Magreb, Oriente Médio e a esquerda brasileira
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- Milton Temer e Juliano Medeiros
- 24/08/2011
Passados seis meses da derrubada das ditaduras Ben Ali e Mubarak na Tunísia e no Egito, que balanço podemos fazer dos episódios considerados por parte da esquerda – aquela já habituada a ver crises revolucionárias onde existem limitadas crises sociais – importantes processos de revoluções democráticas?
De fato não existem mais os governos anteriores tais como se apresentavam antes, acobertados pelas potências capitalistas ocidentais que ali tinham garantia da ação libertina de suas corporações privadas e onde o Estado agia abertamente na repressão e desmonte do movimento social organizado e dos partidos de esquerda. Hoje, agem de forma bem mais refinada: não existe a polícia secreta, as ruas não escondem segredos. Mas se mantêm inflexíveis na defesa da estrutura sócio-econômica anterior; na intocabilidade dos interesses das grandes corporações multinacionais ali operando e no alto porcentual de participação dos militares na economia nacional – os mesmos que sustentaram e eram aliados de Mubarak.
Em outras palavras, garantem uma “transição tutelada” que ainda não conseguiu sequer assegurar o surgimento de regimes democráticos, mesmo no sentido de uma democracia liberal típica do ocidente. Claro, existe a compensação simbólica da abertura da fronteira de Gaza. Mas sem nenhuma mudança fundamental no posicionamento em organismos internacionais sobre as atrocidades de Israel na região.
E é compreensível que tão pouca coisa tenha mudado. Porque, para além do julgamento dos repressores às manifestações da Praça Tahrir, poucos itens a mais existem como pólo de unidade da frente de oposição, a despeito dos esforços de uns poucos segmentos mais politizados. Depois de tanto tempo desestruturado, o movimento social, fragmentado, sem partidos de esquerda representativos, destruídos pela cooperação entre os militares traidores de Nasser e os interesses políticos da Irmandade Muçulmana, tinha limites estreitos de conquista. Mas, o que é positivo, foram bem mais longe do que os movimentos similares no Catar, Jordânia, Iêmen, Bahrein e Arábia Saudita, onde o status quo se manteve quase na íntegra, com a manutenção dos mesmos capatazes do imperialismo à frente destes diversos governos.
Para quem testemunhou, ao vivo ou a cores, as expectativas e os momentos dramáticos que marcaram processos de grande mobilização no final dos anos 60, na Europa e na América Latina, onde verdadeiras revoluções pareciam estar batendo à porta, não foi difícil concluir que só por ingenuidade alguém imaginaria que estamos diante de processos revolucionários – seja no sentido marxiano do termo, seja naquele consagrado pelo pensamento social do século XX. Mais grave ainda, exigir que fossem movimentos revolucionários capazes de, para além de governos, terem a capacidade de derrubar regimes.
Que fique bem claro: não estamos, com tais premissas, tentando propor apenas mais radicalização. Entendemos, sim, que movimentos sociais, por si, muito pouco podem obter de conclusivo no mundo de hoje por absoluta incapacidade deliberativa. A não ser que consigam uma ruptura ideológica no bojo das Forças Armadas, pelo que podem partir para uma total desconstrução do regime vigente, é dentro da luta institucional que conseguirão as condições capazes de assegurar transformações mais profundas.
E nesse contexto é que devemos propor a análise de perdas e ganhos dos processos, sabendo identificar as características específicas de cada um deles, e admitindo que, em determinadas circunstâncias, somos obrigados a nos localizar no “menos pior” para a solução de conflitos, mesmo que isso nos desagrade. Quem tem tradição na luta democrática como determinante, na busca estratégica do socialismo, não tem problemas em afirmar que a oposição à hegemonia imperialista pode ser o determinante. E é isto, por exemplo, que está em jogo na diferença de tratamento que devemos dar aos casos da Líbia e da Síria, hoje transformados em alvos principais, depois que os ataques e ameaças ao Irã resultaram em absolutamente nada.
Todos louvamos a independência do governo brasileiro com respeito ao governo Ahmadinejad, enquanto o Departamento de Estado americano, a União Européia e todas as forças reacionárias do mundo – as mesmas que não se vexam em tratar o sionismo xenófobo de Israel como vítima do “terrorismo” palestino – se empenhavam em garantir a sobrevivência de uma oposição laica, porém pró-imperialista e até saudosa da ditadura Pahlevi. Por que agora parte da esquerda não se manifesta diante da flagrante omissão do governo de Dilma diante das assumidas pretensões intervencionistas das potências ocidentais na Líbia e na Síria? Pior que isso: não será difícil encontrar quem ache que o Brasil deveria, a exemplo das potências imperialistas, romper imediatamente relações com o governo sírio!
