Correio da Cidadania

É tempo de repensar o Brasil

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Nós, humanos, alavancados pela efervescência do ideal revolucionário, há muito, desde quando nos concebemos homo sapiens, mesmo que da inconsciência de perpetuidade, lutamos por uma sociedade fraterna e igualitária. Ousamos criar patas automotivas, guelras a submarino, asas supersônicas, braços e mãos automatizados, língua on-line... Erramos no tempo e no espaço rumo ao Universo por nos dizermos ‘iluminados’ de toda a criação. Mas, do atrito das pedras em fogo à era digital cósmica, apesar de maravilhosa potencialidade intelectual, pouco temos evoluído na engrenagem social. Infelizmente ainda somos bichos mutantes, com os vícios da selva árdua e íngreme (cobiça, ganância, soberba, ira...), garras em standby pelos conflitos por riqueza e poder, urros e sussurros em bolsas de valores, onde a vida de explorados e oprimidos torna-se ‘mercadoria’ de consumo de elites.

 

Diz-se sabiamente que as ações táticas são bem sucedidas quando empregadas no tempo e no espaço devidos. Não há de se protelar investidas se o inimigo impõe o peso da subserviência. Há em voga o farfalhamento de intelectuais mal-intencionados afirmando que a "esquerda brasileira" cabe eximiamente dentro da nova ordem política estabelecida. Tentam ludibriar os formadores de opinião, sobretudo militantes de organizações populares, com o chavão do "mal necessário" em alianças com setores conservadores para se alcançar o pleno desenvolvimento econômico e social da nação. Confundem Socialistas com sócios às listas de cargos públicos. Confundem revolução com ré-evolução.

 

Ora, de feito, o (des)governo Lula, quando em 2002 optou pelo apoio e financiamento do megacapital financeiro, vendeu a democracia e soberania popular para o Demo. Fez-se de lacaios os seus correligionários partidários, fez-se de vassalos dirigentes sindicalistas e estudantis históricos, todos, ao poder massacrante do capital, cuja máxima é "ninguém é incorruptível, cada um tem o seu preço". Oitenta por cento da arrecadação recorde do Estado advém de "obrigações" do contribuinte proletariado. A classe abastarda, organizada, continua isenta de tributos sobre o lucro e a riqueza concentrada.

 

Esse "milagre econômico" à brasileira (que não alcança sequer os níveis de crescimento dos países emergentes), à passa-moleque delfinista (lembremos da "divisão do bolo" na década de 70), reinventa o modelo do pão e circo romano – circo aqui são as midiáticas prisões pela Polícia Federal, as manobras da lei para acobertar crimes do colarinho branco e a falta de compostura de desembargadores na venda de sentenças e habeas corpus. Anestesia-se o nosso povo "heróico", sem brado retumbante, com a política da compensação (Bolsa Família, cotas para estudantes, vales sociais etc.) e com a compra de jornalismo lambe-lambe, escrito e falado, via patrocínio de bancos tidos "parceiros do Brasil".

 

O Prouni é mera fachada publicitária do governo federal, porque as vagas oferecidas a alunos da rede pública são por faculdades privadas de baixa qualidade, que acabam por formar um contingente de porta-diplomas (profissionais apenas de "canudos"). Prova disto são os exames da OAB, em que na média 85% dos bacharéis são reprovados. Sem falar que, em cada 5 médicos formados pelas universidades privadas, 4 são desqualificados; vão para o SUS "clinicar". Aliás, a ineficiência do SUS é propositalmente de interesse de grupos econômicos, pois a vida humana em tempo de consumismo vale à medida da conta bancária do paciente. Há que refletir sobre a proposta de transferir para a União a obrigação de suster e gerenciar o ensino médio, para os estados o ensino fundamental e para as prefeituras a pré-escola. A justificativa é de que as universidades públicas são de excelente qualidade, portanto, deve-se estender tal eficiência ao ensino médio. Desta forma, o filho do trabalhador chega à boa universidade em condições de igualdade ao filho da elite.

 

Focamos o detalhe na desigual luta entre o trabalhador camponês e as empresas do agronegócio "made in Brazil". É clara e evidente a posição do governo Lula: abre os seios da mãe-gentil às transnacionais, os cofres do BNDES para a monocultura, arrola dívidas de latifundiários caloteiros e se presta a garoto-propaganda internacional de usineiros, reduzindo investimentos orçamentários na política de Reforma Agrária. A tática do governo Lula é "vencer pelo cansaço", expondo o trabalhador rural e sua família sob condições áridas, sob lona plástica e carestia, por cinco ou mais anos sem aprofundar o processo de Assentamento. À luz da análise política, o governo Lula é sim inimigo da classe trabalhadora. Não há porque usar o eufemismo do "inimigo nem tanto.

