Pastelaria eleitoral
- Detalhes
- Roberto Malvezzi
- 07/10/2008
Entrando numa cidade aqui do sertão me deparo com uma casa comercial que tem um nome intrigante: "Açougue Só Frutas".
Quem viesse aqui pelo sertão e olhasse o resultado das eleições poderia dizer: "Pastelaria Eleitoral". Enfim, não sobrou uma múmia eleitoral para ao menos lembrar que por aqui já existiu um projeto popular para modificar o sertão e também o Brasil.
Não sobrou um vereador, muito menos um prefeito. Os partidos fizeram uma salada de frutas tão perfeita que só mesmo o "Açougue Só Frutas" é capaz de superar em contradição. A sensação é que todos os anos de educação popular, de construção de um partido do povo, com gente do povo, com outra concepção de política, finalmente conheceu sua pá de cal. Até as cisternas foram utilizadas como moeda eleitoral. Não se iludam com as legendas vitoriosas: até um partido comunista virou legenda de aluguel.
Lula parece uma espécie de "deserto verde da política". Onde ele pisa não existe biodiversidade política. Só monocultura. Não gera outra liderança nacional e diluiu qualquer demarcação ideológica de seu partido ou de um projeto popular. Essa decisão da cúpula foi seguida fielmente nos estados e municípios. O resultado eleitoreiro é visível e a anulação do projeto popular também. Como dizia duramente um professor baiano na análise de conjuntura para a CPT, semana passada em Salvador: "o projeto de mudança profunda no país foi abortado primeiro por Getúlio, depois pelo regime militar e agora pelo PT e Lula". Cruel e real.
Olhando de baixo, politicamente voltamos à estaca zero. Pelo menos enquanto força articulada que visa mudanças mais profundas. A história não perdoa e não há mais nenhum horizonte à vista. Mas, como os sonhos costumam rebrotar, bisonhamente nos consolamos com um belo verso de Chico Buarque: "Canta a primavera, pá, cá estou carente. Quem sabe esqueceram alguma semente nalgum canto de jardim".
Roberto Malvezzi (Gogó) é coordenador da CPT – Comissão Pastoral da Terra.
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Comentários
Desculpem comentar comentários sobre meu próprio texto. Mas, penso assim:
1) Que a pastelaria eleitoral se instalou não tenho dúvida. Desfigurou o projeto popular. O resultado imediato foi a exclusão, aqui na região, do povo como sujeito político. Voltou a ser objeto eleitoral.
2) Também tenho dúvidas sobre a afirmação do professor, não quanto aos fatos, mas quanto às intenções. Pode ser que a salada eleitoral tenha e melhor delas, que o jogo de cintura seja necessário, mas o resultado é mortal. Estamos novamente sem um projeto de nação a partir do povo e não há horizonte visível nesse sentido.
Obrigado.
Roberto Malvezzi (Gogó)
Quem pegou uma mamata de mão beijada como o Lula, que só teve de dar continuidade ao governo FHC (não sou fã dele não), para se ufanar dos feitos executados, teria que fazer muito mais. Violência de norte/sul, leste/oeste, crise ambiental, fome, educação e cultura abaixo de zéro, paises como Bolívia, Equador, Venezuela ditando normas e temos que aceitar as fanfarronices daqueles paspalhos que se intitulam de presidentes nacionalistas! Falar na ONU, nos 8G e em outro lugar para enaltecer o bio combustível e criticar os poluidores universai que são justamente os 8G, é fácil, não precisa tirar coelho da cartola. Quero ver dar jeito nos seus asseclas corruptos que estão impunes até hoje e em muito mais coisa, que se fossemos elencar não haveria espaço para publicar."Que este País seje exemplo para todos àqueles que não acreditam nos paises emergentes", como ele costuma dizer.Que assim seja.Um presidente que não se orgulha de pronunciar o nome de sua pátria, que só diz país, é deveras uma lastima de nacionalista.
Enfim o PSDB quiz assim,não há mais nada a fazer, o leite já derramou e o açougue vende frutas.
Alem de concordar contigo,digo mais,esse lula es um safado,pois diz governar com o povo,mas anda de bracos dados com a elite que sempre esteve no poder.
Atenciosamente
Daniel
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