Marina Silva e Heloísa Helena: duas contra três em 2010
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- Kenzo Jucá
- 17/11/2009
Marina Silva e Heloísa Helena juntas em 2010 – duas mulheres pobres, Amazônia e Nordeste. Ambas negaram o pacto do poder pelo mero poder. Esse cenário tira o sono da elite brasileira.
O anúncio oficial dessa possibilidade, feito pelo PSOL essa semana, foi precedido por artigo atônito de José Dirceu, onde acusa o golpe desferido por Marina e Heloísa nos flancos de Dilma Roussef e José Serra de uma só vez.
O que mais preocupa PT, PMDB, PSDB e PSB nessa provável aliança é que atinge de uma só tacada as candidaturas Dilma, Serra e Ciro. Caso aliada à Heloísa Helena (candidata ao Senado), a candidatura Marina à presidência estará afirmando categoricamente ao Brasil que a agenda ambiental não é compatível com o modelo neoliberal e com a racionalidade capitalista hegemônica no mundo, representada pelas três candidaturas.
Seriam duas contra três. Seria um simbolismo do antagonismo entre trabalhadores e excluídos ante o sistema financeiro, empreiteiras e agronegócio, superando maniqueísmos. A complexidade da crise ambiental tomaria seu lugar: uma questão econômica e política objetiva, não somente filosófica ou subjetiva como fazem crer.
A aproximação entre Marina e Heloísa demonstra estar além da reconhecida amizade pessoal entre ambas ou de mera conjuntura eleitoral. Mais que isso, o diálogo é fruto da relação direta entre a crise ambiental global e a crise econômica mundial. É resultado da postura coerente do PSOL e da ruptura de Marina com o lulismo.
A racionalidade ambiental, conceito desenvolvido por Enrique Leff, implica na desconstrução da racionalidade capitalista do mundo globalizado. Esse esforço supera os movimentos ambientalistas e a ética ecológica do senso comum e marca a passagem da modernidade para a pós-modernidade, onde a racionalidade ambiental aponta ao anti-capitalismo. O diálogo entre Marina e Heloísa demonstra isso claramente.
Essa aproximação, além de tirar o sono das elites e apontar uma alternativa ambiental de poder socialista concreta à globalização no Brasil, pode ser capaz de reverter injustiças históricas na Amazônia brasileira e no país.
Mesmo com 1 milhão de barcos navegando em seus rios, construídos por uma das indústrias navais artesanais mais avançadas do mundo, a Amazônia não possui escolas profissionalizantes navais ou linhas de financiamento aos construtores tradicionais. Apesar de o Fundo de Marinha Mercante possuir R$ 10 bilhões para investir no setor anualmente. Resulta da ausência de racionalidade ambiental no planejamento público.
Apesar de ser a maior e mais importante bacia hidrográfica do Planeta Terra, a Amazônia não possui nenhum comitê gestor de bacia hidrográfica. Mesmo o Brasil possuindo centenas de comitês em funcionamento e o PAC programar dezenas de projetos hidrelétricos na bacia amazônica, envolvendo milhares de pessoas.
A união entre racionalidade ambiental e alternativa socialista no Brasil, representada pela possibilidade de aliança entre Marina Silva e Heloísa Helena em 2010, significa o grande fato novo digno de nota na América Latina atualmente.
Kenzo Jucá é sociólogo e assessor da Bancada do PSOL na Câmara dos Deputados.
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Comentários
Marina teve uma trajetória de lutas, mas ao vacilar no seu rompimento com o PT e ter ido para o PV, um partido sem qualquer tradição de lutas socialistas, marcado por posturas oportunistas e gente como Zequinha Sarney (no MA) MArcelo Léllis (To), que representa os grupos mais conservadores e oligárquicos do Brasil, abre uma ferida profunda e de difícil cauterização. E o pior de tudo isso, é dizer que o que está sendo feito é uma estratégia de avanço do PSOL e da luta socialista. Esse é o início da destruição do PSOL, que pode começar a trilhar o mesmo caminho do oportunismo, da degeneração de princípios e do desvirtuamento de uma face verdadeiramente socialista e libertária. Os interesses eleitorais não podem falar mais alto que a necessária consolidação do Partido como um instrumento de lutas socialistas dos trabalhadores brasileiros. Apesar de ainda ser militante de uma das correntes majoritárias do PSOL que defende a coligação com MArina Silva, não aceito tal posição e individualmente continuo defendendo uma candidatura própria, por isso apoio a candidatura de Plíno Arruda para presidente. Brasil Descente, Plínio Presidente!