 

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra tem promovido reiteradas ocupações de terras, protestos ordeiros nas sedes regionais do INCRA, denunciado na grande mídia nacional e internacional a privatização do solo, a voraz destruição do pulmão verde pelo agronegócio e resistido à política populista do Bolsa Família. Cabe às lideranças do MST, sem receio de ferir o sentimento lulista da camada menos esclarecida da população, assumir publicamente na ordem do dia que o governo Lula é vassalo do capital financeiro. Do contrário, o MST corre o risco de esvair-se no tempo e, como conseqüência, ser organização de Sem Terra em extinção.

 

Julio Cesar de Castro presta assessoria técnica em Construção Civil. E-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Comentários   

0 #3 O mostrinho que criamosFábio Ramos Nunes 16-09-2008 13:44
O tão sonhado momento de uma transformação social que favorecesse a classe trabalhadora chegou em 2002, com a eleição do Lula, mas com o passar do tempo vimos que era apenas mais um a se deixar dominar pela classe burguesa e querer apoiar o modelo econômico que apoia os ricos e muito machuca quem realmente trabalha. Porém, de uma forma muito pior porque era depositada uma confiança muito grande numa verdadeira mudança na sociedade. Assim como FHC(que entregou a Vale por preço de banana), vem querendo privatizar nossas Estatais. A Petrobras tem a maior parte de suas ações nas mãos do grande Capital Financeiro Internacional. Prioriza os grandes fazendeiros e o agronegócio, perdoa grandes dividas e aos pobres aplica uma política assistencialista de \"bolsa familia\" para manter o povo conformado com essa migália.
Até quando o povo vai aguentar essa pouca vergonha, onde \"o trabalho do pobre é a mina do rico.\"
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0 #2 Mary Alves de Brito 15-09-2008 14:29
Por não pensar, repensar, talvez seja esse o motivo q nós brasileiros somos passivos, boa gente...Não gostamos de pensar, preferimos q pensem por nós, aí acreditamos no papai do céu Lula!
O tão sonhado, salvador da pátria.
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0 #1 Sindicalismo Mitigado e Anestesia SocialRaymundo Araujo Filho 15-09-2008 14:18
Sindicalismo Mitigado e Anestesia Social
Raymundo Araujo Filho

Como todos viram nas eleições de 2006, as direções do sindicalismo, dos movimentos sociais e ongs outrora combativos prestaram seus apoios à reeleição do presidente Lula.
Algumas destas lideranças expuseram todo o seu fervor eleitoreiro, como o João Pedro Stédille do MST que bradou que colocaria os seus comandados nas ruas, em defesa do mandato do presidente Lula. Já para combater verdadeiramente o latifúndio, prefere esperar a indolência do amigo presidente. Uma legião de intelectuais também embarcou nessa canoa furada para nós, mas alvissareira para eles.

Outros, como os dirigentes do Sindicato dos Petroleiros do RJ foram até no rádio divulgar o alinhamento de sua entidade com a reeleição do nosso Sassá Mutema. Dizia aquele comunicado que, apesar de tudo ainda vêem que o presidente Lula é diferente da direita tradicional.

Sobre este último item, também concordo. O Lula é muito mais esperto do que o FHC, Serra, Alkimim e sua gente (o Aécio Neves está aprendendo com tio Lula). O presidente sabujo se faz de esquerda para impor a política da direita. Assim, consegue seu intento sem o incômodo do protesto popular, afinal anestesiado e contido pelos próprios dirigentes e intelectuais mencionados, afinal muitos deles e suas entidades são agraciados por benesses financeiras e nomeações de lideranças ou seus prepostos, além da não auditagem de suas gestões financeiras com o dinheiro público. Ou apenas movidos por vãs e infundadas esperanças, muito mais provenientes do conservadorismo político destes (in)ativistas políticos, do que qualquer outra coisa.

Mas, aqui neste artigo eu gostaria de rememorar dois pensadores políticos.

