O golpe Bonapartista
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- Gilvan Rocha
- 01/04/2010
A burguesia representa uma extrema minoria de pessoas. Essa minoria não poderia dominar politicamente a imensa maioria dos despossuídos não fosse o uso de suas várias instituições, ou melhor, o uso do chamado aparelho de Estado. O legislativo, o judiciário, o sistema de ensino, o aparato administrativo, a polícia e as forças armadas são os instrumentos que a burguesia usa para manter a massa de trabalhadores e excluídos subjugados aos seus objetivos.
A instituição que exerce mais ostensivamente o poder é representada pelos políticos de carreira. Caso as coisas não andem, bem a população descarrega o seu repúdio nos políticos. Em síntese, o discurso é simples, e se constitui em dizer que o sistema capitalista é bom, porém os seus políticos são maus.
Em fins da década de 50 e início dos anos 60, observou-se uma grande comoção social no Brasil. De repente passamos a ter dois blocos políticos. Um deles defendia a necessidade de um elenco de reformas, as reformas de base, cujo objetivo seria o de adequar o crescimento do capitalismo no Brasil. O outro bloco se opunha firmemente a essas reformas; temia que elas pudessem desaguar num processo revolucionário como ocorrera em Cuba no início de 1959.
O bloco reformista era capitaneado pelo PTB, mas, sobretudo, pelo velho PCB. Esse bloco pretendia arregimentar as massas populares com o objetivo claro de pressionar os conservadores dizendo: as massas estão aí, a cada dia mais inquietas, a cada dia mais explosivas, façamos pacificamente as reformas antes que as massas tomem o caminho da insurreição.
Na verdade, apesar da influência das revoluções cubana e chinesa, faltavam-nos organizações revolucionárias que se dispusessem a propor às massas o caminho da revolução socialista. Aprofundados os conflitos, criou-se uma situação pré-revolucionária, um dilema: revolução ou contra-revolução. Foi aí que a burguesia lançou mão do seu braço armado e promoveu o golpe contra-revolucionário de 1964, que teve a inequívoca participação indireta da esquerda reformista.
Gilvan Rocha é presidente do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.
Blog: http://www.gilvanrocha.blogspot.com/
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Comentários
Porque aí faltou a figura carismática que, a pretexto de conciliação social em um momento em que nenhuma classe tivesse a proeminência, impusesse a direita no centro do processo político.
O que houve em 64 foi puro golpe de Estado, não apenas militar mas civil-militar, da direita lacaia dos ianques.
Não foi bonapartismo, mas não faz diferença, in casu.
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