Cutrale e a moral do “sepulcro caiado”
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- Roberto Malvezzi
- 03/11/2009
Faço esse texto a pedido de muitos amigos. Para muitos, o meu texto "Cutrale devolve terras griladas" fez com que muita gente acreditasse na conversão da empresa. Então, dou as devidas explicações.
A ocupação da Cutrale pelo MST trouxe algumas perplexidades. Eu mesmo me senti constrangido quando o movimento foi acusado de depredar e, sobretudo, de furtar objetos pessoais de funcionários da empresa. Depois, o próprio Movimento lançou uma nota pedindo desculpas de seus erros, negou a depredação e, sobretudo, o furto de alguns objetos. Achei a carta do MST bonita e convincente. Só os magnânimos têm capacidade de reconhecer seus próprios erros. O Movimento teve.
Entretanto, vendo a televisão e jornais, fiquei indignado com a moral farisaica que jorrou sobre o caso. Deputados, setores da mídia, profissionais da mídia, até o presidente da República, desfilaram uma onda de ataques ao movimento, mas sempre ocultando o problema mais grave, isto é, o fato de a empresa ocupar área pública grilada. Foi pretexto até para uma nova CPI sobre os Sem Terra.
E não é só a Cutrale. O professor Ariovaldo Umbelino estima que cerca de 200 milhões de hectares de terras públicas, 25% do território brasileiro, estão ocupados ilegalmente. Agora esse número deve diminuir, já que o governo Lula decidiu legalizar o grilo de 67 milhões de hectares só na Amazônia. Mas não é só ali. O Pontal do Paranapanema e outras regiões do Brasil apresentam o mesmo problema.
Então, todas essas acusações contra o MST me pareceram coisa típica da moral farisaica, que "côa mosquito e engole camelo", ou dos sepulcros caiados, que "estão bonitos por fora e cheios de toda podridão por dentro". Lamentar 7 mil pés de laranja e não ver as 100 mil famílias que estão nas estradas, ignorar o grilo das terras, ignorar o que está acontecendo com os Guaranis no Mato Grosso, com os atingidos pelos grandes projetos, é uma moral de hipócritas, que coam mosquito e engolem elefantes.
Decidi fazer um texto ironizando o caso. A grande mídia rodeou o texto, telefonou, mandou e-mails, mas não mordeu a isca. Não iria repercutir um texto como esse. Muitos amigos riram na hora, até elogiaram a peça de marketing ou disseram que era mais fácil acreditar em "saci, ET de Varginha, Papai Noel etc.". Porém, talvez por ingenuidade, ou por querer ver algo de sério acontecer nesse país, muitos acreditaram, embora seja a essência do absurdo. Quem já viu grileiro devolver terras, respeitar sem terra, reconhecer os problemas históricos dos índios etc.?
Então, afirmo que o texto "Cutrale devolve terras griladas" é uma ficção e não podia ser outra coisa, tamanho o absurdo do conteúdo.
Roberto Malvezzi (Gogó), ex-coordenador da CPT, é agente pastoral.
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Comentários
Em primeiro, acho que devo pedir desculpas àqueles que utilizaram o texto como fato. Acho que as pessoas tem direito de reclamar.
Segundo, continuo convicto que não há proporção ética alguma em termos de ocupação pelo MST e a devastadora grilagem de terras públicas por empresas como a CUTRALE, área estimada em cerca de 200 milhões de hectares. Esse é o problema que gera as ocupações.
Terceiro, venho da geração de Paulo Freire, que estudava a "Importância do Ato de Ler". Não há texto sem contexto. Ler um texto é ler e interpretar o mundo, a sociedade que vivemos. Portanto, para mim, o absurdo conteúdo do texto, por si, não poderia ser fato.
Mais uma vez, desculpem se induzi alguém ao engano.
Roberto Malvezzi.
O suco grilado, e a notícia "manipulada", e os leitores enganados.
O que é que eu digo lá em casa?
E a responsabilidade social da empresa? E o respeito ao meio ambiente?
O que diria o presidente Barack Obama professor de direito Constitucional e guardião dos direitos humanos. O acesso a terra é um direito humano, todos nós sabemos.
100 mil famílias desabrigadas, é vergonhosos para o país, que finge não ver este problema.
Ontem no programa de Oprah Winfrey mulheres dinamarquesas entrevistadas pela apresentadora do programa, afirmaram que na Dinamarca não ha sonegação de impostos e que a média é de 50% a 60% o que cidadãos pagam de Imposto de Renda, que entre um cargo e outro não ha diferença astronômica, não há violência, e que todos tem acesso a saúde, educação, moradia e trabalho, e quando alguém perde o emprego, o governo ajuda na busca de um novo emprego, durante o período que o cidadão está desempregado recebe ajuda do governo.
Quando Oprah afirmou então na Dinamarca o regime político é socialista? A cidadã dinamarquesa respondeu com o consentimento das outras:"Voce pode interpretar assim.Mas para nós é civilização, nós smomos civilizados. Eu estranhei demais quando visitei os Estados Unidos e constatei milhares de pessoas sem acesso à saúde.Somos civilizados.Aqui em nosso país buscamos a felicidade, ser bem sucedido é ser feliz.Buscamos a felicidade"
Tenho um grande respeito por esse informativo, que já recebo a alguns ano e me serve de contra ponto à
imprensa branco.
Fiquei surpreso com o artigo que fala de devolução de terras pela crutare, senti uma certa satisfação e, na minha avaliação, repassei.
Peço aos responsáveis pela edição dos texto do Correio da Cidadania, para que tomem muito cuidado com as publicações, para que esse conceituado informativo on-line não caia em descredito.
Atenciosamente.
Creoncedes.
Quando se usa a palavra e as técnicas de redação com propriedade, tal problema é, com certeza, eliminado.
Portanto, faltou ao autor do texto a competência para ironizar resguardando a verdade dos fatos.
Resguardar a verdade dos fatos deve ser O COMPROMISSO MAIOR DE TODO JORNALISTA.
Só haverá solução quando essa desculpa resultar na inversão das posições de todos os lados (e haja lado nesta contenda!) pois estaremos, então, diante de algum impasse que permitiria tal saída.
Os meios a que os lados apelam para se posicionarem não justificam-se pelos fins, na maioria dos casos porque os fins tem sido, via de regra, um jogo político de partes pequenas porém poderosas.
É assim que dialeticamente se constrói o futuro que sonhamos, e por isso seremos vítimas da esperança quando transvertida de um jogo bobo para expressar o que não existe, nem existirá sem o confronto e a violência.
Estamos mais perto da ingenuidade do que da Utopia, por isso pudemos ser enganados!
Mas, por que a derrota é mais dialética que a vitória Luther King pode nos falar do sonho como a grande diferença.
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