Paulo HEnrique Costa MAttos, vice-presidente do PSOL-Tocantins
Este argumento não corresponde aos fatos. Apesar de um passado de militância respeitável, Marina Silva foi fiel seguidora do receituário adotado pelo governo Lula. Como ministra, fez uma série de concessões para não atrapalhar o avanço do agronegócio e das grandes fazendas que avançam sobre a floresta amazônica. Ainda mais, saiu do PT dizendo que deixa o que era sua casa e ganha um bom vizinho. Então, se poucas palavras bastam para um bom entendedor, as contradições com o modo PT de governar foram suficientes para desligar-se, mas as portas estão escancaradas para futuras alianças. O PV já faz isto: é base aliada do governo Lula; aliado de Blairo Maggi em Mato Grosso, apontado pelo GREENPEACE como a personalidade brasileira que mais contribuiu para a destruição da Amazônia; apoio ao governo José Serra em São Paulo, etc.etc.etc. Este é um partido que se apresenta como salvador da humanidade, mas só presta serviços à burguesia.
Para ser coerente com sua postura diante do governo Lula, Marina Silva não podia encontrar partido melhor: o PV.
Realmente, uma agenda ambiental conseqüente não é compatível com o modelo neoliberal e com a racionalidade capitalista.
Mas em que lugar o PV rompe com resta racionalidade capitalista?
Em seis anos no ministério, quando Marinha Silva agiu no sentido de questionar esta racionalidade capitalista?
Quando ela se articulou com os setores organizados (ou desorganizados) dos trabalhadores para questionar o modelo adotado pelo governo Lula?
Em entrevista, Heloísa Helena declarou o seguinte: \"Marina é uma pessoa maravilhosa e, pelo perfil dela, é a única oportunidade para o país para discutir o desenvolvimento sustentável com responsabilidade social. Qualquer outro partido que venha com esse discurso soará como uma coisa hipócrita\" declarou em entrevista ao UOL Notícias.
Mas o PV já faz esta defesa de forma hipócrita. Acho que o PSOL não deve ser correia de transmissão da demagogia.
Sob o capitalismo, conseguir “desenvolvimento sustentável e com responsabilidade social”? Impossível. São da natureza do capitalismo a concentração da renda e a desigualdade social. Então temos necessariamente que construir uma frente anticapitalista para lutar e construir uma sociedade com desenvolvimento sustentável, ou seja, uma sociedade socialista.
Com a grave crise do capitalismo na década de 30 do século passado, John Maynard Keynes advogou a necessidade de o estado fazer fortes investimentos em setores estratégicos da economia para ser alcançado o bem estar social. O resultado seria um mundo de felicidade, com pleno emprego.
Diante da possibilidade de colapso do capitalismo, os governos das mais importantes economias do mundo começaram a seguir esta cartilha. Mas o sonho do pleno emprego ficou apenas nas páginas dos livros de Keynes e seus seguidores.
Não é hora de pregar ilusão. Devemos agir no sentido de aglutinar as força que de fato tem interesse em lutar por uma nova sociedade. Na atual conjuntura, fazer aliança com Marinha Silva é abdicar do programa e do respaldo que o PSOL tem hoje entre parcelas significativas dos trabalhadores e do povo. Reconhecemos que temos ainda que fazer muito, que suar a camisa, mas sempre com o propósito de manter o combate ao governo Lula, à oposição de direita (PSDB/DEM) e dar continuidade ao desafio da organização da classe trabalhadora, combater a pobreza e a concentração de renda. Para isto, temos clareza que o horizonte é socialismo.
Estes objetivos não são incompatíveis com uma política de massas, que aglutine milhões de trabalhadores e jovens.
Espero que o PSOL não entre no barco furado de Marina Silva.
Espero que o PSOL não seja cooptado pela política de conciliação de classes.
Carlos Lopes
PSOL – Imperatriz - MA
http://takahashi.noblogs.org/post/2009/10/15/meu-desligamento-do-pv
O PSOL vai simplesmente jogar toda sua curta história no buraco entrando nessa aliança. Vai mostrrar que a amizade heloisa helena e marina silva é mais importante que qualquer programa político sério. Dessa forma nunca romperemos o personalismo que domina a politica brasileira.
