Correio da Cidadania

Depois do fim do mundo

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Em sentido figurado, podemos afirmar que o fim do marxismo foi anunciado tantas vezes quantas vezes foi o fim do mundo pelos apocalípticos. O primeiro anúncio do fim do marxismo partiu de certo senhor de nome Eugênio Duhring. A Engels foi dada a tarefa de responder a esse senhor, e daí nasceu um dos maiores clássicos da literatura socialista, sob o título de Anti-Duhring, e Duhring desapareceu de cena.

 

Outro momento de comoção foi o advento do imperialismo como decorrência do desenvolvimento do capitalismo, que trouxe algumas mudanças de natureza quantitativa. Sociedades de capital aberto, diminuição da fome na Europa Ocidental e o crescimento da atividade parlamentar foram as novidades que provocaram certa confusão.

 

Eduardo Bernstein anunciou que o marxismo teria que ser revisado, pois fora concebido em outra fase do capitalismo, quando não se conhecia esses novos fenômenos. Ainda bem que ele mereceu pronta resposta, dentre outros, da genial Rosa Luxemburgo.

 

Disse ela: as sociedades de capital aberto não significam a democratização do capital em oposição à concentração deste, como houvera anunciado Marx. Essas sociedades serviam e servem para que o grande capital se aposse das poupanças feitas pelas massas populares, na vã ilusão de se tornarem, também, capitalistas.

 

Quanto à tese do Sr. Bernstein de que a miséria crescente, anunciada por Marx como característica do capitalismo, havia diminuído, Rosa mostrou que ela havia apenas sido transferida geograficamente. Quanto à via eleitoral, como meio para impor a superação do capitalismo, esse senhor demonstrava não entender a diferença entre governo e poder.

 

Noutro momento, o marxismo foi descaracterizado com a imposição do "marxismo-leninismo", que substituiu os princípios do socialismo científico por um conjunto de dogmas.

 

Na verdade, quem mais andou perto de impor o fim do marxismo foram os 90 anos de hegemonia do stalinismo, e aí estamos certos de que o fim do socialismo, sua derrota completa, será, inevitavelmente, o fim do mundo.

 

Gilvan Rocha é membro do Centro de Atividades e Estudos Políticos – CAEP.

 

Blog:www.gilvanrocha.blogspot.com/

Comentários   

0 #2 Melhorou muitoRaymundo Araujo Filh 23-06-2011 11:47
Sem ter a pretensão de ter pautado o Gilvan Rocha, cujo último artigo critiquei aqui no Correio, considero que tenta recolocar a questão em melhores termos, neste artigo acima.

Mas, ainda assim, gostaria de uns pitacos.

1) Marx não era um "puro", pronto para ser deturpado, como alguns dogmáticos marxistas querem nos fazer crer.

2) A atuação, não teórica, mas sim política de Karl Marx, ou sob sua influência mesmo depois de morto, nas Internacionais Socialistas, não dignificam sua prática e nem corroboram os que atribuem aos outros (Lênin e Stálin), a "deturpação" de seu legado, no que tange à Ação Política.

3) Marx foi mesquinho e injusto com vários companheiros do movimento Anti Capitalista. Foi hegemônico e excludente a ponto dos Anarquistas terem sido expulsos da II Internacional, totalmente Marxista, a esta altura, mesmo após a sua morte.

3) Ironicamente, os Anarquistas defendiam, o que se torna corrente hoje, a meu ver, tão importante quanto a separação da Igreja do Estado que é "Na década de 1890 a Internacional decidiu a exclusão dos anarquista, dadas as divergências ideológicas em relação à ação política, pois para eles a Internacional não deveria participar de eleições, nem se utilizar dos aparelhos estatais para realizar as ações revolucionárias"(NEC- Núcleo de Estudos Contemporâneos).

4) Assim, foi o próprio Marx quem abriu caminho para o EXCLUSIVISMO AUTORITÁRIO tão bem praticado por Lênin e Stálim. Trotsky também não escapa disso, sendo responsável pelo assassinato de milhares de Anarquistas e perseguição de outros tantos que, se não tinham "A Chave do Tamanho" para a Revolução Mundial, deveriam ter o direito de serem, mesmo como minoria, participantes das Internacionais que, a meu ver, deveriam ser chamadas de Internacionais Anti Capitalistas, mais abrangente.

5) Por fim, é o Anti Capitalismo e não o surrado e fragmentado Socialismo que, a meu ver, vai juntar gente suficiente para o combate. O anti capitalismo não exige caciques, já os matizes "socialistas" estão cheios deles.

Continuo com a afirmação que é possível (a meu ver fundamental até)ser Anti capitalista, mas não ser Socialista (seja lá o que isso for).

O Passado deve ser bem criticado e sistematizado, mas o Futuro tem de ser construído e não apresentado como um Modelo pronto a ser seguido. E, pior, com Copy Right.
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0 #1 RE: Depois do fim do mundosilvinha 22-06-2011 17:22
Muito legal o texto.. alguém envia ele aí pra Boaventura de Sousa Santos... rsrsr
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