Correio da Cidadania

MST: a necessidade de novas respostas

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Há alguns meses atrás critiquei a declaração do Secretário Geral do MST e membro da Via Campesina João Pedro Stedile, quando disse "que o mais importante agora era lutar contra as corporações e oligopólios internacionais e não reivindicar a Reforma Agrária, pois, se não atacarmos quem a impede, seria o mesmo que enxugar gelo" (ou algo neste sentido).

 

Mesmo sem concordar com esta afirmativa, apoiei a ação direta nos laranjais da Cutrale, combatendo a contra-informação da mídia corporativa, que criminalizava o MST, cuja base eu respeito e na qual tenho muitos amigos e ex-alunos, por força do trabalho que eu desenvolvia no campo - seqüestrado, afinal, por minhas posições políticas de esquerda não corporativa.

 

De muito tempo para cá, Stedile comanda, a meu ver, o total eclipse do MST, inclusive com o apoio à candidatura DiLLma, a partir da justificativa absurda de que "precisamos apoiar a continuidade do governo Lulla", mas sem explicar por quê. Além de paralisar a Reforma Agrária, foi o governo Lulla que anestesiou a direção do MST, enfraquecendo o único trunfo do movimento popular, que são as massivas mobilizações.

 

Neste sentido, o jornalista José Arbex Junior chegou mesmo a se desligar da direção da Escola Florestan Fernandes e do Conselho Editorial do jornal Brasil de Fato, em função do apoio que o jornal, ao lado de outros órgãos de comunicação alternativa, democrática e progressista, optou por conceder à candidatura Dilma. Em sua carta de saída, denuncia a imposição do pensamento único autoritário, e em favor da adesão a algo inadmissível. Leia a carta aqui, pois todos fizeram cara de paisagem, fingindo que ela não foi escrita.

 

Fato é que, após a eleição de DiLLma, para o assombro ou não de todos aqueles que a apoiaram, o que veio não me causou surpresa, a saber: 1) O total abandono das falas sobre novos assentamentos e melhoria dos já existentes; 2) A não citação, no discurso de posse de DiLLma, da Reforma Agrária e nem da agricultura familiar (e tampouco da produção ecológica), ao contrário, enaltecendo o patamar de grande exportador de grãos (soja) alcançado pelo Brasil; 3) A utilização das Forças de Segurança Nacional e policiais militares para reprimir trabalhadores das usinas do PAC e nas manifestações contra Obama; 4) A tentativa de troca de comando na Vale, em clara barganha de favores entre o Bradesco e o governo DiLLma, que "agradará" o banco com a facilitação de "joint-ventures" internacionais, como já foi anunciado; 5) O silêncio das organizações e federações sindicais, TODAS mantidas por verbas públicas doadas por Lulla através de lei, omitindo-se sobre a iniqüidade dos canteiros de obras; tendo sido eles ATROPELADOS pelos trabalhadores revoltados, clamaram ao Obama (em laudo convescote e refeição) a derrubada das "barreiras fiscais", para que a CUTRALE e os usineiros (os heróis do Lulla, lembram?) possam exportar o suco de laranja que os pobres brasileiros não podem tomar, e o álcool combustível feito de sangue de trabalhadores rurais, enquanto cai o consumo de feijão entre nós; 6) O anúncio da venda de petróleo cru aos EUA, em troca de papéis da dívida daquele país, e a já anunciada importação de álcool e gasolina dos ianques.

 

Silêncio obsequioso

 

A única fala de Stedile, da eleição de DiLLma para cá, foi a reclamação, há cerca de um mês, de que estava difícil a nomeação de seu "eleito" Paulo Lacerda para a presidência do INCRA, além da possível não nomeação do deputado petista (egresso do MST) João Grandão (amigo do João Bafo de Onça?). Reclamou também que até o chefe de evento de moda a presidente recebeu, mas não o MST.

 

De lá para cá, embora o Brasil tenha sofrido, em curtíssimo período, a formatação hiperneoliberal de DiLLma (Lulla era só neoliberal), não se viu Stedile em lugar algum, em uma espécie, talvez, de clandestinidade providencial .

 

Para quem não nasceu ontem para a política, sabe que, parafraseando antigo e delicioso bordão, imortalizado pelo genial ator e humorista Brandão Filho (fica a minha homenagem a ele) "Aí tem!". E teve mesmo!

 

Dias atrás foi anunciada a nomeação de Paulo Lacerda para a presidência do INCRA, a meu ver, atrelando o MST às necessidades do governo, e não o contrário, como seria justo. E a tal reunião com DiLLma, pelo visto, já houve....na clandestinidade, pois anunciada não foi.