Ahmadinejad era algum modelo de revolucionário que nos pudesse servir de exemplo? Nem de perto. Mas era alvo do imperialismo exatamente por não compor com o governo israelense. Agora, diante do fracasso da investida inicial, ninguém fala mais do perigo nuclear no Irã, e as baterias se voltam para outros alvos - Kadafi, na Líbia, e Bashar Al-Assad, na Síria. Principalmente este último, por conta do empenho da quadrilha familiar que se apropriou da Arábia Saudita – a monarquia Saud, sócios históricos do complexo industrial-militar-petrolífero ianque. A partir da Arábia Saudita, a elite econômica sunita, inimiga dos alauítas, minoria popular a qual pertence Assad, é armada e estimulada à violência contra o regime sírio, que, a bem da verdade, responde na mesma moeda.
E como se comportam agora os mesmos que não tiveram problemas na defesa de Ahmadinejad? Inverteram o rumo para o sentido oposto, e se somaram àquela parte da intelectualidade social-democrata européia, a mesma que embarcou no apoio ao caráter “humanista” da intervenção da OTAN nos Bálcãs, cujas seqüelas trágicas estão até hoje alimentando a violência naquela região. Embarcam, in extremis, no apoio aos bombardeios sobre Trípoli e não se questionam sobre que tipo de opositores se levanta contra os hoje decrépitos Kadafi e Al-Assad. Dão toda credibilidade àquela verdadeira quadrilha que caracteriza o comando rebelde de Benghazi, ou aos mercenários provocadores sunitas, armados e financiados pelos sauditas.
Pois deveriam ler o documento do Partido Comunista Sírio, opositor pela esquerda ao governo sírio, mas que não se mistura com a parte da oposição manipulada pelo exterior e que recebe toda a cobertura para qualquer informação que “uma fonte não identificável” fornece sobre massacrantes ataques das forças leais ao governo.
Em ambos os casos estabelece-se a questão: a esquerda revolucionária mundial ganha ou perde com a vitória das intervenções “humanitárias” agora localizadas na Líbia e em parte mínima da Síria? Quem se beneficiará com a queda dos dois ditadores – tais como são qualificados Kadafi e Assad pelas ditaduras do capital neoliberal ocidental?
Essa é a questão a responder pelas esquerdas racionais, conscientes de suas limitações e das possibilidades de avanço real na conjuntura presente do norte da África e do Oriente Médio. Que eixo-referencial deve nos orientar? Aquele que obriga tais regimes a reformas que impeçam o avanço do neoliberalismo, consciente do enfraquecimento desses países diante do fim da polaridade EUA-URSS? Ou a submissão a conceitos virtuais de uma democracia liberal, na verdade traduzidos em recolonização explícita desses territórios, através de beleguins locais?
Mais cedo ou mais tarde, a história cobra sua conta. O absurdo apoio às “reformas” de Gorbachev na URSS, que culminaram na restauração capitalista controlada pela máfia pró-Washington, ou a entusiasmada defesa em torno da “revolução” que culminou com a unificação das Alemanhas em uma única potência capitalista, deveria servir de lição àqueles que ora outorgam sua solidariedade aos mercenários de Benghazi. Isso porque, tanto na Líbia quanto na Síria, é isso o que está em jogo. Existe uma oposição progressista, pequena e débil, e outra que se consolida no apoio externo, na intervenção direta – por financiamento econômico e militar. Misturar as duas, para se identificar com a segunda, é o que não podemos fazer. E isto, lamentavelmente, é o que parece prevalecer em certas correntes que têm por hábito superestimar avaliações, a despeito de todas as frustrações que já constataram.
Não se trata, para a esquerda racional, de se identificar com Kadafi, Assad ou Ahmadinejad. Mas trata-se, isso sim, de não permitir ao imperialismo ianque e seus acólitos conservadores da União Européia de recuperarem o terreno que perderam nas intervenções criminosas do Afeganistão e do Iraque.
Mas por força da limitação de espaços: o que, então, a esquerda socialista e democrática deve tirar de todas essas experiências que não são, na forma, sequer originais e nem as mais profundas?
