Tariq Ali
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- Gilvan Rocha
- 06/12/2010
Havia lido desse paquistanês radicado na Inglaterra, duas brilhantes obras: Redenção e Medo de Espelhos, que tenho sempre recomendado. Apareceu a oportunidade de ouvi-lo a viva voz e confesso que fiquei desapontado.
Como ocorre com a esmagadora maioria da esquerda, cuja matriz é o stalinismo, o palestrante colocou de lado a existência de classes e camadas sócias, e procurou trabalhar países como categoria política, dentro do velho binômio: nações opressoras versus nações oprimidas. A partir dessa distorção, expressão maior do abandono do princípio marxista de que a principal contradição é o antagonismo capital-trabalho, veio a abordagem corriqueira de que temos como único inimigo o imperialismo ianque. Não se percebe que, sendo-se apenas anti-americano, não implica que se seja anti-capitalista.
O agudo sentimento anti-americano leva a que muitas pessoas, entre elas o aludido palestrnte, vejam forças fascistas, como o talibã, a Síria e, especialmente, o Irã, com simpatia, e isso é um completo absurdo.
Não bastasse tal e preocupante desvio, Tariq Ali abordou a questão da democracia abstraindo, por completo, o seu caráter de classe, esquecendo de dizer o que dizia Vladimir Lênin: "a mais avançada democracia burguesa não deixará de ser a ditadura do capital sobre o trabalho". É preciso lembrar que o poder burguês é exercido pelo Estado sob duas formas: o estado de exceção, que costumeiramente chamamos de ditadura ostensiva, e o estado de direito, em que se pratica o poder do capital com plena aquiescência das massas populares mal informadas.
Em razão desses fatos, fomos tomados de um profundo pesar, ao constatarmos que figuras do estofo intelectual e político de Tariq Ali andem enredadas em tantos e graves equívocos - como soe acontecer, modo geral, com a esquerda que está posta. Essa esquerda não se dá conta de que o inimigo principal é o capitalismo, e ele não se circunscreve a nenhuma fronteira.
É claro que os ianques jogam o papel de polícia mundial em defesa desse sistema e, por essa razão, têm despertado a desaprovação e a impopularidade mundo afora. E para isso, para tal impopularidade, contaram com o inestimável trabalho político levado a cabo pela esquerda de matriz stalinista, destacando-se os partidos comunistas.
Gilvan Rocha é presidente do CAEP - Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Blog do autor: www.gilvanrocha.blogspot.com/
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Comentários
Sem entrar exatamente no mérito da discussão do Gilvan - até porque não participei da mesa a qual ele faz menção - só gostaria de indicar que o Tariq Ali não é de "formação stalinista", mas sim trotskista, tendo se ligado ao SU na década de 60. Vale a pena dar uma olhada na sua biografia recentemente lançada pela Boitempo: "O Poder das Barricadas". Não sei por onde o Tariq Ali está enveredando, mas as opiniões políticas que ele esposa nesse livro me parecem bem sensatas.
Abraços.
Autor: MARTENS, LUDO
Editora: REVAN
Assunto: HISTORIA GERAL
Sempre que procuramos saber mais sobre Stalin, entramos em
uma encruzilhada muito pobre, em que acreditamos existirem dois
caminhos somente. As biografias focalizam a historia de vida - Ditador
Soviético, filho de sapateiros, expulso da escola de padres por
apresentar ponto de vistas revolucionários. Membro do partido
bolchevique, exilado duas vezes na Sibéria. Braço direito de Lenin. Do
outro lado estão os estudiosos que permanecem comodamente presos ao
termo stalinista, que passou a significar o comunismo nacionalista e
repressor. O autor belga Ludo Martens convida o leitor a redescobrir a
verdade revolucionária sobre o período dos pioneiros, tarefa coletiva
que incumbe a todos os comunistas do mundo. A obra promete desmontar
certas "grandes verdades" sobre Stalin, aquelas que estão resumidas
milhares de vezes em algumas frases nos jornais, no curso da história,
nas entrevistas que são introjetadas no subconsciente.
Frei, que tristeza. O Carlos Lacerda também começou assim.
2 - O velho Mao Tsé Tung no estudo da dialética nos ensina o conceito de contradição principal e contradição secundária. Lógico que a Síria e o Irã não têm projeto socialista, mas no momento em que se enfrentam com o imperialismo além de se constituirem em mais frentes contra o império abre espaço para que na américa latina continuemos avançando. É o velho método esquerdista de somente enxergar o preto ou o branco. Eu não sei o que é pior se são os manuais stalinistas ou os manuais trotskistas.
3 - Outra coisa: Não tem como ser anticapitalista sem reconhecer que os EUA é sim o principal inimigo da humanidade
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