Direita? Que direita?
- Detalhes
- Gilvan Rocha
- 03/10/2012
É comum ouvirmos comentários de pessoas do PT e do PCdoB, nos seguintes termos: “é preciso cuidar, a direita está à espreita e quer voltar ao poder”. É claro que alguns fazem esse comentário de boa fé. É claro, também, que outros o fazem de má fé. Antes, devemos desfazer um erro.
Governo e poder são coisas diferentes. Como temos mostrado, governos vão e vêm, enquanto o poder (o Estado) é permanente. Os governos têm como função gerenciar, episodicamente, os interesses do capitalismo, ou seja, têm a missão de gerenciar a desigualdade. Quando determinados governos colidem com os interesses da burguesia, são depostos. Os exemplos são fartos e, dentre eles, temos, a ressaltar, o caso do governo João Goulart, deposto por um golpe de Estado, levado a cabo pela burguesia, que soube usar as suas forças policiais e militares.
Fica evidente que o poder é o Estado e suas instituições. Sua função, no capitalismo, é preservar os interesses desse sistema. Os processos eleitorais não põem em disputa o poder, de fato. Não votamos para escolher o Estado Maior das Forças Armadas, nem para o judiciário. Não escolhemos os que exercem funções ditas como de Estado.
Feitas essas observações, voltemos à questão inicial que seria o perigo da direita. Cabe-nos formular uma pergunta: não serão componentes da direita fisiológica os senhores José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, Michel Temer, Fernando Collor, Paulo Maluf? Essa gente não é apenas de direita, como direita eram Ulisses Guimarães, Mario Covas, Franco Montoro, Tancredo Neves... Acontece que esta direita tinha um perfil nitidamente ideológico, enquanto o primeiro grupo citado tem a inequívoca marca do fisiologismo. E não foi com a direita ideológica que o petismo se entendeu, pelo contrário, foi com a escória da direita fisiológica que eles se mancomunaram.
Como, diante desse quadro real de nossa conjuntura política, podemos imaginar que existe uma disputa entre direita e esquerda? É evidente que existe uma acirrada disputa entre um setor da direita explícita contra outro setor de direita, representado, acentuadamente, pelos partidos PT, PCdoB e PSB, o que vem confundindo muita gente. Negar esses fatos significa querer tapar o sol com a peneira. O carimbo de esquerda só se aplica àqueles que, de forma explícita e direta, se colocam em oposição, não aos fortuitos governos, mas ao capitalismo. Isso, sim, é usar, com todo rigor necessário, o conceito de esquerda; o resto é falácia.
Leia também:
Gilvan Rocha é militante socialista e membro do Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Comentários
Assine o RSS dos comentários