"Preguntas" de Pepito
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- Gilvan Rocha
- 26/10/2009
Ainda bem que tal história aconteceu longe daqui. Era uma sala de convivência. Adultos, crianças e adolescentes falavam as coisas mais variadas, quando Pepito aparece com essa pergunta: porque chamamos "as nossas" Forças Armadas de gloriosas?
Dentre muitas histórias mal contadas e mentirosas tivemos o episódio das Ilhas Malvinas e praticamos uma ditadura em que as Forças Armadas cumpriram o mais sujo dos papéis. Promoveu prisões arbitrárias, praticou as mais vis torturas, lançou ao mar alguns presos políticos, separou das mães crianças de tenra idade e cometeu em nome da pátria as mais torpes barbaridades.
Um adulto de meia idade coçou a cabeça e disse: meu jovem Pepito, vivemos o sistema capitalista e ele precisa de muitas instituições para lhe dar sustentação; dentre essas instituições estão as Forças Armadas. Elas são confinadas em quartéis. Lá, é proibido pensar e debater. São todos adestrados para uma única finalidade: garantir a ordem capitalista. Isso quer dizer, defesa da propriedade privada a qualquer custo. E tão adestrados são que sempre estão prontos em nome da aludida ordem, praticar escabrosos crimes. Foi dentro dessa lógica que "nossas" Forças Armadas, aqui na Argentina, cumpriram o seu papel de cães adestrados a serviço da pátria que em última instância é servir ao patrão. Assim se explica o comportamento deles ontem, hoje e quiçá amanhã.
Mas fui ensinado na escola e no convívio da família que "as nossas" Forças Armadas serviam para garantir o exercício da ordem constituída? Não seriam elas a garantia da Constituição? Ao que esse amigo replicou: a Constituição tem como princípio maior a garantia da fortuna e dos lucros dos ricos. Caso se faça necessário, eles são capazes de rasgarem esta carta que eles chamam de Carta Magna. Ah Pepito! Não sei se em outro lugar é diferente, mas aqui no "nosso" país, na "nossa Argentina", as coisas marcham dessa forma. Eles dizem nossos, mas na verdade as terras, as fábricas, as minas, os bancos e, porque não dizer?, as Forças Armadas são deles, não são nossas, não são do povo.
Gilvan Rocha é presidente do CAEP - Centro de Atividades e Estudos Políticos.
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Comentários
Mas, ao mesmo tempo, me questiono sobre a nossa incapacidade de ao menos tentar desenvolver um programa de aproximação com esse segmento da sociedade, calcado em debates sobre Política, Economia, Cultura etc. Sei que, de um lado, é difícil, em razão, mesmo, da crescente deficiência na formação cultural da oficialidade. Mas, de outro lado, devemos ter presente que não adianta cingir a nossa pregação àqueles que previamente já concordam com as nossas teses.
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