Apagão aéreo é um dos retratos da crescente submissão do Brasil
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- Valéria Nader
- 02/04/2007
O escândalo das reuniões secretas dos diretores do BC com os chefões do mercado financeiro, que acaba de vir à tona com reportagem explosiva da revista Carta Capital, foi solenemente ignorado pela grande mídia. Assim como o foi a morte de José Pereira, de 51 anos, o 18º trabalhador rural morto cortando cana-de-açúcar somente na região de Ribeirão Preto desde 2004.
Os dados quanto ao pífio crescimento do nosso PIB há quase 30 anos – inferior até mesmo ao de nações “subemergentes”, e que já fez anacrônica a famosa alusão à “década perdida”, referente à vertiginosa queda no ritmo de expansão da economia nos anos 80, após as gloriosas décadas de 60 e 70 – são, por outro lado, por demais evidentes para serem negados ao público. Mas as raízes de tamanha reversão não são nem mesmo tangencialmente tocadas pela maior parte de nossa mídia venal.
É, no entanto, fato incontestável que a degringolada que hoje vivenciamos no Brasil é fruto de um caminho percorrido sob a batuta de classes sociais alheias aos interesses populares e nacionais. Chegamos a um grau de subalternização na tomada interna de decisões em que “a própria retomada do crescimento econômico, sem modificação da presente orientação estrutural do país, contribuirá para o aprofundamento de sua dependência”, avalia o historiador {ln:maestri020407 'Mário Maestri}.
O apagão aéreo é apenas um dos retratos desse triste desenrolar dos acontecimentos. Nenhuma CPI poderá ser dele tão reveladora quanto a coragem de enfrentar essa realidade.
Maestri não se mostra tão otimista, mediante as intenções, já expressas pelo governo, de liberalizar ainda mais a economia brasileira em troca da abertura dos mercados dos países avançados para os nossos produtos agrícolas: “paradoxal retorno aos tempos coloniais, em que os engenheiros nordestinos, embriagados pelas cotações do açúcar, feitorizavam duramente seus cativos negros nas imensidões do mar verde dos canaviais”.
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