Sarkozy corteja extrema-direita: "França não pode receber tantos estrangeiros"
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- 25/04/2012
Candidato à reeleição faz uma série de promessas anti-imigração para tentar atrair eleitorado de Marine Le Pen.
Em busca dos votos dos eleitores de Marine Le Pen, o presidente francês Nicolas Sarkozy voltou a radicalizar seu discurso contra a imigração. Em entrevista à rede de televisão pública França 2 na manhã desta terça-feira (24/04), ele afirmou que a França “não pode mais receber tantos estrangeiros”, e revelou que pretende reduzir “pela metade” a entrada anual de pessoas que queiram fixar residência no país.
“O termo fronteira não é nenhum palavrão. É um erro enfraquecê-las enquanto a própria Europa não consegue dar conta de seus próprios limites. Eu digo: não podemos continuar recebendo tantos estrangeiros em nosso país”.
Sarkozy, cujo pai é de origem húngara, propôs também que essas pessoas façam uma prova de francês para entrar no país e selecionar quem pode se “integrar melhor”. E que também aprovaria um a lei que expulsaria imigrantes ilegais.
O líder da UMP (União por um Movimento Popular) disputará no dia 6 de maio o segundo turno das eleições presidenciais francesas contra o candidato do Partido Socialista, François Hollande. Neste domingo, ele terminou a primeira etapa da eleição em segundo lugar (27,18%), atrás do rival de centro-esquerda (28,63%).
No entanto, o grande destaque do primeiro turno foi a votação recorde obtida pela candidata de extrema-direita, Marine Le Pen (Frente Nacional), com 17,09%. Sua principal bandeira é o combate à imigração, especialmente de imigrantes de países muçulmanos, e a saída da França da zona do Euro e da União Europeia.
Marine já afirmou na segunda-feira que não apoiará Sarkozy no segundo turno. Na opinião de Sarkozy, os votos para a extrema-direita não são por simpatia à candidata. “Não há ninguém entre eles (os eleitores da Frente Nacional) que acredite que Marine Le Pen tenha capacidade de governar a França. Mas é uma forma de nos dizer: olhem nossa situação. Para atendê-los, precisamos dizer exatamente a eles o que vamos fazer”.
Na entrevista, Sarkozy também atacou os institutos de pesquisa, que erraram principalmente ao prever uma abstenção recorde e uma vantagem de três a quatro pontos percentuais de Hollande em relação a ele – que acabou sendo de apenas 1,45. Mais cedo, em um comunicado, o candidato-presidente já havia indicado qual seria a tendência de sua campanha ao anunciar que voltaria à campanha:
"Vou continuar a defender os nossos valores e compromissos: respeito das nossas fronteiras, a batalha contra a mudança de fábricas para o exterior, o controle da imigração e a segurança de nossas famílias (...) Os eleitores da Frente Nacional têm de ser respeitados. Eles expressaram seu ponto de vista. Foi um voto de sofrimento, um voto de crise. Por que insultá-los? Eu soube que o Hollande os criticou".
Sarkozy se referia a uma entrevista de Hollande ao jornal Libération, divulgada nesta terça-feira, onde, ao contrário do que disse seu rival, afirmou que pretende ouvir todos os eleitores, incluindo os da Frente Nacional. “É minha responsabilidade me dirigir imediatamente a todos os eleitores que não compartilham forçosamente às idéias da Frente Nacional, como a obsessão da imigração, em particular, mas que exprimem, antes de tudo, uma cólera social”.
À tarde, durante um comício em Laon, no norte do país, Hollande afirmou que, se eleito, vai criar uma lei para permitir o direito ao voto de estrangeiros não-comunitários.
Por João Novaes, Opera Mundi.