Questões para o MST
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- Antonio Julio de Menezes Neto
- 06/04/2011
O MST continua a ser o principal movimento social brasileiro. Luta de cabeça erguida contra os poderosos e a favor do socialismo em nosso país. Continua - e talvez tenha até aumentado no novo século - com a sua política de ocupação de terras e de espaços políticos urbanos. É uma referência da esquerda mundial e, mesmo assim, perde visibilidade política. Qual o motivo? Creio que podemos apontar alguns para o debate:
1) Nos anos 1990, período de maior crise do socialismo e de consolidação do neoliberalismo no Brasil, houve um recuo de praticamente todos os movimentos sociais e políticos de trabalhadores. A exceção ficou com o MST que, "contra tudo e todos", conseguiu se firmar como uma contraposição ao capitalismo na sua forma neoliberal de então. Ao contrário dos outros movimentos, não se entregou ao pragmatismo ou ao desânimo generalizado do período. Foi à luta e enfrentou o latifúndio, o agronegócio, a imprensa e o neoliberalismo do governo FHC.
2) Porém, findo o governo citado e com a posse do governo petista de Lula, o MST muda as suas ações. Continua a enfrentar o agronegócio baseando suas ações, acertadamente, na luta de classes. Porém, passa a considerar o novo governo como "em disputa". Assim, passa a "disputar" o novo governo, mesmo quando este se mostra hegemonicamente vinculado ao capitalismo e ao agronegócio. O governo passa a não ser visto como um instrumento da classe dominante, mas sim contraditório, abrigando setores de direita e de "esquerda". Portanto, o governo deveria ser disputado e não criticado, pelo menos publicamente. Se o governo encaminhava-se para a direita, a "culpa" era dos movimentos de esquerda que não faziam a disputa "pelo poder".
3) Não apresentando mais contradições com o "gerente do capitalismo", ou seja, o governo federal, e desconsiderando o papel do novo governo na luta de classes favorável ao agronegócio e à direita, o MST perde visibilidade. É dependente das políticas públicas e, aparentemente, defende o governo que gere estas políticas. Parte da grande imprensa passa a se preocupar não com a luta de classes advinda das ações do MST, mas em vincular este ao governo federal para fazer oposição ao governo central.
Ou seja, as ações do MST perdem a autonomia na luta de classes e o Movimento Sem Terra passa a ser visto apenas como mais um apoiador do governo. Desta forma, a direita passa a criticar o Movimento para desgastar o governo Lula e não para inserir este debate na luta de classes.
4) O MST torna-se ambíguo nas suas ações políticas. Não realiza críticas ao governo Lula para não se distanciar das bases, devido à popularidade de Lula, e passa a apoiar o bipartidarismo. Ou seja, adere à idéia de que criticar o governo petista seria dar forças para o PSDB. Com isto, nas eleições, por exemplo, nunca engrossa propostas de frentes de esquerda, apoiando sempre o "mal menor" que seria o PT.
5) Ao não criticar o governo, acaba por ter uma visão equivocada do problema da terra no Brasil, respaldando, algumas vezes, o argumento "contra" a reforma agrária usado no período FHC. Este governo dizia que no Brasil não havia mais terras passíveis de reforma agrária. Pois bem, o MST, indiretamente, passa a aceitar este argumento ao começa a lutar contra a lei dos "índices de produtividade" para uma terra ser considerada improdutiva e passível de reforma agrária.
Mas estudos do Professor Ariovaldo Umbelino, da USP, já demonstraram que grande parte das terras do agronegócio são devolutas (do governo). Ou seja, o governo, sem mexer nos "índices de produtividade", poderia retomar as terras invadidas pelo agronegócio e realizar a reforma agrária. Claro que isto geraria conflitos enormes, mas um governo de esquerda deveria temer conflitos?
Defendo que a esquerda deve – ou melhor, já deveria - deixar de lado a posição bipartidária do mal menor e se reorganizar com cara própria para a defesa do socialismo. Mesmo que minoritária, que não chegue ao governo por agora, deve começar a demarcar seu campo próprio, demarcar suas diferenças com tucanos e petistas e avançar na construção de uma sociedade que supere o capitalismo.
Antonio Julio de Menezes Neto é sociólogo, doutor em Educação e professor na UFMG.
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Comentários
São os professores do entreguismo. O MST recuou, e isso nas palavras tardias do próprio stédile e, a meu ver, por responsabilidade da própria direção do MST e a sua colaboração com o governo, que é de Natureza entreguista.
Sobre as falcatruas do PRONERA, matriculando jovens não agricultores e ameaças de mortes a companheiros críticos, nenhuma palavra.
Fazer ocupação de secretaria de governo e aceitar alimentação do próprio do governo, em vez de tentarem se inserir no dia a dia da cidade e ali resolverem as suas necessidades, me parece um filme que já vi antes. O título era Os Vampiros Mordem e Assopram.
