Correio da Cidadania

A questão central do aborto: o aborto como questão central

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É simplesmente deplorável e inadmissível, mas não surpreendente, o que se transformaram as campanhas eleitorais no Brasil, notadamente esta presidencial de 2010, sobre a qual me ocuparei neste artigo.

 

A tragédia do "não assunto" e da não discussão de problemas relevantes E DE FORMA RELEVANTE apenas nos indica o nível do seqüestro que os institutos chamados democráticos sofreram, apontando para a satisfação do Capital e dos donos do mundo (a burguesia, mais propriamente falando, enquanto tem gente que não acredita mais nisso...), com os limites aceitos por aqueles que, por isso mesmo, dominam os noticiários como "candidatos viáveis".

 

Mas outra tragédia nos foi anunciada já no final do primeiro turno, com esta confusão de atitudes sobre a questão do aborto, tratando o assunto como moeda de troca eleitoral, e não como uma discussão cidadã, como deveria ser.

 

Erraram todos, rebaixando ainda mais o nível das expectativas sobre conteúdos programáticos (aliás, inexistentes) e estimulando o ressurgimento com toda a força de uma discussão aprisionada em um formato ultraconservador, reproduzindo o que aconteceu no longínquo 1989, quando Lulla (ainda Lula...) foi atacado por Collor (hoje seu aliado), com todos os requintes de perversidade que vimos.

 

Mesmo depois de Lulla se entregar, ou entregar boa parte de seu governo e do desenho ideológico de sua gestão às articulações e articulaçõe$ com a turma que antes o tinha e o apresentava aos fiéis como verdadeiro Diabo e Comedor de Criancinhas, quais sejam, o Bispo Macedo (IURD e TV Record), Casal Hernandes (Igreja Renascer e Penitenciária dos EUA), Bispo Malafaia (o "Chuta Santa"), ente outros, com a perseveração (termo comum no meio) do preconceito religioso, manipulação da fé e leilão eleitoral, com ameaças conservadoras.

 

E dona Dilma sucumbiu a isso, expondo sua fragilidade, desta vez no campo da sustentação filosófica de seus próprios atos e quereres, preferindo se esconder na falsa religiosidade, até arrastando para este canto obscuro a própria esquerda marxista (e outros istas) do PT, que desavergonhadamente ou silenciam ou justificam como um "golpe" a ressurreição deste assunto. E sucumbiu, pois está na moda sucumbir às próprias convicções para a manutenção e uma ilusão de Poder, afinal restrito a uma pequena elite dirigente, totalmente descolada do real da vida das pessoas comuns, as levando, então, para uma espécie de êxtase microeconômico, muito parecido com o êxtase religioso alienado, imprimido hoje como demonstração de alguma fé.

 

Assim, dona Dilma, em mais uma patetada do tamanho da Erenice Guerra & Famiglia, tenta desdizer o que é vero, tornando "invero" o verídico, sem conseguir enganar muita gente, mas mantendo alguma aparência que agrade aos conservadores.

 

E o presidente Lulla a dizer em comício "aquelas que se dizem contra o aborto, no mínimo já fizeram dois ou três", tratando as pessoas com uma falta de respeito inadmissível, escondendo o que tem de ser dito, mas que ele não tem coragem, que seria o fato de muitos de seus apoiadores serem manipuladores da fé, da mente das pessoas menos esclarecidas. Prefere jogar na "turma do Serra" o motivo do "golpe baixo" quando, na verdade, Dilma vem sendo alvo da traição de parte de quem incensou, em abandono do que seria o certo e o progressista. Tudo em nome do Poder, mesmo que seja para obedecer à ordem mundial, e atribuindo a si, como conquistas, as migalhas irrisórias, do escambo que fazem de nossas riquezas.

 

Termino este artigo colocando em pauta o que deve ser - ao menos aprendi assim - a discussão digna deste grave problema da natalidade, contracepção e interrupção da gravidez, fato EXISTENTE em grande escala no Brasil e no mundo.

 

Antes, porém, quero afirmar que não conheço uma só pessoa ou texto que preconiza a descriminalização do aborto que tenha em seu ideário uma espécie de farra cirúrgico-obstétrica ou que queiram churrasquinhos de fetos em seus cardápios, embora reconheça que alguns tratam o assunto com certo simplismo, incompatível com a gravidade do problema.

 

Mas conheço muita gente (não todos), que são veementemente contra a decisão final ser da mulher grávida, pela interrupção da gravidez (e com todos os limites já exaustivamente expostos), como uma espécie de "tirar o sofá da sala", após flagrar sua filha com o namorado...

 

Assim, coloco a seguinte formulação para que cada um faça a si próprio e, se possível, leve aos candidatos que discutem este tema seriíssimo, como se estivessem vendendo churrasquinho de gato, em feiras e parques de diversão:

 

"Como pretende solucionar a área de saúde da mulher e natalidade, dentro de um quadro em que, no Brasil, a cada hora 8 meninas de 10 a 17 anos têm um filho e 40% delas terão o segundo em dois anos, além de ocorrerem cerca de 4 milhões de abortos clandestinos no país, 400 mil acidentes, muitas mortes e seqüelas e, finalmente, 3 milhões de curetagens no Sistema Público de Saúde, sendo 80% na classe pobre?"

 

Dados complementares: as crianças no Brasil, em média, freqüentam as escolas até os 14 anos, apenas 4 horas por dia, em 200 dias de aula, sendo que após esta idade 75% tornam-se desocupadas, muitas analfabetas funcionais e sem perspectivas reais de desenvolvimento humano.

 

Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e desafia o "Durma-se com um barulho destes"!

 

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Comentários   

0 #1 AbortoSamantha Veiga 22-10-2010 13:16
Acho absurdo que as pessoas veem o aborto como algo que seja fácil de fazer e que se fizer uma vez, o fará sempre. É bizarro que as pessoas não notem que o aborto é uma agressão, e que ninguém se agride de graça. O aborto seria apenas uma solução para as clínicas clandestinas e não um meio contraceptivo.
A maneira como os dois candidatos tratam o assunto não ajuda em nada para eu mude essa posição e no final, só torna o povo menos inteligente, com menos informação e totalmente subalterno a uma meia dúzia de 'pseudo-intelectuais' que soltam 'desinformações' aleatórias.
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