Correio da Cidadania

O Saneamento e a Tartaruga

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O Saneamento Brasileiro e a Tartaruga fizeram uma aposta: até o final do século XXI iriam disputar quem chegaria mais longe.

 

A Tartaruga, em seus rápidos e longos passos, menosprezou a lerdeza do Saneamento e ainda tirou um cochilo sob vários governos. Jurava que iria ser ultrapassada pelo Saneamento. Quando acordou, descobriu que Fernando Henrique tinha considerado o Saneamento como despesa pública e não como investimento. Então, por sugestão do Banco Mundial, não aplicou um tostão no Saneamento. Era a lógica do precarizar para privatizar. A Tartaruga olhou para trás e descobriu que o Saneamento nem apontara na curva.

 

Então veio o Lula e o Saneamento, envergonhado de perder uma corrida para uma Tartaruga, pensou:

 

- Agora ganho essa corrida.

 

Promessas havia muitas, afinal, o financiamento do Saneamento está garantido por lei, podendo usar os recursos do Fundo de Garantia do Trabalhador, ou seja, o FGTs. Porém, de repente sai uma pesquisa e podemos conferir que o Saneamento ainda está perdendo para a Tartaruga. Apenas 51 % dos lares brasileiros têm acesso ao Saneamento. Mesmo assim, nem comentam quanto desse esgoto coletado é tratado antes de ser despejado nos rios. Mas nós já sabemos: 80% do esgoto coletado infectam diretamente nossos humilhados rios.

 

A ONU já disse que, para cada dólar investido no Saneamento, quatro dólares são poupados na saúde. Portanto, muito ao contrário do que pensa o Banco Mundial e Fernando Henrique, o Saneamento é investimento e não despesa.

 

O problema é que Lula, nessa questão, não pensa e não age muito diferente de Fernando Henrique. O segundo gosta de se comparar ao primeiro sempre em termos quantitativos, jamais qualitativos. Porém, na disputa entre o Saneamento e a Tartaruga, está difícil saber quem chegará por último.

 

Roberto Malvezzi (Gogó) é coordenador da CPT – Comissão Pastoral da Terra

 

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Comentários   

0 #1 guimarães sv 24-09-2008 14:58
A questão do saneamento básico, que Roberto Malvezzi trata com tanta propriedade, é velha! Há mais de 500 anos que a tartaruga ganha esta corrida. A solução dela passa por uma reforma de mentalidade e costumes na política. Enquanto a política for o que é, e não só no Brasil, a questão continuará sendo tratada como despesa e não o investimento fundamental que é. Pensando melhor, a questão só será resolvida quando se banir do planeta o capitalismo, como sistema de organização politico-economico-social perverso que é, por outro, em que o ser humano seja visto como centro das ações políticas, econômocas e sociais. Enfim, por um sistema humano de organização.
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