Entre o péssimo e o pior
- Detalhes
- Gilvan Rocha
- 23/10/2010
O processo eleitoral, nesse segundo turno, nos coloca diante de uma situação deplorável. O nível político caiu ao rés do chão. Brotou com todo vigor um estapafúrdio fundamentalismo religioso de feição medieval. Os dois candidatos se apressam em se mostrar contritos beatos num gesto de deslavado oportunismo. Ao invés de se usar o processo eleitoral para a elevação do nível político das massas populares, o que se observa é a capitulação, o agachamento aos atrasos e aos preconceitos das massas despolitizadas, desinformadas, e isso é profundamente lamentável.
Temos dito, com a devida insistência, que a participação dos verdadeiros socialistas nos processos eleitorais no âmbito do capitalismo tem propósitos tão somente táticos, pois, seguramente, não será por essa via que o povo trabalhador, a dona de casa, os explorados e oprimidos hão de desmantelar o poder burguês e construir um verdadeiro poder popular. Sendo a participação dos verdadeiros socialistas de natureza tática, resta responder ao seguinte questionamento: qual das duas candidaturas poderá ser pior para os nosso objetivos estratégicos? A direita explícita, representada por José Serra, ou a direita travestida de esquerda, representada por Dilma Rousseff?
Desse questionamento poderá florescer uma outra saída, a saída do voto nulo. Ora, essa saída implica em dizer que não existe a mínima diferença entre um e outro candidato, mas, tão somente, semelhanças. Mas será essa saída a melhor? Terá ela realmente os fundamentos que se pretende? Não há diferença entre o explícito e o simulado? Em qual dos dois governos teríamos maiores possibilidades de praticar ações de oposição?
Diferente das questões de princípio, que exigem apenas serem fundamentadas, as questões de natureza tática não nos fornecem, necessariamente, elementos de convicção. Por tal razão é que devemos ser inflexíveis nos princípios, porém, abertos às questões de natureza tática. Tornar livre a discussão das questões táticas é permitir uma saudável vida política.
Gilvan Rocha é presidente do CAEP - Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Blog do autor: http://www.gilvanrocha.blogspot.com
{moscomment}
Comentários
me parece que a luta política de certa esquerda no Brasil virou uma ação entre amigos (nem tão amigos) que fica brincando de revolução. Enquanto isso a dona de casa e os trabalhadores querem avançar no reconhecimento e consolidação dos seus direitos, lutando por causas concretas diante das imensas dificuldades que eles tem que encarar todo dia. A questão é: como articular a luta por estas causas concretas com o amadurecimento e o crescimento da consciência social, na direção de um projeto de transformação que tenha como horizonte o processo civilizatório do socialismo (sem fantasiar que tal processo dará a direção das lutas no chão real das necessidades históricas). Mesmo na revolução socialista russa o que as pessoas queriam era paz, pão e terra!!!. Então para mim não tem conversa de mal menor, ou quarto pior melhor. A opção que permite avançar é a vitória da Dilma!
Assine o RSS dos comentários