Antes de tudo, a conclusão de que, no mundo atual, mais que tudo há que se lutar pela garantia de melhores condições para a luta de massas. Isso passa pela organização de instrumentos políticos a serviço das transformações, profundamente comprometidos com as causas democráticas e orientados por uma estratégia de superação do capitalismo – precisamente o que têm faltado, por exemplo, aos jovens indignados da Europa. Para isso, criar condições à ocupação de espaços nas instituições do Estado burguês que pretendemos desconstruir é um elemento decisivo. Ou seja, não ter medo de ampliar as forças para dentro do campo do inimigo (qual o efeito, por exemplo, da existência de uma frente política com influência de massas na Tunísia diante dos processos que lá tiveram sua origem?).
Nessa batalha também podem ser forjadas operações deliberativas eficazes, em forma de lei, para combater as próprias leis. Diante disso, há os que dirão “Ah... mas não temos forças para isso. A direita sempre dominará as famigeradas instituições republicanas”. Sempre, não. As contradições entre eles já nos levam, no Brasil, a visualizar a possibilidade concreta de pôr fim, por exemplo, ao financiamento privado de campanhas eleitorais, com o que as possibilidades dos socialistas se alteram para melhor.
E se não tivermos forças para aumentar a representação parlamentar, muito menos teremos para nos impor por vias alternativas mais significativas quando as condições históricas e conjunturais assim o exigirem. Esse talvez seja um dos grandes ensinamentos das revoltas no Magreb e Oriente Médio: advogar por um acúmulo de forças que gere condições para as mudanças que defendemos é muito mais eficaz que comemorar qualquer centelha que, longe das condições adequadas, jamais poderá incendiar a pradaria.
Milton Temer e Juliano Medeiros são membros do Diretório Nacional do PSOL.
O primeiro, jornalista e ex-deputado federal. O segundo, Editor do site internacionalista Unamerica e ex-dirigente da UNE.
Comentários
Conciordo com as suas afirmações sobre cenário internacional, mesmo que não tenhamos simpatias pelas conduções países como o Irã, Líbia, etc..
A mesma análise pode ser feita em relação àos movimentos recentes na Europa, nenhum deles com uma bandeira ideológica mais à esquerda, parecendo todos órfãos desesperados da social democracia, que não irá mais voltar, ao menos como era antes, pois ela está mais à direita do que há 20 anos atrás.
Espero que Milton Temer e Juliano convençam seus pares dirigentes do PSOL, que saudaram os acontecimentos no Oriente Médio e Norte d'África como "revolucionários". Foram muitos os textos emitidos pela sec. de relações internacionais, escrito pelo Antônio Jacinto Indio e apoiado pelo Roberto Tubaína, Kenzo Juká e outros dirigentes psolistas.
Assim, vamos então ao outro ponto da pauta que vocês nos colocam: Partido ou não Partido, eis a questão!
De minha parte, não tenho a pretensão exatamente de combater os Partidos, apenas combater as prátiicas perversas que muitos executam, pela distorção ideológica que diz “os Partidos são a forma superior de organização política”.
Em Niterói, por exemplo, seus companheiros do ENLACE e CST desmontaram um alvissareiro Comitê dos Desabrigados das Chuvas, porque resistíamos a ser correia de transmissão e servos daqueles que se dizem vanguarda, que tudo faziam para que o PSOL e não os Desabrigados fossem os protagonistas sociais e políticos. Mais ou menois quando os funcionários defendem seu chefe, como garantia de emprego.
Para isso, usaram de todos os artifícios que me lembraram muito a tchurma do MR-8 da década de 70, de triste memória e o filme A Onda, sobre fato real.
Imprecaram contra voluntários e deasbrigados independentes, fizeram todo o tipo de aparelhamento das reuniões com suas pautas propositadamente tergiversadoras, utilizaram até de uns jovens musculosos e sem cérebro de um tal MTD Nacional, que não tem Base em lugar algum, a não ser no gabinete do Marcelo Freixo, atuando eles com o uma verdadeira milícia, ameaçando companheiros fisicamente, seqüestrando 20 mil números de um jornal, afinal não distribuído e sabe-se lá onde enfiaram.
Por fim, cooptaram com promessass de candidaturas, dando lanches, dinheiro e chamando as desabrigaqdas para fazer faxina na casa de quem se diz bolchevique, para angariar a simpatia deste sofrido e enganado Povo. Agiram de má fé, imprecando contra companheiros e companheiras que ajudavam a condizir o Movimento com bastante visibilidade.