 

Senão vejamos:

 

O "silêncio obsequioso" por parte da direção do MST (a igreja de Roma faz escola no MST, ou será o bispo Macedo?) esteve muito provavelmente relacionado a uma barganha para que se desse a nomeação de Paulo Lacerda (rasgo minha certidão de nascimento, caso isso não seja verdade). A desmobilização do MST deve ser a moeda de troca a ser operada em troca das migalhas governamentais.

 

Pergunto: 1) Como conciliar uma nomeação ao governo de natureza entreguista com a necessidade de radicalizações em manifestos públicos da base do movimento, a esta altura entregue ao Deus dará? 2) Como negar que esta engenharia política macabra não seja apenas para manter respirando por aparelhos o paciente comatoso em que, infelizmente e a meu ver, o MST vai se tornando, sob a batuta de um grupo hegemônico?; 3) O que se pretende com isso?

 

A boa notícia é que, quem sabe, desta vez, saia o projeto de erguer algumas Escolas da Reforma Agrária já projetadas, uma delas em Nova Iguaçu em terreno cedido pelo SINDIPETRO-RJ, cujos projetos estão sem verba, há anos. Esclareço, no entanto, que Escolas deste tipo não são para a Reforma Agrária, talvez para outras doutrinações conservadoras, que os "diretores" proclamam de "esquerda", sem realmente o serem.

 

O método que usamos para as nossas Jornadas de Capacitação e Aprendizagem Rurais é conflitivo com este escolhido pela direção do MST, baseado nas escolas burguesas e militares prussianas (com roupagem, apenas roupagem, de esquerda), retirando os assentados de seu meio social cotidiano, em direção a locais "especiais" onde lhes dizem que vão aprender o trivial. Igual à vida burguesa.

 

O método que usamos, reverenciado pelos assentados e detestado pelas direções do MST e governos, é baseado em Paulo Freire e Francisco Ferrer y Guardia (Escola Nova), onde "o local de nossas vivências deve ser o local de nosso aprendizado", sem diferenciação de uma casta de escolhidos, acrescento eu, em geral por serem subservientes, que SEMPRE se acharão superiores aos seus, que não tiveram a mesma oportunidade. São os futuros Inspetores Gerais de Becket.

 

Termino este artigo dizendo que é preciso que haja uma explicação e posicionamento à sociedade (que, afinal, paga com impostos o que é repassado para o movimento e se expõe em apoio a ele) sobre a denúncia relativa ao PRONERA-MG (coordenado por Alexandre Chumbinho, e organizado pelo MST, Universidade Metodista e MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário), no qual a grande maioria dos alunos matriculados NÃO são filhos de agricultores, como exige o Programa, mas sim "indicações políticas", como afirmou a secretária da universidade, ao telefone. Esta denúncia, feita pelo companheiro Julio Castro (conhecido articulista político e poeta, além de profissional ligado a melhorias nos assentamentos), custou-lhe, entre outros, a perda do emprego. Com a palavra, os citados.

 

Raymundo Araujo Filho é médico veterinário homeopata e irá até as últimas conseqüências para tornar claro o que está obscuro. E avisa que não tem medo de cara feia.

 

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Comentários   

0 #13 Ataques?Sturt Silva 11-04-2011 18:12
Parabéns ao artigo camarada.

Gosto muito de ler seus textos.

Sturt Silva
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0 #12 Lamentável o Correio da Cidadania publicAntônio Ferreira 11-04-2011 12:17
Lamentável o Correio da Cidadania publicar uma coisa dessa.

Esse artigo cairia bem na Revista Veja.
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0 #11 Mais realista que o ReiRaymundo Araujo Filho 11-04-2011 10:32
se o prezado Santana tivesse lido a entrevista (autosalvacionista, é verdade) de stédile ao "jornal burguês" O Globo, de sexta feira passada 8 de abril (aliás contrariando os desejos do jornal Brasil de Fato e da filósofa do poder marilena Chauí), veria que estás querendo ser mais realista que o Rei.

Stédile, confirma TODAS as críticas que eu e outros fazemos sobre não só os "governos populares' que apóias, como abre que REALMENTE hoje a militância do MST está alquebrada e sem quadros, comprados pelo Bolsa família. É o stédile que diz, desta vez, e não euzinho.

Sobre radicalismos e ultraesquerdismo, recomendo a leitura sobre Nestor Makhno, pois eu nãopasso de um Reformista, mas com forte Mobilização Popular e o seu Protagonismo.

Sobre as minhas licensas de (falta) de estilo, espero que esta sua condição de "conciliador", não queira me impor até a forma pela qual me expresso... E, se notar bem, os lls de DiLLma são maiúsculos. Acertei em cheio, não?

