Cutrale devolve terras griladas
- Detalhes
- Roberto Malvezzi
- 29/10/2009
Num gesto único na história brasileira, a Cutrale vai devolver as terras públicas que grilou para plantar laranja. Segundo uma pessoa que ocupa cargo decisivo, "mais importante que sete mil pés de laranja derrubados, são as cem mil famílias de brasileiros que estão na beira das estradas". O único condicionante da empresa é que as terras sejam destinadas à reforma agrária, dando preferência às famílias que ocuparam o lugar dias atrás.
Para maior surpresa, admitiu que é inconcebível que, "num país de 8,5 milhões de km², haja tantas pessoas sem um lugar para trabalhar e até mesmo para morar".
Com esse gesto, continuou, "contribuiremos para fazer uma justiça histórica nesse país, já que desde a chegada dos portugueses, a terra tornou-se um pesadelo para nossos índios, negros e pequenos camponeses. Queremos, de uma vez por todas, superar essa injustiça histórica, criar a paz no campo e que essa paz se estenda também por nossas cidades".
Para concluir, afirmou que "espero que todas as pessoas e empresas que grilaram terras públicas, como aquelas do Pontal do Paranapanema, ou na Amazônia, ou em qualquer outro canto do Brasil, repliquem o nosso gesto, devolvendo ao país o que é do país.
Afinal, todos os brasileiros têm direito a um lugar digno para viver, sem precisar de favores governamentais. Além do mais, uma vez feita a justiça no campo, não vamos mais precisar de ocupações de terras".
O gesto da Cutrale, sem dúvida, é histórico e pegou de surpresa todos aqueles que querem criar uma CPI para investigar o MST. Afinal, ao reconhecer que o primeiro crime cometido foi a grilagem das terras, não há mais por que buscar culpados onde eles não existem.
Roberto Malvezzi (Gogó), ex-coordenador da CPT, é agente pastoral.
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Comentários
Inadmissível... em 11/12/2012 o juiz da Vara agrária de minas gerais, concebeu a reintegração de posse a empresa cultrale, de uma área cuja a matricula 0469, a área situada no município do Prata/MG as margens da rodovia BR153 KM 135, segundo informações das famílias por lá estavam assentadas , a fazenda de nome Rio das Pedras se quer tem um documento informaram também que a empresa Cultrale entrou com um pedido de uso capeão... porém o ministério publico deu indeferimento ao pedido da cultrale, entendendo que a área em questão em seu entendimento pertencia as família acampadas a mais de 5 anos... essa decisão foi também respeitada pelo tribunal judiciário de Belo horizonte... mesmo assim o juiz da vara agrária expediu a reintegração a cultrale.... segundo um dos integrantes dos “sem terras” todos gastos sobre a operação de cumprimento da decisão do juiz, ou seja mais de 300 PMs foi pago pela Cultrale, assim ao tirar as mais de 130 famílias jogadas a beira da rodovia... nem o juiz e nem o prefeito do Prata quiseram destinar as famílias...
Bem vindo ao Brasil...
"Os companheiros e companheiras do MST de São Paulo reafirmam que não houve depredação nem furto por parte das famílias que ocuparam a fazenda da Cutrale. Quando as famílias saíram da fazenda, não havia ambiente de depredações, como foi apresentado na mídia. Representantes das famílias que fizeram a ocupação foram impedidos de acompanhar a entrada dos funcionários da fazenda e da PM, após a saída da área. O que aconteceu desde a saída das famílias e a entrada da imprensa na fazenda deve ser investigado."
Assim, meu caro Gogó, me parece que houve um só crime. O da grilagem das terras pela Cutrale.
Alguém sabe de algo mais?
Recebi do senhor, através do Correio da Cidadania uma das notícias de maior densidade que já tive oportunidade de ler. Espero, como tantos brasileiros, que o gesto da Cutrale não se dissolva na especulação da direita e da esquerda (ideológicas), como tantas conquistas que tivemos e que depois perdemos.
Essa notícia deveria ser posta na mesma dimensão da olimpíada porque contém um dose de otimismo concreto que nos faz bem à alma de todos.
brasileiramente
RG
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