O voto do Stedile
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- Antonio Julio de Menezes
- 31/08/2010
Pesquiso o movimento de trabalhadores do campo no Brasil há mais de 25 anos. Mais especificamente, pesquiso o MST há mais de 15 anos. Tenho livros, artigos científicos e artigos na imprensa. Porém, mais do que um pesquisador pretensamente "neutro", sou um militante. Defendo o socialismo, a reforma agrária, a educação do campo e as lutas dos trabalhadores do campo e da cidade.
Admiro os lutadores desconhecidos e os conhecidos que a história registra ao longo do tempo. Desconhecidos como aqueles que, hoje, ocupam terras pelo direito ao seu trabalho, à sua cultura e à sua dignidade. E conhecidos como João Pedro Stedile e Plínio de Arruda Sampaio, dentre muitos outros, que passam suas vidas na luta por uma vida mais digna para o povo brasileiro e para o povo do campo. Abrem mão de cargos nos governos, privilégios e outras coisas mais para ficar ao lado das lutas populares.
Assim, é neste clima fraternal e companheiro que quero discordar da posição eleitoral do João Pedro Stedile, manifestada em diversos debates e edição do Brasil de Fato de 17/08/2010. Depois de criticar Serra, posição consensual na esquerda, ele diz: "E temos três candidaturas de partidos de esquerda, com companheiros de biografia respeitada de compromisso com o povo, mas que não conseguiram aglutinar forças sociais ao seu redor, e por isso o peso eleitoral será pequeno. Nesse cenário, nós achamos que a vitória da Dilma permitirá um cenário e correlação de forças mais favoráveis a avançarmos em conquistas sociais, inclusive em mudanças na política agrícola e agrária".
Pergunto: como as três candidaturas de esquerda aglutinariam força e cresceriam se uma das principais lideranças, de um dos principais movimentos sociais do Brasil, já declara, sem nenhum empenho por estas candidaturas, que elas não decolam e vai direto pedir voto na Dilma? Não deveríamos nos empenhar para que estas candidaturas aglutinassem forças e tivessem maior peso eleitoral em vez de sairmos dizendo, sem discussão ou empenho por estas candidaturas, que elas não decolam? Mesmo que não ganhássemos, se os candidatos de esquerda conseguissem um peso eleitoral maior, não teríamos mais forças para o enfrentamento com o capital e o agronegócio?
Em segundo lugar, o seguinte: qual é este cenário favorável em que a vitória de Dilma permitirá uma correlação de forças favorável para a mudança na política agrícola e agrária? Se nos oito anos de governo Lula esta mudança não aconteceu, qual o "milagre" que faria com que a vitória de Dilma propiciasse tais mudanças? Aliás, na entrevista, Stedile diz que "nós achamos". Nós, no caso, seria o MST? Creio que não foi esta a decisão do Movimento Sem Terra.
Por fim, analiso que o voto em Plínio, no Ivan Pinheiro ou no Zé Maria, comprometidos com as lutas dos trabalhadores, seria uma forma de aglutinar votos para a fragmentada esquerda brasileira. Não venceremos, mas podemos ter uma inserção maior nas lutas se demonstrarmos alguma força e unidade. Mas, para tanto, precisamos apoiar candidatos de esquerda, e não ficar defendendo voto útil que, na maior parte das vezes, se torna inútil. Aliás, útil para quem?
E aí, Stedile, o MST joga um papel fundamental para ajudar a reaglutinar as forças capazes de combater o capital e o agronegócio, pois possui o reconhecimento da esquerda brasileira.
Antonio Julio de Menezes Neto, cientista social, doutor em educação e professor na UFMG.
Blog: http://antoniojuliomenezes.zip.net/
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Comentários
ESTE PERSONAGEM É UM TOCADOR DE VIOLINOS.
ESTE PERSONAGEM NEFASTO JÁ MORREU E ESQUECEU DE DEITAR.
HERODOTO.
Já que vocês tem insistido tanto que sou um intelectual desconectado da realidade, vamos lá:
Entrei na Universidade na segunda metade dos anos 70. Militei no movimento estudantil e enfrentei a ditadura militar.
Participei das discussões de reorganização partidária e assinei a ficha provisória para que o PT pudesse pedir a legalização.
Formado, nos anos 80, fui trabalhar na FETAEMG, não em gabinete, mas viajando e dando assessoria a sindicatos de trabalhadores rurais do interior mineiro. Fiz inúmeras reuniões debaixo de árvores e dentro de igrejas.
Fui delegado no Congresso de fundação da CUT em São Bernardo do Campo.
Ainda nos anos 80, fui trabalhar na Secretaria de Trabalho de MG, no Vale do Jequitinhonha. Trabalhava junto aos trabalhadores pobres do campo. Cheguei a viajar de lá até Ribeirão Preto no mesmo ônibus dos migrantes do corte da cana para conhecer suas condições de trabalho. Neste período fui Vice-presidente do diretório do PT de Araçuaí. Ao mesmo tempo era diretor do sindicato dos sociólogos de MG.
No início dos anos 90, fui fazer minha dissertação de mestrado sobre o sindicalismo dos trabalhadores rurais, com pesquisa de campo e teórica.
Entrei para a UFMG e continuei minha militância. Fiz minha tese sobre a educação do MST e fui homenageado por este Movimento, ganhando uma bandeira que sempre ficou em minha sala de professor.
Fiz pesquisas de campo, proferi palestras e cursos junto ao MST. Iniciei as conversações para iniciarmos um curso superior de Educação do campo junto com o MST. Abri as portas para dois cursos do CRB na FAE/UFMG. Continuo próximo do MST e de diversos movimentos sociais e muito crítico ao PT.
Se desejarem conhecer minha vida acadêmica, envio o site do meu currículo Lattes é:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4723322Z0
Penso que agora terão mais base para me criticarem pessoalmente.
Podemos acrescentar a ele ,que se nos primeiros governos do pt e aliados tinha mais força da esquerda nos estados e no congresso,e não fizeram quase nada que uma verdadeira esquerda faz,imagina agora que a base da presidente dilma será sustentada em sua maioria por reacinários leia-se o PMDB.O voto em dilma taticamente não existe!
Quem apóia em peso o PT[Lula Dilma] é o pessoal do MST do nordeste do Brasil.
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