Movimento sindical dá um passo à frente e dois para trás
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- Júnia Gouvêa e Jorge Luís Martins
- 22/05/2012
Abril de 2012 corre o risco de ficar na memória como o momento de um revés importante para a classe trabalhadora brasileira. Realizaram-se no Rio de Janeiro e em Sumaré (São Paulo), na segunda quinzena do mês passado, dois encontros de diferentes dimensões, composição e grau de unidade, mas com o mesmo e trágico significado: a consolidação da divisão do movimento sindical combativo brasileiro em duas organizações diferentes.
No Rio de Janeiro, entre 20 e 22 de abril, sob a justa bandeira da luta contra a criminalização dos movimentos sociais, encontraram-se cerca de 500 lutadores da atual Intersindical, das correntes MTL e MES, TLS (Trabalhadores na Luta Socialista) e Unidos para Lutar do PSOL, além de MAS (Movimento Avançando Sindical). Ao fim da reunião, além de votarem um calendário indicativo de lutas e um programa para a ação, resolveram criar “uma mesa de diálogo permanente” entre as correntes que “não estão em nenhuma central”.
Em São Paulo, entre 28 e 30 de abril, a CSP-Conlutas, na qual têm folgada maioria os sindicatos e oposições dirigidos ou influenciados diretamente pelo PSTU, reuniu em seu 1º Congresso Nacional 1.800 delegados, de diversos sindicatos, movimento popular e estudantil. Além de separados, nenhum dos dois encontros deu sinal, nenhum tímido sinal, de lamentar a divisão de 2010 e ensaiar algum gesto de reaproximação, ainda que cuidadosa.
É indiscutível que ambos os encontros, pelo simples fato de reunirem dirigentes e lutadores e permitirem pautas comuns e um mínimo de articulação entre estados e categorias, tiveram resultados pontuais positivos para alguns setores. Afinal, alguma articulação é melhor do que nenhuma. O Congresso da CSP-Conlutas e o Encontro dos Lutadores realizado no Rio de Janeiro, por certo, sem entrar no mérito, aprovaram resoluções importantes. Mas é preciso fazer uma avaliação política do significado da divisão (comparando-se os dois encontros com um encontro unitário, se tivesse ocorrido), diante da força do sindicalismo oficial cooptado pelos governos Lula-Dilma.
A CSP-Conlutas se consolida também como um importante setor do movimento combativo. Mas sua maioria, do PSTU, foi a principal responsável pelo episódio que impôs a divisão no Conclat de Santos, há dois anos. O congresso de Sumaré teve, agora, a oportunidade de esboçar um gesto pela unidade, quando a representante do Andes-SN propôs que se rediscutisse a questão do nome da central – o lamentável mote da divisão em Santos – e a direção da CSP-Conlutas; no entanto, negou-se a dar este passo e sequer chegou a esboçar um balanço do Conclat, como se este simplesmente jamais tivesse acontecido. O mesmo se deu na reunião do Rio de Janeiro. Nenhuma referência ao Conclat, nenhum balanço, nenhuma resolução sinalizando sequer a necessidade genérica da unidade do sindicalismo combativo. Assim, lamentavelmente, começa a se cristalizar entre os lutadores desses dois setores históricos da resistência combativa a lógica da divisão como algo inevitável.
Assim, os dirigentes da esquerda socialista, sejam do PSTU, sejam das correntes do PSOL, sejam do PCB, sem falar evidentemente da ASS – todos do mesmo e importantíssimo campo político nesse debate de recomposição necessária –, levam para o terreno do movimento sindical a experiência de divisão, que já estão implementando há algum tempo no âmbito da participação eleitoral. Ou seja, também no terreno das lutas, deixam a bandeira socialista pulverizada em várias alternativas e enfraquecida aos olhos dos trabalhadores e do povo. Pois não é verdade que dá na mesma estarmos divididos ou não. Todos os que militam no cotidiano dos movimentos sabem bem que a divisão é um obstáculo real, que, dividido, o movimento perde amplitude e potencialidade. Basta ver o último 1º de maio, onde, depois de mais de uma década em que a esquerda socialista esteve unificada, se dividiu em duas manifestações, o que é mais um desastre e vitória da fragmentação em curso.
Há, no entanto, algo mais grave quando a divisão acontece na organização sindical dos trabalhadores. Não somente porque se torna um obstáculo a mais, além do patronal e seus ataques, às vitórias da classe. Quem está ignorando ou menosprezando a divisão da classe, e mais ainda investindo nela, está fazendo exatamente o planejado pelos governos patronais desde FHC, passando por Lula e agora Dilma – cuja política é uma central para cada partido. Está, portanto, adaptando-se à “institucionalidade sindical” desejada por governos e patrões, iniciando um amoldamento ao regime do movimento sindical combativo.
O retrocesso, de 2010 para cá, no caminho da unidade dos socialistas e ativistas combativos numa mesma organização sindical é tão mais grave quanto mais se é consciente das lutas que podem vir por aí. Afinal, quem garante, diante do atual quadro internacional, que o crescimento e estabilidade de hoje se manterão? Quem garante que, no primeiro sinal de desequilíbrio nas contas e lucros, dona Dilma, banqueiros, industriais etc. não venham mais uma vez descontar nos nossos empregos, salários, pensões, aposentadorias, orçamentos da educação e saúde? Prestemos atenção na Europa...
