A candidatura Marina Silva
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- Plínio de Arruda Sampaio
- 05/11/2009
Desde a publicação do relatório da pesquisa patrocinada por universidades e por centros de investigação reunidos no Clube de Roma a respeito da crise ambiental (Limites do Crescimento. 1975), o "establishment" capitalista internacional passou a preocupar-se com a destruição do meio ambiente.
A pesquisa, realizada pela primeira vez com computadores aptos a processar simultaneamente uma quantidade enorme de dados, permitiu fazer previsões globais a respeito do impacto destruidor da produção econômica capitalista.
As medidas adotadas pelas instâncias internacionais para deter essa destruição tiveram, sem dúvida, efeitos positivos, pois as previsões mais catastróficas sobre o esgotamento de recursos naturais básicos não se realizaram. Entretanto, o problema não foi resolvido, e, na verdade, agravou-se, como vem anunciando o ex-vice presidente dos Estados Unidos, Al Gore.
Portanto, estes 35 anos de ecocapitalismo demonstraram a incapacidade desta proposta para dar uma solução efetiva ao problema ecológico. Com efeito, o ecocapitalismo é incompatível com a solução do problema ecológico em razão da própria racionalidade interna desse sistema econômico baseado na acumulação infinita de capital. A própria lógica desse sistema impõe rígidos limites às medidas de defesa do meio ambiente, porque tais medidas, para serem de fato eficazes, afetam necessariamente a acumulação de capital. O ecocapitalismo não se opõe à restrição da acumulação de capital, mas - atenção! – desde que tais restrições não ultrapassem limites considerados intransponíveis e fixados pelo próprio "establishment" capitalista. Essa linha de "no trespassing" demonstrou, nestes 35 anos, ser absolutamente insuficiente para afastar da humanidade o risco de uma hecatombe ambiental.
O ecocapitalismo é diametralmente oposto ao ecosocialismo. Este, considerando as limitações impostas pela conjuntura de hegemonia do capitalismo, propõe medidas (bem mais drásticas do que as da senadora Marina) que ainda se enquadram no marco do capitalismo, ou seja, ainda parciais e insuficientes para deter completamente o processo destrutivo. Porém, ao propô-las, deixa bem claro seu caráter limitado e aponta simultaneamente para os passos que podem levar a uma situação em que seja possível adotar um modo de produção ajustado às condições de reprodução saudável do meio ambiente. Ora, tais passos somente são possíveis nos marcos de governos não capitalistas. Trata-se, portanto, de uma proposta pedagógica, conscientizadora – a única que justifica a participação dos socialistas numa campanha eleitoral de cartas marcadas como a de 2.010.
A contradição antagônica entre o ecosocialismo e o ecocapitalismo não impede, em princípio, a aliança entre essas duas forças, com o propósito de confrontar conjuntamente o "establishment" capitalista em aspectos pontuais da luta ambientalista. Contudo, tal aliança é evidentemente impossível na atual conjuntura nacional em que o "establishment" trata de esmaecer diferenças, ocultar divergências, fantasiar a realidade, a fim de consolidar sua atual hegemonia política.
Não tem, portanto, cabimento algum o movimento de alguns setores socialistas para celebrar uma aliança eleitoral com a candidatura da senadora Marina Silva, cuja atuação política na defesa do meio ambiente nunca culpabilizou o capitalismo, como primeiro e universal predador.
Não se pode desconsiderar que durante mais de seis anos a senadora participou de um governo que aceitou servilmente todos os vetos do capital às medidas que a própria senadora quis aplicar (transgênicos, destruição de florestas, titulação do "grilo" amazônico e vários outras).
Quando, finalmente, a senadora deixou o PT, ficando livre para tomar um caminho claramente socialista, procurou o PV, uma legenda que sempre se aliou e hoje integra a base de vários governos de direita.
Para escapar do impasse, os setores que estão defendendo a candidatura Marina sugerem que se exija uma declaração formal da senadora em favor de uma plataforma ecosocialista. É preciso ser muito ingênuo para acreditar que uma conversa deste tipo possa dar alguma garantia concreta. Mesmo admitindo-se que a senadora assine a mais radical plataforma, sabemos que, dada a correlação de forças do bloco político que ela integra, tal plataforma não será para valer.
Por isso, independentemente da figura pessoal da candidata, não há como deixar de qualificar esse movimento de parte de alguns setores do socialismo como uma postura oportunista, eleitoreira, incompatível com uma proposta que, de fato, faça avançar a caminhada socialista em 2.010.
Plínio de Arruda Sampaio é diretor do Correio da Cidadania.
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Comentários
E, o comentário do Plínio me faz ter esperanças que sua possível candidatura seja com o feitio de uma "anti candidatura" declarada, no sentido de repudiar a farsa eleitoral, sem deixar de usar os espaços oferecidos dentro do processo, com o uso da mídia.
Certamente, se tiver este caráter explícito eu abandornaria a posição de Voto Nulo para os Cargos Executivos e faria parte desta jornada com uma Anti Candidatura, a do Plínio que, tenho a certeza seria um fato novo de relevo, daria visibilidade para a denúncia da farsa eleitoral e visibilidade para um Programa para o País, que invertesse a mão atual.
E, no PSOL, não vejo ninguém melhor que o Plínio para representar esta estratégia, pela sua trajetória, dignidade e experiência política.
O apoio à candidatura de Marina Silva (PV) dialoga com uma concepção de que ela frearia um lulismo ou um tucanismo que só é possível para os que não compreendem o que significa centralidade do trabalho. Assim muitos que defendem estas e outras “teses” se recusam a ver o que significa o PV a nível nacional, nos estados e municípios oscilando de apêndice de grupos dominantes (ou sendo dominante) a mera legenda de aluguel a serviço da direta.
A candidatura de Plínio vem justamente no esforço deste salto qualitativo, pois ruma para uma ruptura do padrão de disputa eleitoral e aponta para os futuros desafios organizativos da esquerda brasileira. Apoiar e construir esta candidatura é contribuir não somente para debate necessário, mas sim, para o avanço de um salto qualitativo de concepções e praticas tão urgente em nossa luta.
Quem raciocina com a dialética percebe claramente que nesta conjuntura a candidatura Marina cumpre a função de impedir o debate sobre os problemas de fundo da sociedade brasileira. Portanto, não cabe nenhuma aliança com sua candidatura.
Minhas idéias sobre o teor da campanha socialista nas próximas eleições coincide plenamente com as suas. Trata-se de conscientizar o povo a respeito da farsa que a burguesia monta periodicamente a fim de legitimar seu domínio.
Obrigado pela colaboração.
Plinio
Quem raciocina com a dialética percebe claramente que nesta conjuntura a candidatura Marina cumpre a função de impedir o debate sobre os problemas de fundo da sociedade brasileira. Portanto, não cabe nenhuma aliança com sua candidatura.
Muito obrigado pelo apoio.
Plinio
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