Correio da Cidadania

Lembranças da juventude

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Tinha precisamente 22 anos de idade quando foi perpetrado o golpe contra-revolucionário de 1964. Apesar da pouca idade, já somava seis anos de intensa militância socialista com passagem pela tentativa de guerrilha no norte de Goiás em 1962 e pelo enquadramento na Lei de Segurança Nacional, no mesmo ano.

 

O golpe não me pegou desprevenido. Pertencia a um núcleo político que denunciava a iminência de um Golpe de Estado de caráter contra-revolucionário. Esbravejávamos a todo pulmão: o golpe vem aí! E o velho PCBão respondia: isso é coisa de vocês jovens que não têm experiência histórica; nós do PC, em aliança com os progressistas, estamos seguros de que o nosso glorioso Exército Brasileiro é democrático e não atentará contra a nossa Constituição.

 

Por sua vez diziam eles: temos um dispositivo militar de natureza anti-golpe, comandado pelo nosso companheiro, general Assis Brasil, e caso eles ousem atentar contra a legalidade, saberemos reagir e resguardar todo o nosso processo democrático.

 

Poucos meses depois assistimos à confirmação de nossas previsões e o velho PCBão deixou de lado suas bravatas e sumiu. As únicas forças políticas a reagir ao golpe foram Brizola e os marinheiros e fuzileiros navais. O resto desertou.

 

Após o golpe, eu e o meu grupo nos sentimos isolados. É quando surge, liderado por Roberto Carlos, o movimento da Jovem Guarda, cujo objetivo era arregimentar a juventude que se encontrava na orfandade política para suas músicas de falsos protestos na medida em que eles se limitavam ao uso de cabelos grandes e fivelões, como forma de afrontar os valores estéticos predominantes.

 

A Jovem Guarda, que logo se alastrou Brasil afora, foi uma jogada de mestre patrocinada pelos novos senhores do poder. Somente bem depois se esboçou uma reação a esse movimento, quando floresceu o movimento musical levado adiante por Chico Buarque, Nara Leão, Gilberto Gil e outras estrelas que apontavam uma saída alternativa ao elitismo e alienação que representavam a música da Jovem Guarda. 

 

Gilvan Rocha é membro do CAEP - Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Website: www.gilvanrocha.blogspot.com/

 

Comentários   

0 #2 lembrançasRaymundo Araujo Filh 30-08-2011 19:28
Na verdade, a luta que se travava não era entre a Joven Guarda e o grupo de Chico Buarque e outyros.

A "luta" (com algumas sequelas e inimizades)que se travou, como bem descreve Caetano no seu Verdades Tropicais, foi entre o pessoal tropicalista e o grupo de Chico, Geraldo Vandré, entren outros. Sem deixar de ter havido uma reação do pessoal da MPB para a superação da Jovem Guarda.

Sobre o goolpe, façamos justiça também a Octávio Brandão que, de forma infrutífera, alertou para o Golpe em curso, em três artigos no jornal A luta Democrática (acho que era do Tenório Cavalcante), em 1961, 62 e 63.
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0 #1 RE: Lembranças da juventudeAugusto de Almeida 25-08-2011 18:05
Gilvan, caríssimo,acho que você confunde as coisas. Desculpe, mas sou pós-novos-baianos e a sua visão das coisas não bate com a minha. Não estou falado no sentido ideológico (pode ser que aqui tenhamos desavenças, mas não é disto que estou falando), mas no sentido histórico. Talvez eu esteja errado, mas você dizer que a luta política se deu entre o RC e o pessoal da "música de protesto" (na época, o Chico, a Nara e etc) me parece um pouco demais. Por acaso a luta política estava sendo travada nos festivais de música da televisão? Se era esse o caso, concordo em parte com você, apesar de achar que limitar a luta política a festivais de canção patrocinados pela Mídia uma coisa ridícula. Mas se por luta política podemos entender alguma coisa mais ampla...
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