O resultado já era de se prever: O Comitê dois Desabrigados de Niterói feneceu e está enterrado no0 DCE da UFF, com o líder “escolhido” pelos militantes do PSOL caído em desgraça e, pior, gerando um vazio prontamente ocupado por “representantes” pró governo.
Os ASPONES do Marcelo Freixo nada perderam, pois abandonando Niterói para ser famoso no Rio com sua candidatura á prefeitura carioca, “a forma superior de organização política” deixou Niterói em Terra Arrasada, em um ato de irresponsabilidade que jamais tinha presenciado de forma tão aparente.
Hoje, o processo eleitoral em Niterói, por incrível que pareça, começa e termina em Jorge Roberto Silveira, tendo o Marcelo Freixo arranjado uma "forma superior de fazer política. O PSOL se confiasse mais nos que estavam no Movimento não faria papel tão iníquo.
Poderiam ao menos, não combater o único vereador do partido, o Renatinho que, embora não seja um bolchevique de carteirinha, cumpre com muita dignidade o seu mandato, mas tendo como forte opositores esta militância arrogante e anti revolucionária.
Assim, Milton Temer e Juliano, insistir que nosotros façamos claque para este tipo de banditismo político e ainda por cima com uma análise da conjuntura internacional que beira o ridículo (vejo que és minoria no Partido com a sua análise), é um pouco demais para mim.
Mas, o principal ponto é, a meu ver, algo que diz respeito a uma pergunta que tenho lhe feito no programa Faixa Livre: Qual é a base social do PT que queres seduzir para o PSOL?
A sua insistência em colocar a Ação Eleitoral e parlamentar como o centro do eixo de luta “para ocupar espaços”, a meu ver, diz respeito justamente à incapacidade desta militância partidária ir às bases. Vivem de debates e negociações com o extrato de dirigentes sindicais e outras associações, como se eles fossem as bases, e não dirigentes em aparelhos loteados entre partidos, como realmente são. Ou seja, um discurso e práticas endógenas e superficiais.
A base que eu vejo necessária de se alcançar, só se alcança sem que ternhamos de ir a ela “profissionalmente” para “operar a política”.
Para grande parte de seus companheiros de Partido, o Povo é apenas um detalhe (tal e qual a direita acha). Este Povo só vai se levantar, se for tocado em seus locais de moradia e trabalho, e não em aparelhos de bacanas e inteligentes que, em mais um desvio pequeno burguês, acabam lutando para reproduzirem seus empregos e fazem da política possibilidades empregatícias. Afinal, são humanos, ou não?
Assim, Milton Temer e Juliano, “devagar com o andor, que o Santo é de barro”.
Achar ótimo que o dep. Chico Alencar tenha sido eleito novamente pelos jornalistas, o parlamentar mais atuante, faz quem acha isso o máximo, carregar a mala do Romário que foi eleito o quarto parlamentar mais atuante, só porque fez um discursinho contra o prefeito Eduardo Paes, contra o qual será candidato. Que fiquem o Chico Alencar e o Romário a se deliciarem com este tipo de votação. Eu não.
De minha parte, com esta experiência psolista em Niterói, eu que vinha votando nulo para cargos executivos, mas marcando um voto parlamentar (nem fazendo campanha para o Marcelo Freixo conseguimos satisfazer os pseudo comunistas de seu gabinete...), creio eu estar mais próximo ainda do Voto Nulo completo, ocupando-me em trabalhar a idéia que Um Povo Bem Organizado Socialmente poderá influenciar mais do que dependendo de parlanentrares nem sempre confiáveis e com interesses muitas vezes totalmente afastados “das bases”, preocupados em fazer cumprir os seus manuais do século retrasado, como se ali estivéssemos, neste 2011. Imagina se eu vou votar em uma Luciana Genro, para ela pedir dinheiro ao Gerdau....(sei que, no fim das contas, não negarei meu votop ao Renatinho, ainda mais pelas injustiças que sofre de seus compaheiros psolistas).
Lembre-se que foi fazendo ferrenha oposição ao FHC que o MST conseguiu representatividade popular inconteste, até que começou a afrouxar com Lulla. Deu no que deu.
No seu presente texto volta-se a essa tecla. Não tenho nada contra essa tática política como um dos meios de enfrentamento do capital. Aliás, o próprio Lênin também não tinha. O problema é o que fazer dentro do meio institucional burguês. Não creio que apostar na disputa interna com os agentes representantes das elites burguesas (“ampliar forças para dentro do campo do inimigo”, “operações deliberativas eficazes”, “aumentar a representação parlamentar”), como sugere Milton Temer, seja um “elemento decisivo”.
