver o país no qual se instala, mas enviar lucros para a sede. Em suma, remeter recursos da filial para a matriz. Para isso servem as filiais, e por isso têm esse nome", conclui o autor.
Aumento da espoliação imperialista
No mesmo diapasão, Umberto Martins, assessor da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB), alerta que esta sangria tem efeitos altamente destrutivos. "A riqueza enviada pelas multinacionais ao exterior é extraída do trabalho excedente (que Marx chamava de mais-valia) produzido pelos trabalhadores. É uma parte expressiva da poupança nacional que deixa de ser canalizada para os investimentos internos ao ser transferida para outras plagas. As remessas do capital estrangeiro constituem, por isso, sério obstáculo ao crescimento da economia. A análise crítica do balanço de pagamentos revela uma espoliação silenciosa e invisível da poupança ou do excedente do trabalho. Transparece nas estatísticas do BC o aumento da espoliação imperialista".
Apesar da gravidade do problema, o BC insiste em manter o tripé neoliberal que ameaça o frágil crescimento da economia nativa – política monetária recessiva dos juros recordes; política fiscal contracionista do superávit primário; e libertinagem financeira e cambial. Além disso, o governo mantém a atitude complacente diante da gula das multinacionais. Caso não encare com coragem tais gargalos, o governo Lula poderá ser responsável por um novo "vôo de galinha" da economia, com a retração do crescimento e duros apertos aos trabalhadores. E isso às vésperas da sucessão presidencial, o que deverá ser motivo de alegria para tucanos, demos e seus patrões no exterior.
Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PC do B e autor do livro recém-lançado "Sindicalismo, resistência e alternativas" (Editora Anita Garibaldi).
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