Obrigado pelas dicas para minha futura conduta, mas recomenddo que as façam para os seus, não para mim ou para os meus.
Eleva-se o nível de consciência da classe com grandes mobilizações de massa, pautando as questões centrais pras massas. Isso o MST tem feito e talvez seja o único movimento social do Brasil que faça isso com tanta força.
A tese da "crise de direção" é rídicula, é subjetivista, idealista, e só mascara os reais desafios que temos pela frente. Dizer que a culpa do MST é a direção que é pelega, é se colocar numa posição de iluminado, que detém a verdade absoluta.
A divergência colocada dentro da esquerda sobre o posicionamento sobre o governo, tem de fundo um debate acerca da concepção de estado e poder. Há aqueles que acham que a questão do poder está na presidência, e assim repetem os mesmos erros e desvios do PT.
Quanto ao Raymundo, sugiro que o companheiro tenha mais humildade e se insira num processo de trabalho de base, se distanciar do povo é uma armadilha que muitos setores da pequena burguesia esclarecida cometem, e com isso se colocam nessa postura acima do povo.
Grande abraço.
1) Nunca "bati"no MST. Faço um diálogo político com um Movimento que é patrimônio dos trabalhadores.
2)Existem diferentes análises de táticas, estratégicas, correlação de forças, etc. Os que discordam de minhas análises poderiam dizer que possuem visões diferentes e não que eu desconheço.
3)Sou um intelectual, com orgulho, mas também um militante político que participa e milita na esquerda brasileira há mais de 35 anos.
Abraços.
Eu conheço muito o Antonio Julio, é meu amigo, mais infelizmente depois de muito tempo na vida acadêmica e sem mais nenhuma militância aparente, se enclausurou e ao mesmo tempo “esqueceu de onde o povo esta”.
Resumindo, a dura realidade da desmobilização das massas sobre a questão pratica do que fazer, não se passa nem de leve pela revolução socialista e, quanto ao MST, há muito caiu em desgraça pela boca da mídia, foi encurralado e, passou a ser o Judas que malhamos no sábado de aleluia. A dura realidade do repensar nessa questão (do socialismo), nos dias atuais, não se pode confundir com o que queremos e no que sonhamos não se iguala a uma novela da vida irreal.
Não muito, obrigado! Prefiro estar entre, como sempre estou, dos Desabrigados das Chuvas de Niterói, dos Sem Teto e a Base dos Sem Terra, estes totalmente abandonados, a ainda sob tentativa de assédio pernicioso desta gente que participa de "coletivos que ajudam a colocar as idéias no lugar", e os usam para servirem de palanque eleitoreiro.
Parafraseando Jorge Ben, "Os inspetores gerais estão chegando...!
Valha-me Deus!
Essas acham que o governo é o inimigo e que o Estado é neutro.
O Governo pode ser composto por diversas frações de classe, como o atual governo que tem participação de setores da classe trabalhadora em composição com a burguesia. O Estado, esse sim, apesar dele não ser um bloco monolítico, ter rachaduras, ele tem um conteúdo de classe, de dominação de classe.
Reconhecer que o governo tem contradições no seu seio, não é dizer que ele não é um governo hegemonizado pela burguesia, é óbvio que não é um governo hegemonizado pela classe trabalhadora, mas que é necessário intervir nessas próprias condições. A pior coisa para um marxista é negar a realidade concreta, e parece que é o que parte dos que aqui escrevem fazem, negam as contradições da própria realidade concreta para legitimar uma visão de mundo, ou seja, ideologizam, no sentido de mascarar, a realidade.
Quanto ao Raymundo, o texto dele é tão ruim, que ele deve desconhecer tanto o MST. Achar que o problema do MST é a "direção pelega" que não acha que o PT é o inimigo da classe trabalhadora, posicionamento que ele defende, grande sabedoria, achar que a social democracia, ou o trabalhismo é o inimigo, levou a classe a grandes derrotas que mais tarde fizeram emergir o nazi-fascismo.
Ou seja,é o dono da bola, não concorda comigo, não joga! é pelego!
Pergunto, pq alguns do correio da cidania tem tanta raiva do MST, é pq esse não apoiou o Plínio? Esse site tá perdendo a credibilidade, só vale a pena os textos do Frei Betto e o Wladimir.
Os defensores do governo usa chavões e cita elementos da pratica,e não da praxis,para sustentar suas teses como se no Brasil existisse um proceso emancipador que vai contra as classes dominantes seja nacionais ou internacionais.
Mas não respondem ou ignora que não tem um projeto em defesa do socialismo no Brasil e muito de menos um processo revolucionário em curso no país.
Tanto esse artigo como o outro, critica muito bem as lideranças do PT no MST,mas não as bases,que são o motor da história,neste aspecto.
Se não me engano o professor do artigo não é só estudioso como militante da causa no campo.Ele difere muito de petistas que não aceitam criticas e reproduz discurso mais reacinário do que dos seus propios adversários.
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