Lamentável indiferença
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- Ricardo Maranhão
- 21/05/2009
Leio, em um mesmo dia, as manchetes do mais importante jornal carioca: "Juíza investigada pela polícia federal, por corrupção, é promovida em decisão do TRF, aprovada por unanimidade: 19 votos a zero"; "Diretor do senado, demitido, ainda ganha homenagem"; "Ex-presidente ganha comissão e petista protesta".
Leio e faço reflexões. No regime democrático, a juíza promovida, embora investigada pela Polícia Federal, tem a presunção da inocência. A Constituição Federal lhe garante ampla defesa, o contraditório. Não obstante, presunção não é certeza. Certamente teria sido mais correto, mais ético, mais digno, que o Tribunal Regional Federal de Brasília aguardasse a conclusão das investigações, para, inocentada a juíza, promovê-la.
A homenagem dos mais de 250 servidores do Senado federal ao diretor da Casa, afastado por denúncia sobre a propriedade de um imóvel, avaliado em cinco milhões de reais, não declarado ao fisco, antes de ser um desagravo, é um ato precipitado, com conotação de corporativismo ou de retribuição às atenções e favores recebidos do demitido durante sua longa gestão.
A conquista da Comissão de Infra-estrutura, responsável pelos investimentos de bilhões de reais do PAC, pelo ex-presidente que teve cassado os direitos políticos, por atos de improbidade administrativa, também tem um triste significado. Ela evidencia a força e o poder de articulação de grupos que dominaram o Senado Federal, comandados pelo atual e pelo ex-presidente da Casa, este último também afastado, após denúncias de que recebia favores de empreiteiros.
O que têm em comum os fatos descritos nas manchetes? Para mim refletem o clima de indiferença e cinismo que está tomando conta de nosso país.
Os atos de improbidade, as falcatruas e negociatas promovidas pelas elites, política e empresarial, se amiúdam, estão se tornando tão freqüentes, tão corriqueiros, que passam a compor o cotidiano nacional. Os cidadãos tomam conhecimento dos mesmos e da impunidade reinante. O tempo passa e os homens e mulheres de bem do Brasil parecem dominados pelo conformismo, pelo ceticismo, pela descrença nas instituições. Estamos ficando indiferentes diante de tantos descalabros. Se a capacidade de indignar-se ainda existe, a indignação não se manifesta mais. Silenciosa, dá aos delinqüentes a impressão de anuência ou mesmo de cumplicidade.
Apesar de tudo continuo sonhando com um Brasil combativo, intolerante com a falta de ética, atento na preservação de valores que são caros para a maioria esmagadora de nosso povo. Queremos ética, dignidade, espírito público e patriotismo. Na vida pública e na atividade empresarial. Tudo isto se conquista com o efetivo exercício da cidadania.
Ricardo Maranhão, engenheiro, ex-deputado federal, é conselheiro do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro.
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Comentários
Reclamar não adianta. Nossos atos e posicionamentos políticos é que interessam para mover a roda da história a favor dos Pobres.
Embora sempre ressaltando os pontos programáticos que a esquerda considera razoáveis, dentro de uma perspectiva nacionalista etc. e tal, os seus posicionamentos políticos, situação partidária (PSB, da base aliada de Lula) e participação em eleições, não condizem com este lamento sobre o leite derramado, ainda mais sem citar o principal responsável por este estado de coisas, que é, ao meu ver, o presidente Lula, que não soube e não quis avançar com o Povo desde o início do primeiro mandato, preferindo as barganhas palacianas, além de se deixar seduzir para desempánhar o papel de representantes dos pobres, nos jantares dos ricos. Deu nisso aí...
Ao ver de alguém que se considera progressita (eu), foi imperdoável o seu apoio eleitoral ao atual prefeito aqui do Rio, o Eduardo Paes, após teres sido vice da Jandira Feghali (PC Do B), qua há muito já se afastou de algo parecido com esquerda.
Assim, prezado Ricardo Maranhão, em lugar destes lamentos, afinal, de um aliado deste governo, ouso lhe fazer uma sugestão: "Venha para a Oposição de Esquerda, você também!"
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