“Podemos ter cidades mais sustentáveis, menos caras e com maior qualidade de vida para todos”
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- Gabriel Brito, da Redação
- 30/08/2024
Se a eleição de São Paulo ganhou amplitude nacional em função da popularidade angariada pelas redes sociais de um candidato, talvez seja a cidade de Porto Alegre o cenário dos debates fundamentais dos próximos anos. Não tanto pela polarização entre um candidato de direita (o atual prefeito Sebastião Melo) e outra de esquerda (Maria do Rosário), mas pelo fato de a cidade ser epicentro da devastação causada por eventos climáticos extremos e a evidência de se adotar urgentemente medidas de prevenção e adaptação climática que exigem uma ruptura com os dogmas de mercado.
É esse o escopo da entrevista que o Correio publica com Vicente Rauber, engenheiro e ex-diretor do Departamento de Esgotos Pluviais, extinto e com equipe precarizada nas gestões neoliberais de Nelson Marchezan e Melo. Rauber fez parte do grupo de engenheiros que apresentou ainda nesta gestão Melo um PL que recria o DEP em novas bases, além de oferecer suporte técnico para o programa de governo de Maria do Rosário. Além disso, é enfático em rechaçar o discurso de Estado mínimo e privatizações na gestão pública.
“Temos que negar os negacionistas, não só os pseudocientistas, mas especialmente todos aqueles que influem fortemente em nossa vida, governantes, legisladores, sistema judiciário, dirigentes privados, que não só agem a favor da destruição da natureza como pouco fazem para a sua recuperação. A destruição de estruturas públicas essenciais é uma de suas lamentáveis marcas”, atacou.
Ao comprovado abandono das tarefas essenciais deste órgão pelas referidas gestões, soma-se a destruiçãoo da legislação ambiental pelo governo do estado, em perfeito compasso com a orientação antiambiental do governo Bolsonaro e seu ministro do meio ambiente Ricardo Salles. Como dito em entrevista anterior ao Correio, é hora de o estado reassumir suas obrigações e, mais que isso, aderir definitivamente os acordos internacionais de mitigação do aquecimento global e seu colapso climático.
“A União e os Estados têm muito a fazer. Mas é nos municípios que a vida acontece, então é nestes entes da Federação que poderemos realizar uma verdadeira revolução na vida e recuperar nosso Planeta. É possível, sim, preservar áreas ambientais, produzir reduzindo fortemente a poluição e viver com hábitos adequados. Prevenir é o melhor remédio: dói menos, custa menos e, tenham certeza, é mais eficiente”, explica.
Na entrevista, Rauber explica que o relatório holandês contratado por Sebastião Melo foi só enrolação para dissimular o que especialistas gaúchos, de universidades e órgãos técnicos, já tinham explanado antes. Além disso, destaca que Porto Alegre já foi exemplo de políticas públicas de saneamento, coleta de lixo, prevenção a enchentes e preservação ambiental.
“O município já foi exemplo para o Brasil e para o mundo. Possuía atendimento universal de fornecimento de água potável e caminhava celeremente para a coleta total de esgotos e seu tratamento. A Cidade era limpa e agradável, todo lixo tinha coleta regular e destinação adequada, com aproximadamente 25% de reciclagem. Hoje, as duas autarquias respectivas DMAE (Água e Esgotos) e DMLU (Limpeza Urbana) estão completamente sucateadas para “justificar” a privatização de seus serviços. Falta água toda hora, especialmente nos verões, coleta e tratamento de esgotos praticamente estagnada, coleta de lixo precária e irregular, reciclagem inferior a 3%”.
No fim das contas, nada tão difícil de realizar do ponto de vista técnico. O problema de Porto Alegre é o mesmo de todas as democracias representativas do mundo contemporâneo: o sequestro do estado e seus orçamentos pelo capital privado, que, no fim das contas, é a fonte real de todo negacionismo científico. “Precisamos sim de um novo normal, mas um normal sustentável, em que possamos sobreviver e viver em parceria com a natureza”, simplifica Rauber.
Confira a entrevista completa a seguir.