O mito do livro
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- Gilvan Rocha
- 19/03/2010
A nossa sociedade, sustentada em diferentes classes sociais, não poderia existir se não fossem os mitos, as mentiras, as fraudes e toda ordem de charlatanismo. Dentre esses males que afligem a humanidade talvez o mito do livro seja o mais nocivo deles.
Aprendi muito cedo com o meu pai que livros são escritos por homens. Assim sendo, existem livros ruins, bons, geniais, voltados para o diletantismo, para a militância de toda natureza e existem deles tão escabrosos que mereceriam uma boa fogueira.
Ora, certo cidadão arvora-se de ter reunido alguns milhares de livros. Talvez o gosto pela leitura seja acidental. Menino ainda, com impiedoso grau de miopia, não podia se permitir praticar futebol, jogar pião, empinar papagaio e outros tantos lazeres que faziam a felicidade da criançada. A saída foi se refugiar na sua interminável leitura sem perceber que as leituras são conflitantes ao ponto de uma excluir totalmente outra.
Portanto, ler é um processo de exclusão. Por sua vez, ler não é necessariamente aprender. Muitas vezes, levados pelos preconceitos, somos impedidos de praticar um bem maior: o ato de pensar.
Conheço bem esse soberbo senhor que se diz marxista-leninista-trotskista. Isso é uma impropriedade em termo, pois a ciência socialista é um acúmulo de conhecimento que vem dos pré-marxistas aos valiosos socialistas da Primeira à Quarta Internacionais, sem muita ênfase para essa última que se confirmou desprovida de fundamentos.
A revolução socialista não foi traída, desfigurada como pretendeu o senhor Leon Trotsky. Ela foi antes de tudo derrotada em escala mundial. Quem porventura pretender buscar as raízes de nossa derrota, vamos encontrá-las antes de tudo na República de Weimar na Alemanha de 1919/23.
Esse senhor, em causa, com seus ricos livros, é incapaz de discernir arte de ciência. O primeiro é uma ação estética e o segundo é o conhecimento propriamente dito. Já se disse que não é o hábito que cria o monge, tampouco é o cachimbo e o suspensório que fazem o sábio.
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.
Blog: http://www.gilvanrocha.blogspot.com/
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Comentários
Leitura é uma parte importante, mas refletir demoradamente sobre ela e principalmente, analisar aquilo que nos cerca e criticar com as próprias palavras e pensamentos, ainda que depois venha a mudar de idéia, isso sim é importante.
Muita gente ainda tem a idéia de que se está escrito no livro é mais válido do que se é falado ou é um panfleto. Principalmente se for publicado por uma editora famosa. Se for escrito com rebuscamento e construções frasais complicadas e incompreensíveis então, melhor ainda.
Infelizmente essa é a realidade. Não se percebe que difícil é escrever algo complicado de maneira compreensível. Parar para pensar então... é o pior dos crimes. Criticar clássicos com a própria opinião... \"Que audácia\".
Tomara que se leia por interesse no assunto, para refletir mais sobre o que já se reflete e para ampliar horizontes, não porque é bonito ter livros na estante ou para dizer que conhece os clássicos.
Ler é importante, mas nada substitui o próprio pensar.
Sem entrar no mérito do a favor ou contra Trotsky, mesmo eu tendo forte inflência (não dogmatismo) dos Anarquistas Originais (perseguidos, quando não mortos por Trotsky e Lênim - aguardo contestações, para tréplica), concordo com o argumento de Gilvan, quando diz que a Revolução Mundial foi derrotada, e não Trotsky, mas creiuo que o possibilitou Stálin fazer, estava embrionário no Estado Forte (burocratismo de Lênin e Trotsky - aguardo contestação, para debate).
Mas, os livros, na nossa sociedade não indígena (os próprios quilombolas têm tradição oral forte, mas não dispensam livros) faz parte dos Bens de Consdumo, sonegados pela Classe Dominante aos Pobres, só liberando em profusão a porcariada que conhecemos.
Aindaberm que há livros bons e ruins, assim é que avançamos criticamente à vida (a esquerda brasileira está se esquecendo o que é dialética...). Juízos de valores estéticos e de conteúdo devem ser mutos e diversos, o que não pode haver é exclusão do acesso.
Orgulho-me muito (embora não tenha feito mais do que a minha obrigação, pela oportunidade) de, aos 55a nos ter lido uns 5 mil livros. Mas não me gabo diosso, e sei ser um patrimônio meu, não para imposiç~~oes intelectuais, mas sim para ajudar na Revolução. Joguei bola, fui a praia, namorei, fui a Woodstock (em espírto) e o vivio aqui9 no Brasil, e TAMBÉM li, encantado pelas letras.
E não fiquei nem burro e enem teleguiado por isso, ao contrário, descobri o mundo (me chamo Raymundo) e aprendo a vê-lo criticamente.
E sempre soube o porque, como diz o eslogan da revista extinta do Ziraldo "Quem mostra a bunda na Caras, Não mostra a cara na Bundas".
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