Na prática, essa disputa (por exemplo, feita pelos parlamentares do Psol), tem sido, isso sim, um elemento importante para a legitimação da farsa da democracia burguesa que aí está, um dos grandes meios pelos quais se vem fazendo o controle ideológico das massas. Já tive ocasião para apontar essa minha avaliação a um parlamentar amigo, psolista do RJ, de grande e valorosa atuação, em reunião de avaliação do mandato.
Na minha opinião, investir no meio institucional burguês só se justifica se for para utilizar a “máquina” como um instrumento para a organização popular. Isso não é o mesmo que tornar o mandatário um “representante” do meio popular na instituição, como, no máximo, têm se resumindo a fazer os considerados parlamentares de esquerda. Não que essa função “representativa” não deva ocorrer também, mas não deve se resumir ou se centrar nisso. O papel da militância de esquerda no meio institucional burguês deve ser o de voltar TODOS os recursos disponíveis (materiais, humanos e simbólicos) na direção do estímulo às iniciativas de mobilização das bases em prol de lutas concretas. Atualmente, os mandatos parlamentares, considerados de esquerda, no máximo, posicionam-se como “apoiadores” de eventuais iniciativas populares, no falso argumento de que “não podem suprimir a autonomia política das bases”. É a forma encontrada para poderem legitimar sua atuação centrada nas disputas internas, compactuando com a lógica dominante.
Acredito que não é só e nem tanto pela ocupação e intervenção, no meio institucional burguês, em contraponto à agenda da direita, que os setores da esquerda hoje podem atuar como “elemento decisivo” para a construção das condições da transformação. Se, hoje, não há uma ambientação favorável para revoluções iminentes, isso não quer dizer, como concluir Temer, que “é dentro da luta institucional que (os movimento sociais) conseguirão as condições capazes de assegurar transformações mais profundas”. Nada mais enganoso do que essa afirmação. Até porque tem sido justamente à prática dessa tática (que, em muitos casos, já virou estratégia) - em suma, voltar-se para a conquista de mais espaço nos meios institucionais burgueses - que, nos últimos trinta anos, os movimentos sociais, como um todo, vêm se dedicando. O resultado tem sido o que vimos hoje em grande escala: a total cooptação da esmagadora maioria desses movimentos à lógica da política dominante burguesa (a ascensão de Lula e do “petismo”, representou justamente a concretização disso).
No meu entendimento, há uma gama de meios de atuação política direta através dos quais hoje os movimentos sociais podem se constituir e fortalecer as condições concretas da luta popular pelas mudanças estruturais, de modo, inclusive, a envolver e obrigar os meios institucionais burgueses a ir cedendo os anéis para não perderem os dedos.
Ou seja, é justamente a direção inversa proposta por Temer. As condições, para isso, estão aí aguardando o surgimento de um movimento de vanguarda realmente disposto a iniciar esse trabalho.
RINALDO MARTINS DE OLIVEIRA
Quanto à análise de conjuntura esboça, é preciso apontar alguns a perniciosidade de algumas das suas posições. Especialmente quanto à caracterização do revolta síria. Ora, afirmar que abrir fogo contra civis desarmados em protesto pelo fim de uma ditadura sanguinária é responder na mesma moeda é uma afirmação de uma leviandade e estupidez inacreditáveis! Outrossim, desacreditar inteiramente os rebeldes líbios em vista das dificuldades e das incertezas é desdenhar da capacidade daquele povo em assumir as rédeas de seu próprio destino. Vocês são contra a intervenção, mas, ao mesmo tempo, negam a capacidade do povo líbio de autodeterminarem-se. De resto, a intervenção em si não é insidiosa, nefanda, o problema decorre de que os fins apresentados para justificar a intervenção são apenas aparentes; os verdadeiros objetivos são canalizar a formação do novo governo no sentido pró-ocidente e, de quebra, levar muitos contratos econômicos. E aqui tocamos num terceiro aspecto problemática da argumentação de vocês: ou gostaria de compreender onde vocês vêem "recolonização" na intervenção da OTAN. Por acaso Kadafi já não havia recolonizado a Líbia em favor das grandes corporações iaques e europeias? Não era ele o queridinho da América no norte da África?
Em suma, a posição de vocês não escapa a recair, em última análise, na defesa das ditaduras sanguinárias e pró-ocidente em xeque pelos movimentos populares daqueles países, achando que com isso se está lutando contra o imperialismo.
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