Tamanho disparate
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- Gilvan Rocha
- 08/07/2011
Ultimamente temos denunciado que o socialismo científico foi seriamente distorcido para dar lugar ao dogmatismo stalinista. Nesse último período, após a queda do Muro de Berlim, passaram a ocupar o espaço de pretensos teóricos do socialismo, não mais os filhos diretos da Terceira Internacional Comunista. Ressuscitou-se o “marxismo-legal”, e algumas figuras de vasta erudição passaram a ser veneradas como expressões autorizadas de um marxismo pretensamente atualizado.
Tivemos a oportunidade de ler um ensaio de um desses louvados acadêmicos da escola do “marxismo-legal”, Perry Anderson, e todo o seu raciocínio político partia da falsa premissa tão divulgada por Trotsky e o movimento trotskista de que o stalinismo nascera após a morte de Lênin. Isso é um disparate que trouxe graves prejuízos para a história do movimento socialista e contribuiu para a consolidação das distorções, na medida em que insinuava ser o fenômeno do stalinismo produto do papel de um indivíduo ou outro, no decorrer da dramática história da Revolução Russa.
Noutro momento, tivemos a oportunidade de ouvir uma palestra do tão festejado trotskista Tariq Ali, em que ele fazia empenho de explicar uma possível aliança do socialismo com o fascismo do Irã, da Síria, da Al Qaeda, do fundamentalismo islâmico. Isso porque, os stalinistas de diversos vieses, inclusive os trotskistas, aceitaram a manobra dos ortodoxos, quando substituíram a luta de classes como eixo da história, para colocar em seu lugar a luta ‘nação opressora versus nação oprimida’. E dessa forma, elegeram o imperialismo, particularmente o imperialismo ianque, como inimigo principal, sem se dar conta do fato de que ser antiimperialista não implica, necessariamente, ser anticapitalista. O talibã, a Al Queda, o fundamentalismo islâmico, são testemunhas desse fato.
Não bastassem tantos disparates provindos e alimentados por “marxistas legais”, subvencionados pela academia burguesa, tivemos a oportunidade de ler uma entrevista do beatificado István Mészáros. Na manchete do jornal O Povo, do dia 27 de junho do dia corrente, ele houvera afirmado que o socialismo é o futuro inevitável para o mundo.
Ora, o ser Mészáros, esperamos, não haveria de mergulhar em tamanho disparate. Isto seria não saber fazer a distinção entre o determinismo e o fatalismo histórico. Sobre o advento do capitalismo, Friedrich Engels disse que ele trazia consigo um dilema: o socialismo ou o caos. São duas saídas que se excluem e nos causa perplexidade e tristeza ver que alguns “marxistas legais” não compreendem que o socialismo é, tão somente, uma proposta para a superação do capitalismo, mas para se consumar essa proposta é necessária a força para fazê-lo.
O socialismo não é uma utopia, um sonho, um desejo. O socialismo é um projeto que poderá realizar-se ou não. Aceitá-lo com fatalismo fez-me lembrar os tristes dias de minha juventude quando, militante do clandestino Partido Comunista Brasileiro, ouvia de seus dirigentes, em alto e bom som: “o socialismo é tão certo quanto o nascer do sol”, e isso era um tamanho disparate que trouxe prejuízos irreparáveis para a humanidade. E a se prosseguir na trilha desses disparates, estaremos contribuindo para que o capitalismo, não podendo se eternizar, venha a destruir a vida.
Gilvan Rocha é membro do CAEP- Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com/
Comentários
É importante que não se coloque personagens da história, como vestais que foram derrotados pelos homens maus.
meu falecido pai, dizia em tom de blague, que "enquanto Lenin ficava dentro de seu gabinete com seus estrategistas e rede de comunicaç~çao a traçar estratégias e Trotsky a viajar o país estruturando a Revolução e o Estado da Burocracia, (e também assassinando Anarquistas, é bom que se diga - nota minha), Stalin ficava na recepção recebendo os representantes das longínquas localidades da URSS, onde a Revolução chegou de forma bem diferente, isto é, igual, ou seja, nas mãos de novos representantes que se tornaram o mesmo que aqueles que depuseram foram.
Ídolos? Prá que os quero? (velho ditado Anarquista).
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