Correio da Cidadania

O MST, a esquerda e o “descenso” das massas

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O MST é, sem dúvidas, um dos mais importantes movimentos sociais e políticos do Brasil e do mundo contemporâneo. Apresenta uma importante radicalidade ao questionar a propriedade privada capitalista e ao não renegar o socialismo e as possibilidades de superação do capitalismo. Colocou as ações diretas e o enfrentamento ao poder dominante econômico e político no centro de suas ações.

 

Estas ações ficaram demarcadas, principalmente, nos anos 1990 e início dos anos 2000. Ou seja, no período de maior expansão do capital na sua fase neoliberal, de crise das idéias socialistas, do fim da URSS, da incorporação destas políticas no Brasil pelo período FHC, o MST nadou contra a corrente e conseguiu se impor. Num período de crise dos movimentos sociais e em que o movimento sindical, representado pela CUT e Força Sindical, se retraiu para o pragmatismo de oferecerem cursos de capacitação, o MST incomodou as elites, o poder político e econômico e o preconceito, se organizando para ganhar as ruas das cidades e as terras passíveis de reforma agrária, e até mesmo com um novo projeto educativo.

 

Eu analisei estas ações, hoje circunscritas ao período FHC, em meu livro "Além da terra: cooperativismo e trabalho no projeto educativo do MST", Ed. Quartet, em que mostro como, em um período de retração dos movimentos sociais e sindicais no Brasil e no mundo, o MST havia conseguido, pelas ações diretas e por não se curvar ao pragmatismo, ser uma referência para as esquerdas brasileiras e mundiais.

 

Porém, os anos 2000 trouxeram ao Brasil uma nova realidade: a vitória eleitoral de Lula da Silva, um presidente que continuava as políticas de seus antecessores, com algumas diferenças lógicas, mas que tinha uma origem no movimento popular e um ótimo relacionamento pessoal com as massas populares.

 

Este novo governo contribuiu para desarticular ainda mais os movimentos sociais, sindicais e políticos de esquerda. Importantes movimentos, como a CUT, a UNE/UBES e tantos outros iriam aderir, com entusiasmo, ao projeto capitalista, em sua fase liberal-social, do novo governo. Outros manteriam sua postura crítica, como o MST, porém sem a força do período anterior. Estranhamente, passaram a adotar o discurso do "descenso das massas" como algo dado e a ver o governo Lula como um governo de contradição e "em disputa", quando todas as ações do governo demonstravam que o seu direcionamento era para manter a reprodução do capital. Assim, o MST permaneceu como o mais importante movimento social e político brasileiro, mas diluído nas contradições do governo Lula.

 

O problema é que o MST, que foi a grande referência nos mais duros anos de implementação da ideologia neoliberal, que havia mostrado que era possível se organizar, ir para as ruas, ocupar, debater uma nova educação, dentre outras ações; mesmo num período em que tudo dizia não ser possível, que era a referência para a organização contra-hegemônica em um período de hegemonia quase absoluta do capital, passou a assumir o discurso de alguns outros movimentos de "descenso das massas".

 

Ou seja, quem havia mostrado que podemos organizar a contra-hegemonia mesmo nos períodos adversos, muda o discurso e a prática. Passa a se adequar, ainda que parcialmente, ao discurso da "impossibilidade" deixando de lado sua rica experiência dos anos 1990.

 

Precisamos, todos os que lutam pela superação do capitalismo, beber nas fontes das ações do MST nos anos 1990 e início dos anos 2000 e deixar de lado o conformista discurso de "descenso das massas", adotado, inclusive, pelo MST no período Lula. O Movimento dos Sem Terra possui a chave, que deve estar escondida, ou perdida, em algum canto de algum assentamento. Cabe ao MST e à esquerda recuperarem a chave das mobilizações. Afinal, "não sabendo que era impossível, foi lá e fez".