Não vi nem ouvi da parte da admirável Senadora Marina, a quem muito especialmente estimo, nenhum anúncio de uma grande campanha popular que, sob a hipótese de que ela viesse a assumir eventualmente o governo, lhe pudesse minimamente assegurar, pela via da pressão popular-revolucionária (não falo em revolução armada, naturalmente, neste contexto), uma base de apoio congressual indispensável à viabilização da sua administração. Vejo, sim, um discurso que, de conciliatório, torna-se quase sem identidade, na carência de uma postura que denuncie firme e claramente, a voracidade capitalista como principal vetor de agressão ao meio-ambiente.
E, de outro lado, como já sugeriu outro comentarista do texto do Kenzo, se, na busca de uma futura base parlamentar, for para valer-se do Zequinha Sarney e outros oligarcas ou aprendizes de oligarcas que tais, a nossa querida Senadora Marina estará, sem dúvida, alienando o patrimônio de respeitabilidade que acumulou ao longo da sua história, para apenas nos oferecer um pouco mais do mesmo atual, talvez até sem as possibilidades de avanços que se tornaram possíveis em setores pontuais (infelizmente muito estritamente pontuais) do governo Lula.
A esquerda tem, sim, um nome respeitável de um homem que carrega um acervo enorme de reflexão sobre o Brasil, de um ponto de vista rigorosamente convergente com as aspirações do pensamento socialista. Por que não nos podemos unir em torno da anti-candidatura de Plínio de Arruda Sampaio?
aí vai meu e-mail, svguimaruol.com.br, não só pra receber sua resposta a Luciana Genro, mas para trocar ideias sobre a questão do voto nulo. adianto que sou contrário ao voto nulo.
abração socialista e comunista.
guimarães s. v. em 19.11.2009.
Mas, com esta possibilidade de adesão de Heloísa Helena, levando o PSOLà reboque, ao projeto Marinista -
-Verde, sequer para isso eu daria um voto em algo que tiver o PSOL envolvido.
Reparem que a coligação é anunciada como de Marina com Heloísa Helena. Assim constrói-se não uma, mas duas potenciais Lullas de saias.
Sob a minha perspectiva, PSTU é invotável, principalmente por suas posições internacionais, de apoio ao imperialismo na escolha de seus adversários como são Chávez e todos aqueles que, de uma forma ou de outra, se insurgem contra a hegemonia Anglo-Saxônica no mundo, que devem ser respeitados e protegidos de qualquer intervenção imperialista, independente de nossas afinidades ideológicas.
O PCB, que passa por excelente inflexão à esquerda, sozinho apenas poderá marcar posição doutrinária com seus candidatos, sugerindo eu que, neste caso, façam uma campanha apenas de denúncias sobre a armadilha eleitoral e proposições para um País (não governo) melhor e até lançando uma Anti Candidatura de Esquerda à Presidência da República. Se se coligar com alguns destes, nestas condiçõesproposta no artigo, ou com o PSTU com as peroposições internacionais que tem, será também uma bola fora.
Resta a opção do PSOL resolver-se pelo que venho chamando de uma Anti Candidatura, a do Plínio de Arriuda sampaio, seria ótima com este propósito, possibilitando uma coligação com o PCB e até o PSTU (se rever sua Política Internacional de aliança com o Imperialismo contra países Autodeterminados), chamando que aqueles que Votam Nulo para os Cargos Executivos (como eu) aliarem-se a Anti Candidatura, que poderá ter até a Renúncia, no final da campanha, quando seu nome não mais poderá ser retirado da Urna Eletrônica, somando como Votos Nulos, todos os deposiatdos em Plínio, como um Voto de Protesto.
Esta seria uma maneira inteligente de usar as eleições, e seus espaços e custeio públicos, e por isso, passíveis de serem ocupados por setores populares em luta, de forma a propaganda e agitação política, mantendo algumas temáticas importantes na discussão.
Se o que está propondo o Kenzo acontecer, o PSOL terá conseguido se corromper ideologicamente em apenas 7 anos, coisa que o PT precisou de 20 anos, para ser esta coisa que é hoje.
Nada do que coloco acima corrompe a legítima Campanha pelo Voto Nulo ou Abstencionismo, que sabemos ser urgentemente assumida, como forma válida de luta política, focando nas ruas e nos Movimentos Populares, o protagonismo da Política.
Tudo é uma questão de manter a mente reta, a espinha ereta e o coração tranquilo (Walter Franco), pois o momento é grave
Aqueles que desejem ler a resposta que elaborei ao artigo da dep. federal Luciana Genro com o título, ao meu ver iníquo, de UmpPasso atrás e Dois prpá Frente, podem acessar o rayaraujo6gmail.com, que disponibilizarei com o maior prazer, mas também com tristeza.
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