Nesse quadro particularmente difícil, cabe aos militantes e dirigentes sindicais conscientes desse fracionamento nocivo se negarem a cristalizar a divisão. É necessária uma intensa batalha de convencimento político de todos os setores combativos para tentar reverter essa situação. Primeiro incentivando as lutas e sua unificação, independentemente da força da esquerda socialista que conduza cada conflito. E também defendendo ou voltando a defender, em todos os espaços em que nossas entidades participem, a construção de uma central sindical antigovernamental e unitária, compreendendo que as organizações atuais do movimento sindical e popular são todas insuficientes para o enfrentamento necessário ao capital e seus governos (razão pela qual devem ter todas um caráter transitório). Importante lembrar que várias categorias profissionais já aprovaram resoluções neste sentido no último período, o que ainda não tem sido capaz de sensibilizar a cúpula sindical das organizações.
Não é de forma alguma impossível reverter a divisão. Não é nada impossível retomar desde já a luta pela unidade da classe, pela base, nas mobilizações já em curso, e com uma plataforma política comum. Afinal, grande parte das resoluções do encontro do Rio coincide com a maior parte das resoluções do Congresso da CSP-Conlutas. Um movimento nacional pela base, pela unidade, com essa plataforma comum, pode ser um forte pólo de atração para uma nova geração de trabalhadores que estão começando a se mobilizar.
A natureza e o perfil das grandes mobilizações ocorridas na Europa e no mundo árabe mostram o quanto o capitalismo é questionado e quanto é possível um novo mundo – socialista quem sabe. Mas, para que esse novo mundo se construa, a classe trabalhadora precisa se constituir em si, na luta unitária, e para si, na consciência da sua força independente. É esse o sentido histórico da luta pela unidade.
Júnia Gouvêa é trabalhadora da previdência social; Jorge Luís Martins é advogado trabalhista.
Comentários
quem iniciou o processo de divisão da luta desde o início do conclat foi os pstu que já chegou no congresso em santos com delegados suficientemente para derrotar tudo e todos na força dos crachás (que têm denúncia de práticas a la UJS na distribuição, basta ver um exemplo de um militante de Uberlândia que participou do congresso com um crachá de outro militante...). afinal, mesmo apesar do desgraçado vício dos trotkistas se dividirem até entre eles, aquele congresso já estava fadado ao fracasso pelo simples fato do pstu não compreender que não deveria ter disputa alí, era a unidade que estava em jogo e não a hegemonia de algum partido político no movimento operário.
vida curta aos trotskistas!
vida longa à revolução socialista!
A crise de divisões do movimento sindical, não passa de um reflexo deste aparelhamento, pois os partidos querem por que querem que "as suas bases sindicais", devidamente manietadas sejam logradouro (ou valhacouto) de votos para seus "excelentes candidatos".
Não tenho dúvida quer este processo começou com a insistência de Karl Marx em tornar a I Internacional como um instrumento dos trabalhadores socialistas (= Marxistas) exortando o ódio e a segregação de combatentes anarquistas das Internacionais.
Lênin, Trotsky e os Bolcheviques radicalizaram esta postura expurgando, perseguindo e assassinando Anarquistas (Todo Poder aos Sovietes, lembram-se?) como se fossem leprosos políticos, trazendo para os "Gênios" do Estado Soviético (Stálin estava entre eles)a condução dos destinos dos trabalhadores.
Como no Brasil, a tradição da esquerda é quase toda ela Marxista Leninista Trotkista e Penduricalhos, escravos da cultura política européia, colonizados portanto, aqui se dá o mesmo, e com um tom indisfarçável de Farsa Política.
Aquerles que querem aprender um pouco sobre o Sindicalismo Autêntico no Brasil, que estudem os acontecimentos do início do seculo XX, e mais recentemente da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo.
Recomendo que visitem a página da Moviola Presa Produtora Cultural Independente (moviolapresa.multiply.com) e se informem sobre o Documentário Waldemar Rossi e Maria Célia Vieira Rossi: A História Por Quem a Faz.
Os interessados em adquirir uma cópia autografada pelos dois, escrevam para moviolapresagmail.com
É lamentável, mas parece consolidada a divisão, eu fico pensando quais as intenções do PSTU, serão as mesma do PT? Ou seja, confundir a central com o partido para depois justificar a cooptação como governabilidade? E o PSOL, vai esperar dividir mais ainda para depois dizer que é impossível unificar? Se queremos construir algo diferente, terá que ser realmente diferente: por que não nos desprendermos desses espaços formais e nos embrenharmos nos locais de trabalho, sem hipocrisias? vamos ver o que os trabalhadores acham disso tudo e teremos uma bela surpresa: estamos desacreditados nas bases, para eles, somos todos iguais e a resposta é o esvaziamento das entidades sindicais e o refluxo dos movimentos a partir da referência sindical. Nas manifestações das muitas lutas acontecidas no Piauí, os lutadores e lutadoras, trabalhadores, exigem a retirada de bandeiras do PSTU, o que isso significa? Eu diria que esses dois encontros de trabalhadores separados só reafirmam a descrença, em nós mesmos, enquanto dirigentes das organizações da classe trabalhadora. Se não conseguimos unificar entre nós, um punhado de gente, como sonhar com uma unidade da classe? Ou abrimos da falsa hegemonia ou estamos fadados a mais e maiores fracassos e divisões. Começar de Novo, pois a pressa nos ensina a andar devagar.
Retrata com muita propriedade as movimentações desastrosas feitas pelos setores mencionados acima.
Vamos juntas/os nessa tentativa de unificar numa única central todos os campos combativos anticapitalistas para enfrentarmos o perverso sistema.
bjs
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