E, para terminar, não sou eu quem o tem na base governista e dizendo que foi o PT, Lulla e DiLLma que se aproximaram dele (e sem nenhuma contestação), além do elogio em comício a ele e a Renam, feito por Lulla.

No mais, cada cabeça, uma sentença!
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0 #10 Raymundo Araujo Fº.: o radicalismo do arLuiz Paulo Santana 07-04-2011 12:42
O problema do radicalismo, a despeito de ser simultaneamene (nem sempre) o apego (necessário) a princípios e convicções, é a inflexibilidade quanto a aceitação de processos que, por sua natureza, são gradativos, cumulativos, mesmo na hipótese de uma revolução vitoriosa.
Esta hipótese, a da revolução, a história o demonstra, pela própria natureza dos processos de evolução humana, apresenta dificuldades inerenes ao \"salto\" que se propõe, de romper-se um modelo e implantar-se outro, completamente, radicalmente diferente. Não raro, constitui-se uma elite burocrática pensante, que se vai divorciando do conjunto da população e tomando decisões para que estas cumpram, ainda que contra a sua vontade, o seu costume, contra aquilo que está profundamente arraigado nas mentes através da cultura, em sentido amplo, ao longo dos tempos.
Por isso me convenço de que dar saltos não resolve, sobretudo saltos revolucionários apoiados em velhas teorias. Ainda mais hoje em dia, com a configuração geral do mundo, dos meios de comunicação, com as consequências dessa globalização galopante.
Há, sim, está havendo, a revolução que compreende um passo adiante, protagonizada pela população, no limite do esgotamento de velhos modelos, e na onda da comunicação que contaminou todo o globo para o bem e para o mal.
Voltando ao objeto deste comentário, o articulista peca pelo radicalismo agressivo, ao utilizar-se, por exemplo, da grafia dos dois \"eles\" em \"Lulla\" e \"DiLLma\", que os associa a CoLLor que, em verdade, representa outra combinação de forças e desenvolvimento político, muito diferentes da era Lula e, provavelmente, do governo Dilma.
Seu radicalismo mistura tudo num só epitáfio em troca de uma propalada pureza e valentia, reafirmadas na frase em negrito no rodapé do artigo.
No entanto, presta serviço. Seu ponto de vista interessa, mesmo considerando-se esse aspecto. De conciliador nato, basta-me eu mesmo. Preciso de outras opiniões e reflexões. E não contribui em nada os comentários que apenas o desqualificam.
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0 #9 Analfabeto SóbrioRaymundo Araujo Filho 07-04-2011 12:20
Ou não entendeu o artigo, ou precisa alterar a consciência para ler.

nenhum ataque há ao MST, em cuja base tenho muitos amigo@ e companhei@s de jornadas de capacitação e aprendisagem.

A minha crítica é direcionada à casta dirigente, que tenta hegemonizar o insttucionalsimso dentro do MST. E stédile é quem interpreta esta tarefa.

Só não entendi o alerta de cuidado Plínio. Em primeiro lugar que não sou "alinhado" a ele, embora o ache muito capaz. Sequer votei nele no primeiro turno(meu voto foi ao Ivan Pinheiro e sua anti candidatura), mas o acompanhei no voto nulo, no segundo turno, o que não foi feito por todos os parlamentares do PSOL, exceto o vereador Renatinho (PSOL, Niterói).

Depois, o Correio não é uma página estilo pensamento único, coisa, mas sim de debates, afinal não deves achar que Plínio é aliado de W. Pomar.

Mas, sobre as graves denúncias que escrevi, o comentarista sóbrio aí em cima, parece nada ter a escrever. Só espero que no dia em que ele sofrer alguma ameace, encontre alguém vivo para te defender. E, realmente o MST tem uma pujança enorme e vai continuar,apesar de presenças como stédile, tentem acabar com ele.
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0 #8 Auro Toledo 07-04-2011 07:49
Já que vale qualquer linguagem aqui eu também vou dar minha modesta opinião sendo simplista ao máximo: O que vejo com meus olhos é que o MST, depois da eleição de Lula, não mais incomoda este governo. Onde eles incomodam? Não há mais invasões que o atinja, são todas direcionadas a incomodar governos estaduais opositores, somente. O MST perdeu sua autonomia, viraram pelegos. Afinal, este governo atendeu um mínimo concreto de suas reivindicações históricas? Onde estão as cobranças do MST? só no discurso...
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0 #7 ParabensTonico 05-04-2011 20:23
Parabéns pelo artigo, mas o próximo poderia escrever antes de beber e.... essas coisas normalmente faz as pessoas terem visões... ainda mais nesse tempo de "intecluais"..... assim como vc...Mas não desista,continue, essas coisas sempre termina em filmes de hollywood.