Um é James Petras, sociólogo estadunidense que foi membro do tribunal Russel para a América Latina e seu livro Ensaios Contra a Ordem (Ed. Página Aberta, 1995). O outro é o nosso querido prof. Fernando de Sá e Benevides com as suas contundentes intervenções no programa Faixa Livre.

James Petras em seu livro, nos descreve minuciosa e brilhantemente os mecanismos perversos que os agentes da globalização neoliberal se utilizam para a descaracterização cultural, social, política e econômica das sociedades, notadamente as dos países pobres periféricos, alvos da sanha assassina e exploradora dos insaciáveis senhores do chamado primeiro mundo.

Já o prof. Sá e Benevides nos alerta que as críticas pontuais ao (des)governo Lula de nada adiantam, ainda mais antecedidas ou amalgamadas por apoio político inequívoco e declarado das lideranças à eleição deste esquizo político que é o Lula.

Pelo que entendi, nos diz o professor Benevides que enquanto não houver um desalinhamento do movimento sindical e social, passando do apoio, para a oposição pela esquerda deste ensaboado presidente, não se conseguirá nenhum impedimento das ações lesa povo perpetradas por este (des)governo corrupto e desnacionalizante.

Como querer que a população atenda ao chamado para manifestações contra, por exemplo, o 8º Leilão das Bacias Petrolíferas, se o sindicato que convoca é o mesmo que, menos de um mês atrás exortou a todos para votarem no Lula. Impondo a visão errônea e conservadora que esta segunda presidência seria “menas pior”, ou que este presidente aloprado seria um “mal menor”.
O povo é desinformado. E esta atitude dúbia destes sindicalistas, em nada contribui para o esclarecimento político, e iguala a todos os que por ela optaram, os ingênuos, os corruptos e os aproveitadores.

A direção do MST colocou o Lula em um pedestal eleitoral e agora quer apoio da população para as marchas e ocupações. O povo dirá “o que eles querem é dinheiro do Lula”.

O sindicalismo e movimentos sociais mitigados vive de verbas não licitadas. No primeiro mandato as manifestações organizadas pelas cúpulas dos movimentos sociais, notadamente o MST exerceram o papel de verdadeiras senhas para conquistas de verbas não licitadas, além de promessas combinadas para não serem cumpridas.

Muitos se surpreenderam com a pouca repercussão e presença popular nas manifestações contra o 8º Leilão. Não eu, afinal, cinética social reivindicativa só se adquire com limiares crescentes de indignação e descrença, para determinado projeto político.

E o que fizeram os líderes sindicais e do movimento social? Aplacaram a revolta popular, submetendo-se ao vexaminoso papel de algodão entre cristais, a troco da manutenção de migalhas financeiras e empregatícias, como já disse acima. Benesses estas que foram ponto de partida para as pseudocomplexas e inaceitáveis análises que nos brindam estes que exercitam o mais novo tipo de peleguismo: O peleguismo pseudo crítico (mas sempre peleguismo).

A propósito, James Petras nos brinda em seu livro com uma arguta análise sobre os mecanismos da cooptação de quadros dirigentes e intelectuais para as teses nada revolucionárias que nos impõem. Mesmo que para isso usem a fantasia cafona do “apoio crítico” e da continuidade de pequenos e isolados protestos pontuais, isolando o povo de uma crítica mais profunda do próprio processo e agentes políticos que operam a perversidade neoliberal.

Nos alertam, então, o prof. Sá e Benevides, assim como o James Petra que estes agentes da esquerda outrora combativa, atualmente nada mais fazem do que atuarem como o que eu chamaria de verdadeiros anestesistas sociais.

Parece aquela estória de um individualista alemão que silenciou inúmeras vezes quanto às perseguições nazistas, e ficou sem ninguém para interceder por ele, quando foi perseguido pelos mesmos nazistas. Ficarão sozinhos ao convocar o povo que eles mesmos anestesiaram.

E, ao contrário destes sindicalistas e intelectuais conservadores, acredito ser possível indignar a população brasileira, sim. Deste que operemos a política com transparência e sem defender interesses pessoais ou corporativos hegemônicos, como é comum neste vapor barato que é a casta de intelectuais e dirigentes do sindicalismo e movimento social brasileiro (com as raras exceções de praxe).

Portanto, só nos resta a saída que, na verdade, é a mais óbvia: Sem rompimento político verdadeiro e sem interesses eleitoreiros não se junta gente para protestar.

*Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e crítico da realidade brasileira.
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