O Vietnã
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- Gilvan Rocha
- 06/02/2013
Grande parte dos jovens da década de 60 acompanhou, atentamente, o desenrolar da guerra do Vietnã. Aquele confronto até parecia o embate entre o pequeno Davi e o gigante Golias. Os norte-americanos chegaram a mobilizar, no Vietnã, tropas formadas por cerca de oitocentos mil militares. Além desse grandioso exército, contabilize-se também o grande arsenal bélico que foi empregado contra os guerrilheiros vietnamitas, cabendo destaque para os constantes bombardeios, levados a cabo pelas Forças Aéreas norte-americanas, soberbamente apetrechadas.
Num testemunho de que, como dizia Mao Tsé Tung, a decisão de uma guerra não se deve à natureza das armas, mas sim à natureza da guerra, o povo vietnamita, que lutava pela soberania nacional, contra as tropas ianques, tinha a superioridade moral, pois eles, os ianques, eram os invasores e essa distinção determinaria drasticamente o curso da guerra.
O mundo todo aplaudia a bravura dos vietcongs e inúmeras foram as manifestações de solidariedade àqueles bravos lutadores. Inspirado naquele flamejante episódio, o comandante Che Guevara lançou a palavra de ordem: “um, dois, três... Vietnãs”. Obedecendo a esse apelo, tivemos o empenho de Carlos Marighela em fazer do Brasil um Vietnã, pretensão heroica, porém, fadada ao fracasso, porque, diferentemente dos guerrilheiros vietnamitas, os soldados de Marighela, assim como a sua organização política, a ALN, não tinham vinculações substanciais com as massas populares e, isoladas delas, tornaram-se presas fáceis para a repressão direitista.
Não obstante esses fatos, convém lembrar que estando no exílio em Portugal, junto a outros companheiros, em 1976, foi anunciada a entrada dos vietcongs em Hanói, então capital do Vietnã do Sul. Esse episódio foi motivo de júbilo entre todos nós, exilados. Quando serenaram os festejos, tive a oportunidade de dizer para uma dúzia e meia de companheiros que, após o decorrer dos próximos dez anos, não se ouviria falar no Vietnã, diferentemente do que ocorreu com a Revolução Russa, a Revolução Chinesa e a Revolução Cubana. Isso porque o Vietnã nos deixava como legado apenas o seu testemunho de bravura e alguns ensinamentos militares. O conteúdo político do processo vietnamita limitava-se à guerra de libertação nacional.
Para além de alguns versos alinhavados por Ho Chi Mim, os vietnamitas não produziram nenhuma literatura que pudesse agrupar pessoas em torno de um projeto de transformação. Hoje, quem visita a capital vietnamita tem a oportunidade de ver outdoors com a propaganda de produtos como Cartão Visa e outras ofertas bem próprias do capitalismo. Por sua vez, são inúmeros os vietnamitas que imigram para a vizinha China em busca de trabalho, mesmo mal remunerado. Por essas e tantas outras razões é que a heroica guerra vietnamita tornou-se página virada, enquanto o imperialismo ostenta uma indiscutível hegemonia política.
Gilvan Rocha é militante socialista e membro do Centro de Atividades e Estudos Políticos. Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com