Agora o Correio da Cidadania se prestando a esse papel nojento e pior em nome da democracia, liberdade de expressão.. affff... Plinio cuidado com o extremismo ... daqui a pouco podemos te ver junto com Kassab já que PSOL e PSTU tá difícil de representar algo além de seus próprios umbigos.
Mas a luta continua e o MST ainda sobrevive mesmo errando muito.... mas continua sobrevivendo e de forma que está apanhando da esquerda (nem precisa falar da direita) acho até que ele ainda consegue mais uns 15 anos e enfim a esquerdinha poderá conseguir derrotá-lo..... Esses intelctuaisinho de beira de bar... esses vão longe pois sempre precisa de bobos nas praças.......... e em espaços que se prestem a esses serviços como está sendo o Correio...
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0 #6 links das declarações de stédileRaymundo Araujo Filho 05-04-2011 07:37
Não é razoável que se tente contestar opinões, apenas as desqualificando, sem contestá-las pontualmente. Se me lembro bem, só os fascistas e os stalinistas e congêneres, além dos operadores da chamada “imprensa marron” é que eram craques nisso....

Abaixo, vão alguns links que adotam a percepção que tenho sobre o recuo de Ssédile. Podemos até discordar de opiniões, mas desqualificá-las como “invenções” é pura covardia, pois aqui no meu caso, reproduzem as falas de quem critico. O “algo assim” que coloquai, foi por falta de tempo de ir na internet pescar as declarações do próprio stédile. Estão, então, aí abaixo.

Lamento que o carlos.band não preste solidariedade a quem sofreu ameaça de morte e perdeu o emprego, por denuciar falcatruias e por ter opinião própria.

A "esquerda" brasileira está cheia de aspirantes a "Inspetores gerais", de Becket.

http://www.novademocracia.com.br/no-63/2737-a-que-serve-o-chamado-de-capitulacao-de-stedile-
http://www.movimentorevolucionario.org/artigos/stediletraidor.html
http://www.jornalorebate.com.br/site/movimento-campones/4991-stedile-propugna-abandonar-a-luta-pela-terra-
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0 #5 Será Vergonha?Raymundo Araujo Filho 03-04-2011 20:34
Evidente que a troca de nome do Celso Lacerda por Paulo Lacerda, não desqualifica a minha "adivinhação" (vide, por exemplo, "Novo presidente do Incra tem chancela do MST" - matéria de JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DE BRASÍLIA).

A redução da seriedade do debate sobre o Brasil, não deveria, a meu ver, contaminar o Correio. E, esta tarefa cabe a quem escreve seus artigos e comentários, ou colocaremos a moderação da página, com terefa de censura. Eu não seria contra, mas seria indigesto. Mas, apoiaria a opção em não deixar que o Correio sofra ataques despolitizantes e caricatos, ainda mais se vierem em quantidade e forma organizada. Antes isso era uma arma da direita sem máscara. Agora é a direita COM máscara que a usa.

Queria perguntar ao distinto que fez o comentário acima, se nada tem mais para analisar no artigo. E também por quer que eu rasgue a minha certidão de nascimento, mesmo eu tendo "acertado" a infuência do mst em nomeação de um governo de natureza entreguista.

Ademais, para que não fiques totalmente triste, minha Certidão de Nascimento, encotra-se extraviada, e dá um trabalhão tirar de novo, ao menos aqui no Rio.

Mas, se nada tens a comentar sobre o artigo, informo que o companheiro de lutas Julio de Castro também foi ameaçado de morte, na madrugada de 23 para 24 de Dezembro, por um dirigente do mst mineiro, um tal de Cristiano (este, com isso, assassinou Cristo na véspera de Natal). Julio Castro fez registro na polícia, é lógico, para se proteger.

Neste caminho seu, meu caro, não sobrará nenhum honesto para protestar contra alguma injustiça que venham a fazer contigo.

Considero este comentário ao artigo, um acinte e desrespeito à boa discussão política, a não ser que tenha sido apenas uma brincadeira mal explicada, o que o coloca no panteão das Inutilidades Tergiversadoras.
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0 #4 carlos 03-04-2011 10:37
Esse texto não tem pé nem cabeça.
são informações erradas, que parte de uma pseudo declaração \"ou algo neste sentido\".
não tem problemas em criticar o mst, mas é importante apresentar elementos pra isso.
se não, parece ataque pelo ataque.
aí é uma coisa infantil, de ressentido.
o correio não devia publicar esses artigos com base em \"informações\" jogadas como isca ao mar.
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