 

Antonio Julio de Menezes Neto é cientista social, doutor em Educação e professor na UFMG. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

 

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Comentários   

0 #8 mais política, menos teoriaCarlos 10-07-2010 11:47
imagino que a intenção do prof. antonio julio, seja das melhores. suas consequências e sua capacidade de análise são as piores. seu texto expressa visão voluntarista, desassociada de quem está na prática, na luta, visão externa e errônea. demonstra incapacidade de ler a conjuntura, como se bastasse vontade para se sair do descenso. vivemos o mais longo período da história sem uma revolução, já são 30 anos, mais queda do muro, blindagens jurídicas, neoliberalismo... e me vem um professor achar que descenso é uma questão de retórica? chegue mais perto da classe trabalhadora acadêmico bem intencionado. "formação fora da política" como diria lenin, dá nisso.
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0 #7 |ERRATARaymundo Araujo Filho 09-07-2010 08:51
E 2002 o ano que quiz me refrir na ausão à mobilização do MST.

O ano de 2202, como acabei digiando, corresonde ao ano que as bases do ST obterão aguma coisa, nesate andar da caruagem...
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0 #6 a esquerda e o descenso de massasgabriel 09-07-2010 08:44
Discordo do autor do artigo. Impressiona-me o fato dele não saber o que é descenso de massas. A impressão que tenho é que ele acha que descenso é só um mecanismo de retórica. na verdade isso expressa o fato dele não saber analisar a correlação de forças e cair numa posição voluntarista, como se para mobilizar as massas dependesse simplesmente da vontade de alguns ("foi lá e fez"?). Pois eu explico: ascenso de massas é um período histórico marcado pelo protagonismo permanente das lutas sociais, nível de consciência relativamente elevado da classe que se mobiliza em torno de um projeto político. Aliás, não é por acaso que PT, CUT E MST surgem na década de 80, pois de 78 até 89 (pra uns até 95 com a derrota da greve dos trabalhadores da petrobrás)ocorre um ascenso de massas.Já a parir da primeira metade da década de 90 inicia-se um descenso de massas com a derrota de lula, a queda do muro de berlim a dissolução do bloco soviético, reestruturação produtiva, neolibaralismo etc. Tudo isso impactou na organização dos trabalhadores, predominando lutas de resistência, o corporativismo e o economicismo.É a correlação de forças que impõe esta situação, ou seja, não depende simplesmente da vontade dos dirigentes (se assim fosse já teríamos feito a revolução brasileira. O MST e os Zapatistas foram exceções nesse deserto neolibaral marcado pelas lutas de resistência. Querer explicar um processo histórico complexo como este em função do governo lula é de um simplismo impressionante. Proponho que estude um pouco das revoluções de 1848, assim como a comuna de paris e voce entenderá que depois de todo ascenso de lutas vem uma ofensiva da reação: basta ver a décad de de 1850 e o período pós a derrota da comuna de paris, assim como o período de descenso pós derrota da revolução russa de 1905, ou mesmo a década de 90 pós ascenso dos anos 80. Só quem não conhece o MST é que fica com esta história ridícula(geralmente quem fala isso é a pequena burguesia de partidos sectários) de que a base é revolucionaria mas a direção é isto e aquilo. Eu conheço bem o movimento e posso garantir que a direção é formada pelos quadros políticos mais preparados da esquerda brasileira. Tempos bons aqueles em que os intelectuais eram organicamente ligados às lutas do povo , pois assim eles sabiam fazer uma "análise concreta de uma situação concreta". É isso
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0 #5 O SOCIALISMO DE CATEDRA DE ANTONIO JULIOGabriel 08-07-2010 17:54
só um acadêmico descolado da luta concreta pra não entender o que é descenso de massas. Pois eu explico: ascenso de massas é um período histórico marcado pelo protagonismo permanente das lutas sociais, nível de consciência relativamente elevado da classe que se mobiliza em torno de um projeto político. Aliás, não é por acaso que PT, CUT E MST surgem na década de 80, pois de 78 até 89 (pra uns até 95 com a derrota da greve dos trabalhadores da petrobrás)ocorre um ascenso de massas.Já a parir da primeira metade da década de 90 inicia-se um descenso de massas com a derrota de lula, a queda do muro de berlim a dissolução do bloco soviético, reestruturação produtiva, neolibaralismo etc. Tudo isso impactou na organização dos trabalhadores, predominando lutas de resistência, o corporativismo e o economicismo.É a correlação de forças que impõe esta situação, ou seja, não depende simplesmente da vontade dos dirigentes (se assim fosse já teríamos feito a revolução brasileira. O MST e os Zapatistas foram exceções nesse deserto neolibaral marcado pelas lutas de resistência. Querer explicar um processo histórico complexo como este em função do governo lula é de um simplismo impressionante DOUTOR. Propnho que estude um pouco das revoluções de 1848, assim como a comuna de paris e voce entenderá que depois de todo ascenso de lutas vem uma ofensiva da reação: basta ver a décad de de 1850 e o período pós a derrota da comuna de paris, assim como o período de descenso pós derrota da revolução russa de 1905. Só quem não conhece o MST é que fica com esta história ridícula(geralmente quem fala isso é a pequena burguesia de partidos sectários) de que a base é revolucionaria mas a direção é isto e aquilo. Eu conheço bem o movimento e posso garantir que a direção é formada pelos quadros políticos mais preparados da esquerda brasileira. Tempo bom aqueles em que os intelectuais eram organicamente ligados às lutas do povo , pois assim eles sabiam fazer uma análise concreta de uma situação concreta. É isso.
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0 #4 Que MST, Cara PálidaRaymundo Araujo Filho 06-07-2010 16:36
Dirijo-me ao Fernando.

Prezado:Sobre qual MST te referes? Ceio que o Antônio Julio refere-se às lideranças do MST, Stédile a frente.

A Base do MST estava, em 2202, preparada paa exigir seus direitos. Foi anestesiada pelas suas lideranças, assim como as lideranças sindicais e ex-sindicais (agora do aparelho do Poder) fizeram o mesmo.

Queres Revolução ou Profundas Reformas de Geração Espontânea? Estas não existem meu caro.

A minha proposta, frente a este desastre trânsfuga do Lullo Petismo- Dilmista PMDBista é que nós, que não perdemos a compostura, façamos o que tem de ser feito: Denunciar a pelegada e divulgar um Programa de Transição, mas não na direção do Super Capitalismo como faz Lulla, mas sim na direção do Anti Capitalismo.

O que será não sei, pois fará parte de um longo rocesso de embates e discussões, mas o Anti Capitalismo é ponto de união. E não se combate o Capital, aderindo a ele.
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0 #3 E tua proposta?Fernando 05-07-2010 09:37
Se você acha que não existe um descenso na luta de massas, então ofereça uma proposta. O que você propõe? O MST segue fazendo as mesmas ocupações e lutas que fez na década de 90 e isso não altera a situação da luta de classes. O que você propõe?
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0 #2 Carlos 03-07-2010 08:10
Engraçado como a esquerda gosta de colocar a sua própria fraqueza nas costas do MST! Concordo com o autor que o MST mudou dos anos 1990 prá cá, mas qual movimento conseguiria manter-se na dianteira da luta quando toda a esquerda atirou-se no pragmatismo? Um exemplo disso é que nessas eleições temos 3 candidatos que pretendem representar a "autêntica" esquerda. Há 8 anos criticam o governo Lula, mas a sua popularidade só aumenta. Por que será? Quer dizer que o descenso das massas não tem existência real? Então o problema é a nossa própria incompetência. Só tenho a dizer: pobre MST, tenta sobreviver na pior conjuntura das últimas décadas e ainda precisa salvar os seus primos da esquerda. Que costas largas!!
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0 #1 mst da década de 90sturt 02-07-2010 11:19
Belo texto!

Bom, é necessário deixar o lado romântico e o sectario e fazer uma analise critica ao governo lula.Isso o MST tem a obrigação de fazer...
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